terça-feira, 5 de outubro de 2010

VILA DE SÃO MAMEDE-PB, EM 1930

HISTÓRIA DO SÍRIO SALOMÃO
Trecho transcrito na íntegra do relato do escritor e historiador CORIALANO DE MEDEIROS
SÃO MAMEDE - Em julho de 1930, passava eu em São Mamede, risonha povoação do municipio de Santa Luzia do Sabugy. Fiquei admirado com o progresso do lugar e, mentalmente, o recordei, transportando-me ao ano de 1906, quando ali estive pele primeira vez. Nesse tempo, São Mamede se compunha de duas ou três casas de taipa e telhas e de uma grande latada de ramos de oiticica, bem a margem da estrada que comunica Santa Luzia a cidade de Patos. Sob a latada e no leito da futura via pública, se realizava, semanalmente, uma feira. Esta se incrementou tanto que, em pouco tempo, se acomodava dentro de uma verdadeira povoação. Atualmente esta conta, além de pequenas travessas, uma grande praça marginada de casas no centro da qual se ergue, quase concluída, uma igreja ampla de boa arquitetura, possue ainda duas ruas principais de regular edificação. numa delas se ergue um par de vivendas elegantes em estilo moderno, revelando que o seu construtor tinha recursos, gosto e amor à terra. Eram proprieddes de um Turco - O Sírio Salomão que as edificou com os lucros de sua profissão de comerciante. Levaram-me a ver uma fábrica de facas de ponta e punhais, porém o que mais me chamou a atenção foi o acabamento das bainhas, trabalho caprichoso e delicado, a cargo de uma familia sertaneja composta de marido, mulher e filhas. De volta daquela rústica oficina, mostraram-me numa casa abandonada os vestigios de um ataque de cangaceiros a um delegado de policia. O Assalto se deu à noite, mas a vítima não se acorvadou. apenas auxiliado por uma filha que lhe carregava as armas de fogo, resistiu entrincheirado na sala de visitas. Depois, as portas da rua foram estilhadas a bala, recuando os dois para um quarto de alcova aonde continuaram a deseperada resistência. Os Facínoras gozavam a agonia das vitimas que ninguém, nem mesmo os vizinhos, que ficavam a parede e meio, ousava socorrer. Mas o turco SALOMÃO, que estava fora do povoado, tomou chegada a sua casa e, resolutamente abriu um fogo de flanco contra os assaltantes. Estes redobraram a violência do tiroteio e gritaram para o turco olha que são sessenta cabras e Salomão no seu portugues aperreado respondia arrogante intervalando o pipocar do seu rifle
- é bouco!
- São sessenta cabras, turco, sessenta!
- é bouco... é bouco!
E o tiroteio foi tão cerrado e tão seguro que os cabras abalaram em retiradas, salvando-se o delegdo e a filha cujo nomes lamento ter esquecido. Salomão, verdadeiros elemento do progresso local era admirador exaltadíssimo de João Pessoa.
São Mamede está em excelente posição topográfica revelando-se muito promissora por seu trato comercial. Foi fundada em 1903, por Manoel Augusto de Araújo e em 1762 era fazenda de criação pertencente a Manoel Tavares Bahia.
São Mamede - julho de 1930
Corialano de Medeiros

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