sábado, 12 de março de 2016

CONVENIÊNCIA VERSUS CONSCIÊNCIA

O que vale o povo? A resposta vem do lado mais profundo do sentimento daqueles que amam o povo de quatro em quatro anos numa relação de íntima de distancia, nada!

E o que leva um povo a aceitar a submissão como meio e solução à sobrevivência, se o poder verdadeiro estar ali bem ao alcance da mão de cada cidadão responsável, chamado simplesmente de voto? Essa palavra (voto) com apenas duas sílabas é uma poderosíssima arma na mão de quem tem consciência, resta saber se essa tal consciência existe e se o cidadão pode ser o seu portador.

A consciência reside no palácio da razão que por sua vez a tem como conselheira e confidente. É muito razoável, sempre e diuturnamente, busca-la sem descuidar-se um só momento, pois, para o descuido uma pequeníssima fresta basta para causar danos a uma sã consciência.

Os enamorados do povo não o consideram como o dono do poder, mas como uma massa manipulável sem destino que se alimenta da verdade sem lastro.

O inventou da palavra colocou-se acima do bem e do mal e se considerou um deus. Nada mal para alguém que criou um mecanismo que serve apenas para designar nomes às coisas e se o intento era ser útil com a sua criação foi além, deu a alguns homens o sal para temperar o paladar da mentira.  

Dessa forma, o povo foi dominado, humilhado e escravizado. E, se alguém se oferece para alforriá-lo recebe a paga dos fracos, a santa filha da ganância que se chama de conveniência.

Os monges do atraso por meios de vícios fantásticos perverteram ao longo das décadas a cultura proba dos antigos: a palavra dada tinha força de lei; um fio do bigode uma recomendação acima de qualquer suspeita.


Mas, os apóstolos da deusa do inferno, a política, afirmam que a palavra dada vale menos ainda do que o voto, assim a palavra e o voto se confundem e morrem sem antes se conhecerem para se desejarem uma feliz política. 


O tempo do povo (já publicado)

Quando se evidência o tempo político - lixo fatal na consciência da escolha - nasce da apatia dos eternos descuidados que irresponsavelmente abandona a juventude da cidadania para oferecer literalmente os pulsos às algemas: pobres anjos de barro com suas trombetas de plástico a produzirem sons lamuriosos, apenas dentro do círculo hermético do qual faz parte e no qual recarrega as suas hediondas ambições. Nesse tempo, astutos constroem castelos, anões afrontam gigantes, serviçais desafiam deuses; mas ninguém se dispõe a ouvir o canto surdo dos pigmeus que aos berros falam aos ouvidos abatidos. E dos seios murchos da terra faminta, os inventores da submissão, continuam a se alimentarem das melhores iguarias; já a maioria recolhe as migalhas do banquete: faisão recheado à forestière, no tempo do povo!

O tempo do povo é seu tempo (publicado)

O tempo político é mais pesado do que o ar, e seu peso é como um projétil certeiro que procura sempre a nossa cabeça. E jamais erra o alvo! Para o povo que vive do tempo não há mais tempo, pois a espera pelo tempo morreu na fila do tempo que não teve tempo para o seu tempo. Assim, caminham as barrigas de bolsos vazios, sempre através do tempo quase sem tempo. E passam-se os tempos e os temporais não cessam, faltou-lhes tempo nos dias turvos e nas noites brancas. E o tempo voa pelas trilhas das eras sem asas, buscando o além de si em si mesmo. Enganando-se e massacrando-se, iludindo-se e destruindo-se, até quando? Ora, o ontem é tempo, o hoje é tempo, o amanhã é tempo e tudo é tempo, até sorrir é tempo. A paciência é tempo, a pressa é tempo, a destreza é tempo sem glória; enquanto o sim é tempo, o não é tempo sem história. E o povo? Ah! Este tem tempo sim, mas perde-o sempre com sonhos inúteis e promessas surreais: se eu ganhar esta eu vou ajudar a toda sua família. A vitória chegou sem rédeas e sem focinheira – no tempo. As dívidas com os enganados – esquecidas. Agora já é outro tempo. Esse novo tempo vai precisar de muitos bolsos para guardar-se. Tudo é tempo. A derrota também é tempo, mas até quando? Quando? Não sei. Pergunte ao povo que se quiser pode ser o senhor do tempo.