segunda-feira, 17 de novembro de 2014

AO CRIADOR DO ARMORIAL BRASILEIRO


Qual o mortal capaz de determinar a importância de Ariano Suassuna para as artes do mundo? Existem palavras que expliquem o gênio irrequieto do criador do Armorial Brasileiro? Receio que não. Mas, se por ventura, chegarmos à conclusão de que isto é possível, estamos cometendo um grande erro, imensurável erro! De fato, não podemos pôr limites a um ente tão expressivo se temos apenas por sorte os olhos para contemplá-lo em sua divindade. Portanto, não convém discutir a importância... de um Palhaço, mil vezes é colossal ouvi-lo.
O Armorial é pura Arte – movimento cultural genuinamente brasileiro que surgiu no meio universitário sob a batuta do maestro Ariano e de artistas e intelectuais da região Nordeste. Inspirado nas manifestações populares do Brasil, principalmente nos folhetos dos romanceiros (literatura de cordel), logo recebeu apoio incondicional do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade federal de Pernambuco, da Secretaria de Educação do estado de Pernambuco e da Prefeitura do Recife, como esteio oficial.      
A verve desse imortal transcendia o engenho humano, dimensioná-lo seria impor-lhe extremidades e isto, o tornaria um simples mortal incapaz de sobreviver à eternidade. Ariano era um visionário que enxergava pelos nossos olhos, escutava pelos nossos ouvidos; as nossas palavras em sua boca ganhavam nobreza, força, graciosidade e elegância.
Esse movimento – denominado de “Armorial Brasileiro” – oficialmente levado ao conhecimento do público no dia 18 de outubro de 1970, na capital Pernambucana, foi recebido com grande entusiasmo. Na ocasião, houve um concerto e uma belíssima exposição de artes plásticas ao ar livre no pátio de São Pedro, bem no centro da Veneza nordestina. A intenção de Suassuna e seus colaboradores, desde o inicio, era dar mais visibilidade as raízes culturais do meio popular brasileiro para dai construírem uma arte erudita com as formas e cores do Brasil.   
A Arte Armorial Brasileira bebeu na cacimba do estro do romanceiro Leandro Gomes de Barros, filho do sitio Melancia município de Pombal, “considerado de fato o verdadeiro príncipe dos poetas Brasileiros”, segundo Carlos Drummond de Andrade. O folclorista Câmara Cascudo descreve-o como sendo “baixo, grosso, de olhos claros, o bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho contador de anedotas, tendo fala cantada e lenta do nortista. Pleno de alegria, de graça e de oportunidade”.
Os folhetos do “Romanceiro” popular – denominado de literatura de cordel – são na verdade a espinha dorsal da Arte Armorial. E, nas entranhas dessa manifestação cara aos nordestinos, estão intrinsecamente arraigadas, àquelas forjadas na expressão da alma e nas aspirações do povo brasileiro, principalmente nas suas formas: as narrativas em versos e prosas; a xilogravura ilustrando as suas capas; a música com o canto dos versos, tendo os seguintes instrumentos como acompanhamento: a viola, a rabeca e em algumas particularidades, o pandeiro.
De modo, que toda criação artística e cultural que tem no cerne o espírito criativo do povo brasileiro, como: a literatura de cordel, a xilogravura, o coco, o coco de roda, reisado, pastoril, bumba-meu-boi, maracatu, caboclinhos, folia de reis, cavalo marinho, cavalhadas, teatro de bonecos, pintura, música, dança, gravura, tapeçaria, arquitetura, teatro, cinema, cerâmica, escultura, escolas de samba, espetáculos populares e encenações ao ar livre, cantares, saberes e a heráldica popular brasileira com os brasões, bandeiras, estandartes e insígnias conspiram a favor do Movimento Armorial.   
Fontes consultadas: Revistas: Veja e Época. Fundação Joaquim Nabuco. Jornal Nacional da Rede Globo, Jornal da Paraíba e Jornal Correio da Paraíba e outras fontes do Meio Popular.  


João Pessoa – PB, 12 de agosto de 2014.