domingo, 30 de janeiro de 2011

FLOR DA SERRA

Num dia feio e triste
Na serra algo se deu,
Flor da serra na serra
E sobre a serra morreu:
Seu caixão foi uma gruta,
A mortalha a pedra bruta
E o nada foi-lhe sua cruz;
Sem epitáfio e sem vela
Encontrei o corpo dela
E o entreguei a Jesus.

Hoje, ela é flor esquecida
Em meio as rochas e a terra,
Não há mais recordação
Daquela linda flor da serra,
Os ciprestes adormecidos
Entre as pedras esquecidos
Clama: flor da serra passou;
A morte de estranha feiura
Fez baixar a sepultura
Da serra a mais linda flor.

A fonte aonde se banhava
De água cristalina e azul
Que suavemente deslizava
No seu esplêndido corpo nú;
A água ficou suja e barrenta
Tristonha, muda e sonolenta
E de saudades secou;
Os pássaros lá emudeceram
Aos poucos desapareceram
E a serra deserta ficou.

Até a arvores da serra
Em rudes dores ficaram,
Nunca mais enverdeceram,
Eternamente se enlutaram;
Naquela serra esquecida
Tem uma flor esquecida
Que sem história morreu:
Ela é uma flor abandonada
Numa velha gruta sepultada
E seu grande amor era Eu.