quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

APEGAR-SE AO PODER

 

        Quem se apega ao poder corre o risco de desumanizar-se. Eis ai o ponto sensível dessa saga que muito se aproxima do nível crítico da loucura. Mas esse argumento pode não influenciar os que acreditam nos encantos do poder. Para os adeptos desse credo, o poder é algo sobrenatural que atrai prestigio e dinheiro, além de fluidos pessoais prazerosos, que elevam as alturas a alto-estima. Curam as crises existenciais, nutrindo potencialmente as impessoalidades sociais e culturais.

A pegar-se ao poder tende a gerar um potente imã de altíssima sensibilidade que excita as expertises de incensadores oportunistas, que estarão sempre a espreita de presas passíveis de dengos, para lhes ofertarem refrigérios com adornos e melindres, às vezes místicos, às excentricidades do ego absolutista que as dominam, as quais, por isto, também merecerão as criticas de Momo, assim como as que fizera ao homem feito por Vulcano. 

Esses monges (incensadores) que decidiram fazer caridade às vaidades desses loucos pelo poder, não medirão esforços para expelirem servilmente as suas tóxicas lisonjas. Para Plutarco, “o bajulador é uma espécie de ocultista astuto, com encanto irresistível e agressivo dos mágicos. A bajulação, portanto, é uma coirmã da arte do teatro. No fundo o bajulador é um velhaco; servidor das vaidades, serviçal de cabeça fria e ator principal da comédia da sedução. O bajulador sempre tem em mente algum engano proveitoso, um truque, uma carta na manga, uma fraude inédita. A bajulação é de fato uma perversão”.

O amante do poder não aceita avaliações a seu respeito e as entende como injúrias que atingem de forma grosseira a sua efígie sagrada, por isso se enclaustra numa bolha impermeável, acessível apenas aos que lhe melindram, cumprem seus éditos, aplaudem suas inspirações sem bases morais, tornando-se parcioneiros emudecidos que flamam ainda mais o abismo do que tudo pode e o tudo que pode o ter.

MÁRIO BENTO DE MORAIS.

 

 

 

domingo, 27 de dezembro de 2020

PALAVRAS VIVAS


NA PAZ DE SÃO SARUÊ

 

Certamente o criador

Com sua luz infinita

Fará justiça aos pequenos

Em absolvição a desdita

De nascer em um País

Coiteiro de parasita.

 

As urnas trocam governos,

Mas não alteram o poder,

Que se mantém invisível

Pra não se comprometer,

Esconso não suja as mãos

Manda sem aparecer.

 

Age sem deixar vestígio

Nem impressões digitais,

Torna-se imune, eximido,

Das práxis habituais,

Fato que é reconhecido

Até pelos tribunais.

 

O poder nunca quis ser

Governo pra não se expor,

Mas sabe que tudo pode

Como um grande ditador!

A justiça nunca o alcança

Vive como predador.

 

O poder não pede chuvas

“Pra não ficar com a lama”;

Menospreza o povo, o voto

Pra não se envolver em drama,

Não gosta de eventos públicos

Nem necessita de fama.

 

Veste-se de megaempresas

Para pautar os governos;

Frustram políticas públicas

Com velhos termos modernos,

Onde o “desejo e o possível”

Moram em lares fraternos.

 

Os governos sempre passam,

Mas o poder permanece.

Vivo forte, inabalável,

Monstro que se fortalece

Nos porões das injustiças,

Que o povo tanto padece!

 

E, se num lance arriscado

Confundir-se na jogada,

Acautela-se manhoso,

Com outra turma escalada,

Para dar as velhas cartas

De forma dissimulada.

 

A loucura do poder

Precisa ser controlada,

Observada de perto,

Bem medida e bem pesada

Pra não cruzar os limites

Da fronteira regulada.

 

O poder nodoa a justiça

A justiça então o poder,

Dois vinhos que se rejeitam  

E se amam num só querer

Depois se odeiam em público,

Na paz de São saruê.

 

MARIO BENTO DE MORAIS

 

 

sábado, 26 de dezembro de 2020

PALAVRAS VIVAS

        Administrar ou coordenar áreas sensíveis como algumas que fazem o meio público despertam, por assim dizer, consideráveis interesses adversos, escusos. Mas, isso não significa que a administração ou a coordenação no momento em evidencia, não seja proba ou esteja incompatível com o projeto gestionário estabelecido. A insatisfação de poucos, só prova o contrário, e demonstra que o trabalho que estar sendo realizado não estar privilegiando os maus profissionais que não encontram brechas para desviar a finalidade das ações publica.

De modo que pressionar ou censurar o trabalho que estar sendo realizado com honestiores (como diziam os romanos – mais honestidade), alegando que poderia estar fazendo melhor ou apontando erros que só ele e seus íntimos os vêem, mas, no entanto, de forma nenhuma, os qualificam para o exercício da função pública que a perseguem com a finalidade de apenas se locupletarem. Para esses parvos que não apresentam qualidades para o exercício da função pública, recomendo-lhes que se espelhem em Aristides ou em Temíscles, para sentirem se eles (os insatisfeitos) teriam a mesma dignidade e a vontade de exercerem uma função que requer respeito, zelo, hombridade e muita, mas muita responsabilidade.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

PALAVRAS VIVAS

                                   OS HOMICIDAS

Nesses novos tempos, com expressiva veemência, descortina-se a ferrugem que comprometeu toda estrutura cognitiva que dava suporte ao discernimento que capacitava o indivíduo a avaliar as situações do dia-a-dia com bom senso e clareza. Esse fenômeno encurtou o caminho à baixa escala zoológica dos seres humanos que assistiram de braços omissos os homicidas dos valores individuais tentarem vencer a democracia pela vontade de poder que se impõe com astúcia e violência. De modo que se pode perguntar: em mãos de quem estão os títulos da dívida pública? Dos pobres ou das elites? Se tiver coragem responda.

MÁRIO BENTO DE MORAIS

 

 


 

 


 


PALAVRAS VIVAS

                           A MISÉRIA COLETIVA

Estamos num País em que as péssimas ações políticas convencionaram-se normais e passaram a ser tratadas como endogamias de reparação à ignomínia dos seus ilustres ex pares ou talvez, um resgate às ostras dos casarões ocos que se lhes infligidas foram ao castigo público, mas por serem íntimas do inquilino do poder, voltam à cena num cargo com musculatura inclusive financeira numa área estratégica para vitaminarem ainda mais o poder, e assim deleitarem os dotados súcios, sem serem úteis ao povo e nem apresentarem projetos gestionários.

MARIO BENTO DE MORAIS

 

 

                                                       

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

PALAVRAS E VERSOS


PENSAR, SENTIR E AGIR

Chamo-as de verdades essenciais à existência humana. Formam a pirâmide idiossincrática de cada um, ou seja, a razão da individualidade em todos os aspectos da vida. O que é o pensar senão produzir sentimento que por sua vez induz a ação e ainda, a reflexão; no entanto, convém pensar porque a obra sempre nasce da liberdade. Cuidemos enquanto há tempo! Porque não precisa pedir permissão para definir a personalidade, basta o eu psicológico e as verdades.

Mário Bento de Morais

Quando se constrói um País sobre os crânios dos antigos, o povo não pesa o quanto vale; já os “políticos” não valem o quanto pesam.

 Mário Bento de Morais 

A ganância insana, o dinheiro sem custo cuida desumanizar o homem que quase sempre percorre caminhos tortuosos para tê-lo, nem que seja apenas por um tempo e torne a vida sem sentido. Ai estar o principio da prostituição.

 Mário Bento de Morais

 INVERDADE

Ver sem olhos e sem língua falar

Fazem da arte de Pinóquio um brado,

Um grito com viés desesperado 

Da boca suja do chulo ao além-mar,  

Que com engenho procura enganar

O mundo que nos ver com pirronismo,

Incerteza implícita, e vil cinismo

Obra prima da elite secular.

 EMOÇÃO

 Quando morre em mim a emotividade,

Variações intensas fluem n’alma,

Sensações de repulsa, nojo, trauma,

Unem-se a minha vão humanidade.

Ao rancor da irracionalidade

Que me eleva ao topo da idiotice,

Insensatez, horror, esquisitice,

Negação sistêmica da verdade,

Aversão metódica à caridade

Ideia pernóstica da tolice.

Mário Bento de Morais

TERRAPLANISMO

 É um termo grosseiro e anticientífico

Que procura explicar que a terra é plana,

Teoria fanática que engana

Sem ao menos um amparo especifico,

Que indique nalgum tópico pacifico,

Que sustente o mito terraplanismo

Ou esteio ao falso negacionismo

Espírito do termo João sem braço,

Maganão que flutua pelo espaço

Discípulo da malta do cinismo.

 

Esse modelo de que a terra é plana

É concepção absoleta do formato,

Parece tese infértil de insensato

Que não ver essa loucura tirana,

Quando espalha a cosmografia insana

Que os nativos antigos professavam

Sem a luz da doutrina mensuravam

Factóides nas praticas empiristas,

No período em que os terraplanistas

Ideias vagas ao mundo inspiravam.

 

Quando me falta a sensibilidade

Ocorre-me o desvio da razão,

Manifesta-se uma má inclinação

Irando minha personalidade.

Deixo logo a racionalidade

Atormentada no lixo do abismo

Para viver a fé ao terraplanismo

E negar a Circum-navegação

Que observou na viagem de Fernão,

Esse evento avesso ao negacionismo.

 

Uma delas sem instrução grassava

Que a terra era uma tigela invertida.

Tese nômade, lerda, envelhecida

De empiricista que se aventurava

A dar asas a mente que sondava

Teorias forjadas na procura 

De fatos despertados na loucura

Dos néscios confrades em sandices,

Peritos de vãs invencionices

Que matam a saúde da cultura.

 Mário Bento de Morais

 SEM PERSPECTIVAS

 Um povo que não tem uma saída

Para os problemas com inteligência,

Estar apto a viver a decadência

Como aliada pro resto da vida,

Paranóia e demanda reprimida

Causam a mente deslumbres abstrato,

Murmúrio esquizofrênico inato,

Sonhos utópicos fantasiosos,

Fecundações de mundos fabulosos,

Invenções inúteis de “ego” insensato.

 Mário Bento de Morais

 VAIDADE

 É mais que uma tola asneira

Empenhar-se à vã vaidade,

É um entusiasmo pobre,

Porém, rico em nulidade,

Infrutífero, incorpóreo

Ultraje à sociedade.

 FEMINICÍDIO

 E quem mata uma mulher

Não lhe é devido o perdão!

Por seu crime ser eterno

E ferir a criação

O pecado cometido,

Porque não faz mais sentido

Tolerar tanta agressão.

 

A lei deve ser severa

E a punição modelar!

Ninguém é dono da vida

Nem dela pode usurpar

O direito de viver,

Como se pode matar?

 

Mário Bento de Morais

 ENSINAMENTO

 Lá do alto uma divindade

Com seu imenso poder:

Ensina que a roda gira

E ao girar acontecer

Você cuspir lá de cima

E a vitima ser você.

 

Aplaca-se a tempestade

Quando a mão da divindade

Ergue-se em nosso favor

Para trazer a esperança,

Felicidade, a bonança,

Expressões vivas de amor.

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

SEXTINA

 

Dei-me a graça da graça desse amor

Vivido na ilusão dos belos sonhos

Que a idade acende aos olhos o esplendor

Da vida plena nos dias risonhos,

Que num voo leve, leve ao alcandor

As velhas paixões e os dias medonhos!

 

Que nada mais me traga sois medonhos

Nem sons de paixões nem prosas de amor.

Deixe-me alcançar o velho alcandor

Pra que eu viva o viver daqueles sonhos

Lembrando sempre os instantes risonhos

Revivendo os limites do esplendor.

 

Quando se respira o ar do esplendor

Liberta-se dos tormentos medonhos,

Bebe-se o vinho dos tempos risonhos

E embriaga-se no agrado do amor

Vivendo-o em suas formas e sonhos

Para alcançar o ponto do alcandor.

 

E ai tempera-se de afogo o alcandor,

Felicidade, brilho e esplendor

Nos dias alegres dos nossos sonhos

Que chegaram infindáveis, medonhos,

Trazendo o perfume afável do amor

Aos nossos gentis momentos risonhos.

 

Quão felizes nossos gestos risonhos

Ao chegarmos ao apogeu do alcandor,

Sentimentos inefáveis de amor

Afloram no ápice intenso esplendor

Com seus raios luzentes e medonhos

A sondar os viços dos nossos sonhos.

 

Em nossas almas imperam os sonhos

Sempre airosos densos e risonhos,

Festos, falados, às vezes medonhos,

Mas que podem alcançar o alcandor

Do encanto que manifesta esplendor

Quando a voz da paixão se fez o amor.

 

Nos amores férteis vivem-se sonhos

Que os fazem livres largos e risonhos

Até na aridez dos traumas medonhos.

 

 

João Pessoa, outubro de 2020

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

AOS FILHOS DA ALDEIA

 

Em 21 de setembro de 2016, escrevi um texto que ostentava a pertinácia dos aldeões da nossa terrinha, em aceitarem os nomes dos nossos conterrâneos Dr. Jefferson Marinho Morais e da Dra. Eva Lucena, que na época, seriam possíveis, candidatos únicos, para disputarem os cargos de prefeito e vice-prefeito respectivamente, à ninfa melindrosa do bom e amado Vale do Sabugy.

Porém, depois de algumas refregas de eleitores do partido da situação  acostumados aos mimos lhes oferecidos pela sua “honesta” fidelidade; as torturas dos aliados especialistas em nichos e as fanfarronices dos venais, sufragistas que em época de campanha política estão sempre expostos nas gôndolas do supermercado eleitoral brasileiro, chegaram por fim a um acordo. E para nossa alegria, soubemos posteriormente, que aos poucos, os ânimos exaltados sem um motivo aparente que os justificassem se arrefeceram e as candidaturas foram efetivadas. Essa notícia nos fora consoladora, haja vista, na Democracia sempre prevalece o debate construtivo, a crítica modeladora de ideias, o consenso com vistas à legalidade, a justiça e ao bem comum.

Alguns críticos da terrinha viram nesses entreveros infantis, insatisfações meramente afetivas a um passado apático e insolvente. Passado esse recheado e florido, às vezes, de benesses injustificáveis para alguns apaniguados que teimavam em resistir ferozmente a não se ilharem do poder que os alimentava em suas distrações morais, mas, no entanto, e para o triunfo do bem venceu o bom senso, e eis que os filhos da aldeia antes submetidos à resistência dos néscios foram eleitos prefeito e vice-prefeito, na ordem devida, carregados de bons propósitos organizacionais e administrativos, um início exitoso!

Agora, em 2020, haverá novas eleições para os cargos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em todos os municípios do País.  São Mamede terá dois nomes de grupos “opostos”, que estão em evidencia disputando a vaga de prefeito. Sendo que um desses nomes está no cargo e busca a reeleição, e o outro nome já ocupou a cadeira de prefeito de 2005/2008, e agora quer voltar. São duas grandes histórias que se submeterão ao crivo dos São-Mamedenses, no pleito que se aproxima. Dois importantes filhos da nossa terra que merecerão todo nosso respeito. Então vamos conter a nossa língua para não ferir quem não deve ser ferido sem motivos.

O nosso veneno não pode ser pulverizado para denegrir a imagem de pessoas idôneas, numa clara tentativa de desqualificar e humilhar para satisfazer o ego macabro das mesquinhas questões políticas. Lembre-se do que foi dito: “os mansos herdarão a terra e nela viverão”.

No entanto, ao invés de causarmos danos às imagens dos candidatos com as nossas ironias cáusticas, devemos exortá-los aos debates, exposição de projetos que visem à criação de emprego e renda; adoção de medidas claras pós-pandemia, para saúde, educação, cultura, higiene e limpeza pública, mobilidade urbana, políticas sociais que tratem da criança e do adolescente com efetivo combate as drogas; quais propostas para população da melhor idade e ainda como será a política habitacional para os próximos quatro anos?

As picuinhas político-partidárias não devem interferir nesse momento importante para a vida da nossa cidade. O que vale mesmo é compartilhar propostas e sugerir ideias criativas e inovadoras para o futuro do nosso querido rincão.

Procurar sempre dar preferência a utilização da economia colaborativa, não como imposição, mas como alternativa às dificuldades encontradas pela nossa cidade para gerir seus recursos, considerando às demandas de serviços inerentes aos seus cidadãos.

De modo que não é conveniente enxergar o futuro pelo espelho quebrado, nem seguir as orações dos monges do atraso, mas tentar discernir o novo que estar à porta.

A letargia que norteou o passado não tem mais lugar no presente e nem pode estar á sombra do futuro, porque já fomos grandes sem nunca deixar de sermos nanicos.



João Pessoa, outubro de 2020

 

 

Mário Bento de Morais

 

domingo, 11 de outubro de 2020

SEXTINA

Esta sextina vai com todo carinho ao meu amigo e poeta Geraldo Brito de Medeiros. Geraldo, eu tenho o enorme prazer de dedicar estes simples versos, a você pelo grande respeito e apreço que lhe devoto. Um grande abraço. Mário Bento de Morais


 No meu corre/corre ocorre-me a vida

 Vulgar, movendo-se em traje de vidro!

 Cheirando o fumo fatal da Amazônia,

 Que se arde em dor e caprichosa pena

 E que pouco a pouco se morre um pouco

 Abraçada aos herdeiros renegados.

 

 Fere-me o futuro dos renegados,

 Entregues ao acaso áspero da vida,

 Que dela havia um sopro inda pouco

 Como resto num estojo de vidro 

 E venerado pelo olhar de pena

 Ante a crucificação da Amazônia.

 

 Sob as chamas ferozes a Amazônia,

 Murcha sem as vozes dos renegados,

 Que roucos e sem motivos de pena

 Da Diva que lhes prometera vida

 Mas, fingida em sua corte de vidro

 Zomba dos rogos de quem pede pouco.

 

 Já o porvir calmo enxerga muito pouco

 Ou quase nada daquela Amazônia,

 Que terá painéis em tela de vidro

 Expondo a dor dos povos renegados

 Que despidos roubaram-lhes a vida

 Para inalarem gases vis de pena.

 

 Sem ar, respirando as rosas da pena

 Que a maquinação adormecera um pouco,

 Assassinando a História em vida          

 Conduzindo ao sarcófago a Amazônia,

 Que jamais cismassem os renegados

 D’um fadário encarcerado em vidro.

 

 Resta aos restos respirar ar de vidro

 Em meio à floresta morta de pena

 Dos fosseis dos herdeiros renegados

 Que sujavam a cada dia um pouco

 O mar, verde mar vivo da Amazônia,

 Que se afasta passo a passo da vida.


 Então, o siso que só via ouro e vidro,

 Garimpa na solidão a fatal pena

 Da sede da carne dos renegados.


 

   Mário Bento de Morais

 

 

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

SEXTINA

 De instante e instante preste perigo

 Sonda a vida em contínua ameaça;

 Morre-se vivendo em lenta agonia

 Desde o primeiro passo para morte,

 Que dia após dia mirra-se em pranto

 Sozinho pelos guetos da fortuna.

 

 Que loucura insana tem a fortuna!

 Ao ver-se morrendo nesse perigo

 Gargalhando sobre as dores do pranto

 Esquivando-se da grave ameaça

 Que principia o passo para morte

 Pela língua sedenta da agonia.

 

 Nasce morrendo e vai a plena agonia,

 Tentar em vão se abeirar a fortuna

 Que o espera de braços com a morte 

 Num baile de mascara onde o perigo,

 É pierrô insólito da ameaça

 Que balda a sorte num vale do pranto.

 

 Porém, forja-se o ser em ser no pranto

 Que se veste nos porões da agonia

 Sob a opressão do nariz que o ameaça

 E reclama ao divo da vil fortuna,

 Que o deixa frágil em meio ao perigo

 De se dar livre ao desejar a morte.

 

 Adoça-se a opinião sobre a morte,

 Anjo extremo que silencia o pranto

 De quem não ver o ser, mas um perigo  

 Ao ente no deserto da vão agonia,

 Que se procura em si mesmo a fortuna

 Vivendo além da própria ameaça. 

 

 Cingido pelas trevas que o ameaça

 Vive sempre a ler a própria morte

 Servil aceita os sinais da fortuna

 Marcados nos signos de riso e pranto

 Inda que no dia a dia a agonia

 Sirva de alento frente ao perigo.

 

 Pobre homem nato sob ameaça,

 Definha pouco a pouco para morte

 Acreditando nos dons da fortuna.

 

 Que não o livra desse fatal perigo

 Nem ameniza os dramas da agonia

 Para brindar de lágrimas o pranto

 

 

 

 Mário Bento de Morais