segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O VELHO PROFESSOR

Texto de Autor Desconhecido


Andava muito doente o velho professor. Por isso, não tinha mais o mesmo ardor, que outrora possuía e que o animava dantes. Às vezes, quando em aula, havia mesmo instantes em que inclinava a fronte (aquela fronte austera) e cochilava um pouco involuntariamente.
Era, porém, tamanho o bem que nos queria que jamais quis pedir aposentadoria e manter-se do Estado a custa dessa esmola.
Era sempre o primeiro a aparecer na escola, com joviais maneiras tão simpáticas, não obstante sentir umas dores tão reumáticas que o fazia sofrer ultimamente.
Um dia ele chegou mais tarde por alguns momentos, trazia na face alguns sinais de sofrimento, a palidez do rosto, os olhos encovados, denunciavam seus pesares ignorados. E, como tomar a dor mais manifesta, cavara-se fundo uma ruga em sua testa. Franzia-se o rosto uma expressão de dor.
A aula começou, mas, pouco depois das onze. O velho mestre, o bom trabalhador de bronze, que já perto dos trinta anos ou mais, lutava todos os dias, dando batalha ao vicio e combate a ignorância, sentindo de uma dor extrema, curvou nobre face e cerrou de leve os olhos.
Lá fora, fugia o sol.
A manhã era calma.
E sorrindo, a natureza abriu a sua alma, repleta de alegrias e cheia de esplendor. Pela janela aberta, entrava o hálito das flores; em toda atmosfera azul, lavada fina, ressoava baixinho, assim como em surdina.
Um canto Celestial, harmonioso, suave, anjos tocando em harpa alguma canção de amor.
Nisso ergueu-se um aluno, um pândego, um peralta. Fabricou de um jornal um chapéu de copa alta, e, bem devagarzinho, chegou-se ao mestre e “Zás” enfiou-lhe na cabeça. E rápido se foi de volta ao seu lugar. O mestre nem abriu o sonolento olhar. E aquele aspecto vil, de truão, de improviso, rebentou pela sala estardalhante riso.
De súbito, surgiu o diretor na sala. Demudou-se-lhe o gesto, estremeceu a fala. Quando ele, transformando a sua mansidão de boi, em fúria de leão, nos perguntou: quem foi? Quem foi esse vilão que fez tal brejeirice, sem respeito algum as fáceis dessa velhice? Mas ninguém denunciou da brincadeira o autor.
Como um truão dormia o velho professor.
O diretor, então, chegou-se junto à mesa...
Via-se-lhe no rosto, o incômodo, a surpresa de que o sono assim se prolongasse.
Curvou-se meigamente e levantou-lhe a face. O mestre estava morto.