domingo, 12 de abril de 2015

A VERDADE MORTA

PRIMEIRA PARTE


O século das luzes despertou
O mundo das ideias, da razão;
A luz desse lume se espalhou
Iluminando o céu do sertão.

E nas margens do Rio sabugy
A história da gente começou
Pelas mãos de Negreiros o porvir
Para brancos e índios se mostrou.

Mas o convívio de irmãos findou
Assim que as mentes se enxergaram!
Foi quando o gênio da cobiça iscou
Os olhos que nunca mais gritaram.

Dai a ganância a beijar a morte
Sob a lei do azorrague ardido,
No cabo o punho mau da coorte
Ao solo o sonho virgem vencido.

Por força da gana foram caçados
Como bicho, oh Meu Deus, que horror!
Faz o homem aos homens humilhados
Sob o céu de infâmia, meu senhor!

O bando de sicários implacáveis,
Desalmados ao extremo; insanos!
Trucidavam àqueles miseráveis
Para o bem da casta dos tiranos.

O asseio étnico, o extermínio
Ações típicas dos feros grileiros,
Que exercem pela terra fascínio
Sob a guarda perversa de rafeiros.

Ensurdeceram as vozes da terra,
Os sons se perderam na tempestade
Dos vivos que só herdaram da guerra
Os dons de morrerem na eternidade.

Dizimados os Netos de Janduí,
Reino pilhado, tudo ao inferno!
O sangue pelo poder a exibir
Corpos inumados no chão materno.

Assim... Cessou-se sem “resplandecer”
As seis décadas de barbárie calma;
Até a carta desalmada vencer
A vida insubordinada n’alma!

Do ilustre a ordem intempestiva
Fez-se sesmo aquele chão sagrado,
Morte inerme à nação nativa
Na carta o crime assinalado.

O sesmeiro, silente, atilado,
Esconso no Reino de Janduí,
Pela caatinga ingente, cismado,
Espreitava um feudo construir.

À Baia o sesmo aos índios morte,
Na verdade, hábito recorrente!
Na America do Sul e do Norte
Crimes impunes brasileiramente.

Salve a ninfa das antigas lendas,
Na crença nativa ente vestal,
Oh! São Mamede. Oh! Santo menino
O seu nome veio de Portugal.

À Baia o sesmo aos índios morte,
Jacta-se o crime à extinção!
O Vale em mãos alheias sem norte
O Sabugy alheio à injunção.

Então, o século sem luzes partiu,
Sem história, pobre foi-se em vão,
Nada deixou de legado, sumiu,
Pelas vagas dispensas do sertão.

Nasce o século principio do fim
Dos impérios de memórias desertas,
Que transcende de um tempo ruim
Á era das invenções e descobertas.

Aos poucos o vento da liberdade
Sopra o rosto do poder absoluto:
Ferindo sua falsa intensidade
Negando a ordem desse instituto. 

A massa serva se expõe ao sonho
De viver dias ao som de seus tambores
Até olvida o fado medonho
Proseando em versos seus louvores.

Oh! Liberdade amante dos loucos,
Tu és eterna, santa quando mondas,
A última vaidade dos naroucos
Quando varres esse mal em tuas ondas.

Os feitos do século das grandezas
Apontam os rumos da liberdade:
Justiça na divisão das riquezas
É a senda pra gerar a igualdade.

E o Vale caminha esquecido
- Pelo mundo dos serviçais (amem!) -
Sob o relho no lombo sem gemido
Só aceitam aquilo que os convém!