quarta-feira, 23 de setembro de 2020

SEXTINA

 De instante e instante preste perigo

 Sonda a vida em contínua ameaça;

 Morre-se vivendo em lenta agonia

 Desde o primeiro passo para morte,

 Que dia após dia mirra-se em pranto

 Sozinho pelos guetos da fortuna.

 

 Que loucura insana tem a fortuna!

 Ao ver-se morrendo nesse perigo

 Gargalhando sobre as dores do pranto

 Esquivando-se da grave ameaça

 Que principia o passo para morte

 Pela língua sedenta da agonia.

 

 Nasce morrendo e vai a plena agonia,

 Tentar em vão se abeirar a fortuna

 Que o espera de braços com a morte 

 Num baile de mascara onde o perigo,

 É pierrô insólito da ameaça

 Que balda a sorte num vale do pranto.

 

 Porém, forja-se o ser em ser no pranto

 Que se veste nos porões da agonia

 Sob a opressão do nariz que o ameaça

 E reclama ao divo da vil fortuna,

 Que o deixa frágil em meio ao perigo

 De se dar livre ao desejar a morte.

 

 Adoça-se a opinião sobre a morte,

 Anjo extremo que silencia o pranto

 De quem não ver o ser, mas um perigo  

 Ao ente no deserto da vão agonia,

 Que se procura em si mesmo a fortuna

 Vivendo além da própria ameaça. 

 

 Cingido pelas trevas que o ameaça

 Vive sempre a ler a própria morte

 Servil aceita os sinais da fortuna

 Marcados nos signos de riso e pranto

 Inda que no dia a dia a agonia

 Sirva de alento frente ao perigo.

 

 Pobre homem nato sob ameaça,

 Definha pouco a pouco para morte

 Acreditando nos dons da fortuna.

 

 Que não o livra desse fatal perigo

 Nem ameniza os dramas da agonia

 Para brindar de lágrimas o pranto

 

 

 

 Mário Bento de Morais

 

 

 

 

 

 

  

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

SEXTINA

 

Morre a vida! Eu, no dia a dia tenso,

Quando dei indistinto o primeiro passo

Não pensava, agora, se acaso penso,

Nada me convêm além do compasso

Do passo a passo que me foi tão imenso

Pra ganhar como resguardo um abraço.

 

E, entre os braços firmes daquele abraço

Abraçava um abraço calmo e tenso,

Como se um fogo d’um amor imenso

Falasse-me da firmeza do passo

Que devia seguir pelo compasso

Sem falar de tudo aquilo que penso.

 

Arde-me expor por expor o que penso

Quando senti a força daquele abraço,

A alma tenra de compasso em compasso

Palpitava em meio a um sorriso tenso,

Mas que havia amor naquele passo

Tão curto para um mundo tão imenso!

 

No entanto, permiti-me um rastro imenso

No caminho, ao grafar o que penso

Depois de ler as linhas vãs do passo,

Que dei no encontro d’um simples abraço

Maior do que o mar, e por vezes, tenso

Quando a vida se submete ao compasso.

 

E assim, segue a vida presa ao compasso

De cada passo se curto ou se imenso,

Ou talvez, se estável ou muito tenso,

Mas considerando aquilo que penso

Sobre o significado de um abraço

Quando se pratica um pequeno passo.


Então, muito se anda no passo a passo

Ao acatarmos as regras do compasso,

Ao passo em que pese e pense o abraço

Quando se cuida d’um amor imenso

Morre-se pouco a pouco, quando penso,

Que a vida vive o dia a dia tenso.  

 

 Porém, há de se refletir o passo

 Lasso, que se procura no compasso

 Para se inventar na paz d’um abraço.

 

 

Mário Bento de Morais

 

 

 

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

SEXTINA

 

 O injusto não se reconhece injusto

 Nem agora nem num depois de agora,

 Segue imenso sob a sua verdade

 Gloriosa ostentando a injustiça

 Auspiciosa, face a face ao mal,

 Como no reino d'um ser venerado.

 

 Gritos no gueto, o falso venerado!  

 Hosana! Hosana! Jacta-se o injusto,

 Ostra das benesses do beijo do mal

 Que enxerga na desesperança agora

 Fonte dos propósitos da injustiça 

 E tormento solene da verdade.

 

 Nos delírios do iníquo a verdade

 Estertora-se aos pés do venerado

 Apostolo do reino da injustiça,

 Que acumula posses a paz do injusto

 Justificado na crença do agora

 Para eternizar a fama do mal.

 

 Na ausência do bem se põe o mal

 Como senhor e dono da verdade.

 No gueto a pressa do poder agora

 Para ledice do deus venerado,

 Injusto, mas canonizado injusto

 No cosmo das catedrais da injustiça.

 

 Então, o norte sentina da injustiça!

 Sonda a choldra daqui e lhe lega o mal,

 Para trazer-lhe quietude ao injusto

 Que lhe dar o dom da interna verdade

 Sob o rosto vivo do venerado

 Que da gordura alheia vive agora.  

 

 O engodo aqui vale a verdade agora

 Porque o norte, ás vezes, beija a injustiça

 Como dádiva ao divo venerado,

 Que vibra nos nervos da paz do mal

 A eloquente agonia da verdade

 Para grandeza universal do injusto.

 

 Eis o agora e não o depois desse agora,

 Porque é licito vergar a injustiça

 E tolher a festa do venerado!

 

 

Mário Bento de Morais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

SEXTINA


 

Quimeras, brutas quimeras

Sangrando-as das grandes eras

Sem calma nem acalanto,

Divas fatais inquilinas,

Assassinas, assassinas!

Vivem sugando meu pranto.

 

No olho que deplora o pranto,

Penam severas quimeras,

Inquietas assassinas

Trazidas de antigas eras,

Velhas, loucas inquilinas,

Que não me farão acalanto.

 

Ah!, Se um viçoso acalanto!

Domasse enfim esse pranto

Pulsátil às inquilinas,

Que assistiram as quimeras

Desde as mais longínquas eras,

E pouco a pouco, assassinas.

 

Ás vezes, tais assassinas

Menosprezam o acalanto

Transitam eras sobre eras,

Em meio a severo pranto

Que sobrepuja as quimeras,

Às Nobres vãs inquilinas!

 

Nesta posse as inquilinas,

Vivas feras assassinas,

Agem, pois, sobre as quimeras

Inflamando-as no acalanto,

Que se desarranja em pranto

Na insanidade das eras.

 

E, foi na aridez das eras

Do nada, que as inquilinas

Deram-me languido pranto

Entre as graças assassinas,

Feriram o meu acalanto

Nas aflições das quimeras.

 

Passaram-se eras sobre eras,

E aquelas vãs inquilinas,

Deixaram solidão e pranto!

 

 

 

Mário Bento de Morais