quinta-feira, 17 de novembro de 2022

O TOLO X O TIRANO

 

O tolo que deu o poder

Ao tirano agora implora

Por justiça da injustiça,

Que humilha desvarola,

Mas se sente confiante

Na caixinha de pandora!


Deixa-se ser governado

Sob a canga no pescoço,

Fútil se doa incontrito

Quer a vida sem esforço,

Zomba da honestidade

Vê na mentira um colosso.


Reflete os anos devotos

Sem se mostrar compungido,

Entende ser seu fadário

Sujeitar-se restringido

Serviçal, fiel sabujo,

Pelos deuses escolhido.


Nada além d’um sevandija

Toca-lhe à mente helminta

Que sem o mar das entranhas

Murcha-se aos poucos faminta

Com a absência de alimentos

A sua fome indistinta.


Sente-se um pária fausto

E sonha o sonho comum

Como tantos outros sonhos

Que se sonha em cada um

Sonho que morre sem sonho

Vivendo sonho nenhum.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

PASSO A PASSO


Às vezes, caminhar é preciso

Por ai, solto, meio de improviso

Pelos cantos sem cantos de guerra,

Sem as regras que tolhem a mente,

Apenas o ser nu… Mas contente

Em fugir da avidez que desterra

A alma do homem para o abismo,

Fosso profundo do niilismo

Feral à humanidade da terra.


Banhar-se em bons hábitos encerra

Seguir sem a pequenez que emperra

A porta do livre aceso a vida,

Que se abre após o primeiro passo

Embora débil, mas se o compasso

For firme em direção da partida,

Nada pode impedir a vitória

De quem com brilho faz a história

Nascer do caminhar em saída.


No entanto, coragem, fronte erguida!

Eis o mundo real sob medida

À sua frente, moldável, prático,

Vença-o! Sem torná-lo inacessível,

Mas fruto d’um presente possível

Da mente de postulado fático,

Que sonda a viva realidade

Sem se dobrar à necessidade

Do produto do complexo estático.


De fato, há algo mais que emblemático,

Quando o temor se faz sistemático

Causando danos ao cognitivo

Impostura inegável do atraso

Feição caricata do descaso

Cultural de cunho punitivo,

Que se dá em forma de tempestade

Traindo o sonho de liberdade

Renascendo o mundo primitivo.



segunda-feira, 7 de novembro de 2022

OS REGALOS ETERNOS

 

Os sonhos que voam no deserto

D’alma que se povoa de dores,

Terão extenuados seus remígios

De tanto buscar velhos amores,

Que em soluço se foram além

Sem paz procurando-se também

Por entre perversos estertores.


Mas, tudo enfim, inspira regalos,

Que se nutrem de gentis afetos,

Suaves beijos, gestos afáveis,

Que às vezes, se propõem insurretos!

Tocando a alma profundamente

Deixando liberto o corpo a mente

Expostos aos desejos concretos.


Quantos em retiros diferentes,

Cismam ainda as velhas paixões,

Que se imortalizaram nas nuvens

Da memória das emoções.

As quais, mais das vezes, quase vivas,

Ressurgem mansamente afetivas

Acordando sadias sensações.


As marcas deixadas, quase sempre

Afloram mantras envelhecidos,

Que foram eternos nos momentos

Lembráveis e jamais esquecidos!

E se vivos estão, mas distantes

Foram divos, densos, importantes,

Mas agora, estão adormecidos!


Ah! Se um dia a gente conseguisse

Trazer de volta aquele passado,

E à tona viessem as vivências

Que as tornou prazeroso legado

À vida a vibrar às emoções,

Que lavram as velhas sensações

D’um pobre coração já cansado.