domingo, 16 de maio de 2021

HOMENAGEM PÓSTUMA

Ao meu irmão Francisco 

(Chico de Severina de Amaro), se vivo fazia 77 anos.


Dono de um humor fértil debochado,

Travesso, caçoísta, gozador,

Palhaço cara limpa zombador,

Irreverente menino inspirado.

Pensador satírico improvisado,

Solitário e sem academia,

Às vezes, combatendo a teimosia

Dos que lutam pelo status d’escravo,

Legando-lhes a intrepidez do bravo

Galhofando mordaz a tirania.

 

Nos recitais mostrados nas calçadas

Transformadas em palcos teatrais,

O histrião de tramas surreais

As exibia de formas escrachadas.

O povo saudava suas tiradas

Com risos e trejeitos enrustidos,

Sonhos mortos e gritos impedidos

Voltam fugazes na arte pela vida

Daqueles que se vêem sem saída

Dos grilhões dos pascácios vencidos.

 

O patusco da ralé se exaltava

Tripudiando do mestre o saber,

Que cortês se fazia merecer

O desdém que o chistoso lhe afrontava,

Nem por isto o docente o insultava

Porque via no pândego um talento

A lampejar como um astro ao relento

Suportando o rigor das tempestades,

Das sandices que impõem necessidades

Ao homem de profundo sentimento.


Na índole do jocoso um cidadão

Nanava fecundo um amor feliz,

Que destinou servir a genetriz

Na busca pervicaz pelo filão,

Sedimentou-se a sublime missão

Negando-se a flama dissimulada

Para cuidar da estirpe imaculada   

Sem haver pelo fardo carregado

Mas intenso, singelo, resignado

Pela luta feraz articulada.

 

Cumprindo com o pacto celebrado

Voltou-se completamente à paixão,

Pois desejava encher-se de emoção

Dedicando-lhe um amor consagrado,

Envolvente, sólido, eternizado,

Para progredir a real ascendência

Exaltando a divina augusta essência

Como promessa à cepa soberana,

Dois brotos da bela raça humana

Para dar prole a sua descendência.  

 

 

Mário Bento de Morais