domingo, 24 de janeiro de 2021

EDAZES DAS MASSAS

Inimigos ferrenhos da verdade, instigadores de sonhos equipados de vícios demoníacos, sensibilidades perversas e vingativas, persuasivos fatais, mentirosos hediondos, serviçais formidáveis do leito de Procusto.  Assim são os edazes das massas que povoam as comunidades do Brasil, os quais, com nível de astúcia e maldade acima da media, simulam alegria no sorriso, pudicícias, desinteresses, honestidade, humanidade solidária, que servirão como iscas para atrair os ignoros ávidos de justiça que atue conforme sua própria justiça, com vistas alcançarem o esplendor dos seus mais infames objetivos, assim como o leão da fábula – A raposa e o leão – de Esopo. Nessa alegoria, o leão fingia-se doente, e reclamava a visita da raposa que lhe disse: “iria com muito prazer visitá-lo em sua caverna. Mas vejo muitos rastos de animais entrando e nenhum que indique que tenham saído”.

Os edazes das massas surgem da ausência do povo a si mesmo, que ao negligenciar a natureza da vida em desobediência a natureza criadora, cede às sevícias de futuros Pisístratos, elaborados nos porões de facções diversas e por interesses escusos de políticos, banqueiros, empresários, Igrejas, associações e sindicatos. A pusilanimidade do povo se permite abandonar o sol da filha dileta de Deus, a santa liberdade, para se dar a servidão, algemando-se ao cumprimento de ordens aviltantes.     

Um povo que nasce com o peso da canga sobre o cachaço, precisa rejeitar as substâncias alucinógenas: as comemorações apócrifas, as festas do esqueça-se! Vistas com bons olhos por aqueles que se opõem as evoluções sociais que miram as inovações morais, políticas, religiosas e comportamentais. Edazes que não só elegem suas vontades e demandas acima da lei, mas, porém solertes, ainda fraudam o povo com engodos públicos sensíveis, distribuições de sesteiros da “marvada” nos festejos tradicionais em que saltarão aos nossos olhos incrédulos prodigalidades imensuráveis nessas ações furtivas, mesmo com a fertilidade da fome real burilada num quadro de vida vivas expondo imagens mortas, para felizes poderem adormecer seus ouvidos com as cantilenas eufóricas das ruas: “viva o rei!”.

 

MÁRIO BENTO DE MORAIS

 

 

 


quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

QUEM É MEU AMIGO?

 

          É aquele que diz sempre sim a tudo que eu quero ouvir? Ou é aquele que diz a verdade nua e crua sem rodeio, direto, mesmo que eu não goste de ouvir, mas a verdade pura, amarga, aquela que quando é dita de tão verdade, arranca a casca da ferida e a deixa exposta, sangrando? Étienne de La Boétie, século XVI, legou a posteridade essa sublime pérola: “Que amizade afinal, pode esperar-se daquele cujo coração é tão duro que odeia o próprio reino que em tudo lhe obedece? Que, por não conseguir fazer-se amar, se empobrece e destrói seu império?” 

Milton Nascimento reconhece a grandeza da amizade e inspirado pela santa sensibilidade que o acompanha como protetora, transcende o limite do humano pobre de espírito para o humano nobre de espírito, numa digna celebração de amor, disse: Amiga é coisa pra se guardar· Debaixo de sete chaves· Dentro do coração... Boétie, alavancado pelo desprezo que sentia pela opressão revelada no discurso da servidão voluntária, quando trata do vinculo humano e a tirania, expressou-se: “A amizade é uma palavra sagrada, é uma coisa santa e só pode existir entre pessoas de bem, só se mantém quando há estima mútua; conserva-se não tanto pelos benefícios quanto por uma vida de bondade.”

Nesse pensamento sobre a beleza da amizade vivida em sua plenitude o cantor Roberto Carlos escancarou ao mundo as entranhas expostas de uma grande amizade, vejam: Você meu amigo de fé, meu irmão camarada. Amigo de tantos caminhos de tantas jor\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\nadas. Cabeça de homem, mas um coração de menino. Aquele que estar sempre ao meu lado em qualquer caminhada...

A amizade não é cúmplice de injustiça nem satisfaz vontades tirânicas, estar além do homem, mas próxima ao sacerdócio divino que exalta: ”sejam numerosas as tuas relações, mas os teus conselheiros, um entre mil”,  

A amizade estar milhares de milhar de anos distante da servidão. O amigo serve como amigo não como servo, assim diz Boétie: ”Ó Deus, pode haver maior castigo e martírio que passar dia e noite imaginando maneiras diferentes de agradar a um homem a quem se teme mais que a qualquer outro no mundo? Ter os olhos sempre abertos e os ouvidos atentos, para espreitar de onde virá o golpe, para descobrir as ciladas, para desvendar as tramóias dos concorrentes, para adivinhar o traidor? Sorrir para cada um e desconfiar de todos, não ter inimigo declarado e amigo certo, mostrar sempre o rosto sorridente quando o coração está apreensivo? Não poder estar alegre, nem ousar estar triste.