sexta-feira, 23 de outubro de 2020

SEXTINA

 

Dei-me a graça da graça desse amor

Vivido na ilusão dos belos sonhos

Que a idade acende aos olhos o esplendor

Da vida plena nos dias risonhos,

Que num voo leve, leve ao alcandor

As velhas paixões e os dias medonhos!

 

Que nada mais me traga sois medonhos

Nem sons de paixões nem prosas de amor.

Deixe-me alcançar o velho alcandor

Pra que eu viva o viver daqueles sonhos

Lembrando sempre os instantes risonhos

Revivendo os limites do esplendor.

 

Quando se respira o ar do esplendor

Liberta-se dos tormentos medonhos,

Bebe-se o vinho dos tempos risonhos

E embriaga-se no agrado do amor

Vivendo-o em suas formas e sonhos

Para alcançar o ponto do alcandor.

 

E ai tempera-se de afogo o alcandor,

Felicidade, brilho e esplendor

Nos dias alegres dos nossos sonhos

Que chegaram infindáveis, medonhos,

Trazendo o perfume afável do amor

Aos nossos gentis momentos risonhos.

 

Quão felizes nossos gestos risonhos

Ao chegarmos ao apogeu do alcandor,

Sentimentos inefáveis de amor

Afloram no ápice intenso esplendor

Com seus raios luzentes e medonhos

A sondar os viços dos nossos sonhos.

 

Em nossas almas imperam os sonhos

Sempre airosos densos e risonhos,

Festos, falados, às vezes medonhos,

Mas que podem alcançar o alcandor

Do encanto que manifesta esplendor

Quando a voz da paixão se fez o amor.

 

Nos amores férteis vivem-se sonhos

Que os fazem livres largos e risonhos

Até na aridez dos traumas medonhos.

 

 

João Pessoa, outubro de 2020

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

AOS FILHOS DA ALDEIA

 

Em 21 de setembro de 2016, escrevi um texto que ostentava a pertinácia dos aldeões da nossa terrinha, em aceitarem os nomes dos nossos conterrâneos Dr. Jefferson Marinho Morais e da Dra. Eva Lucena, que na época, seriam possíveis, candidatos únicos, para disputarem os cargos de prefeito e vice-prefeito respectivamente, à ninfa melindrosa do bom e amado Vale do Sabugy.

Porém, depois de algumas refregas de eleitores do partido da situação  acostumados aos mimos lhes oferecidos pela sua “honesta” fidelidade; as torturas dos aliados especialistas em nichos e as fanfarronices dos venais, sufragistas que em época de campanha política estão sempre expostos nas gôndolas do supermercado eleitoral brasileiro, chegaram por fim a um acordo. E para nossa alegria, soubemos posteriormente, que aos poucos, os ânimos exaltados sem um motivo aparente que os justificassem se arrefeceram e as candidaturas foram efetivadas. Essa notícia nos fora consoladora, haja vista, na Democracia sempre prevalece o debate construtivo, a crítica modeladora de ideias, o consenso com vistas à legalidade, a justiça e ao bem comum.

Alguns críticos da terrinha viram nesses entreveros infantis, insatisfações meramente afetivas a um passado apático e insolvente. Passado esse recheado e florido, às vezes, de benesses injustificáveis para alguns apaniguados que teimavam em resistir ferozmente a não se ilharem do poder que os alimentava em suas distrações morais, mas, no entanto, e para o triunfo do bem venceu o bom senso, e eis que os filhos da aldeia antes submetidos à resistência dos néscios foram eleitos prefeito e vice-prefeito, na ordem devida, carregados de bons propósitos organizacionais e administrativos, um início exitoso!

Agora, em 2020, haverá novas eleições para os cargos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em todos os municípios do País.  São Mamede terá dois nomes de grupos “opostos”, que estão em evidencia disputando a vaga de prefeito. Sendo que um desses nomes está no cargo e busca a reeleição, e o outro nome já ocupou a cadeira de prefeito de 2005/2008, e agora quer voltar. São duas grandes histórias que se submeterão ao crivo dos São-Mamedenses, no pleito que se aproxima. Dois importantes filhos da nossa terra que merecerão todo nosso respeito. Então vamos conter a nossa língua para não ferir quem não deve ser ferido sem motivos.

O nosso veneno não pode ser pulverizado para denegrir a imagem de pessoas idôneas, numa clara tentativa de desqualificar e humilhar para satisfazer o ego macabro das mesquinhas questões políticas. Lembre-se do que foi dito: “os mansos herdarão a terra e nela viverão”.

No entanto, ao invés de causarmos danos às imagens dos candidatos com as nossas ironias cáusticas, devemos exortá-los aos debates, exposição de projetos que visem à criação de emprego e renda; adoção de medidas claras pós-pandemia, para saúde, educação, cultura, higiene e limpeza pública, mobilidade urbana, políticas sociais que tratem da criança e do adolescente com efetivo combate as drogas; quais propostas para população da melhor idade e ainda como será a política habitacional para os próximos quatro anos?

As picuinhas político-partidárias não devem interferir nesse momento importante para a vida da nossa cidade. O que vale mesmo é compartilhar propostas e sugerir ideias criativas e inovadoras para o futuro do nosso querido rincão.

Procurar sempre dar preferência a utilização da economia colaborativa, não como imposição, mas como alternativa às dificuldades encontradas pela nossa cidade para gerir seus recursos, considerando às demandas de serviços inerentes aos seus cidadãos.

De modo que não é conveniente enxergar o futuro pelo espelho quebrado, nem seguir as orações dos monges do atraso, mas tentar discernir o novo que estar à porta.

A letargia que norteou o passado não tem mais lugar no presente e nem pode estar á sombra do futuro, porque já fomos grandes sem nunca deixar de sermos nanicos.



João Pessoa, outubro de 2020

 

 

Mário Bento de Morais

 

domingo, 11 de outubro de 2020

SEXTINA

Esta sextina vai com todo carinho ao meu amigo e poeta Geraldo Brito de Medeiros. Geraldo, eu tenho o enorme prazer de dedicar estes simples versos, a você pelo grande respeito e apreço que lhe devoto. Um grande abraço. Mário Bento de Morais


 No meu corre/corre ocorre-me a vida

 Vulgar, movendo-se em traje de vidro!

 Cheirando o fumo fatal da Amazônia,

 Que se arde em dor e caprichosa pena

 E que pouco a pouco se morre um pouco

 Abraçada aos herdeiros renegados.

 

 Fere-me o futuro dos renegados,

 Entregues ao acaso áspero da vida,

 Que dela havia um sopro inda pouco

 Como resto num estojo de vidro 

 E venerado pelo olhar de pena

 Ante a crucificação da Amazônia.

 

 Sob as chamas ferozes a Amazônia,

 Murcha sem as vozes dos renegados,

 Que roucos e sem motivos de pena

 Da Diva que lhes prometera vida

 Mas, fingida em sua corte de vidro

 Zomba dos rogos de quem pede pouco.

 

 Já o porvir calmo enxerga muito pouco

 Ou quase nada daquela Amazônia,

 Que terá painéis em tela de vidro

 Expondo a dor dos povos renegados

 Que despidos roubaram-lhes a vida

 Para inalarem gases vis de pena.

 

 Sem ar, respirando as rosas da pena

 Que a maquinação adormecera um pouco,

 Assassinando a História em vida          

 Conduzindo ao sarcófago a Amazônia,

 Que jamais cismassem os renegados

 D’um fadário encarcerado em vidro.

 

 Resta aos restos respirar ar de vidro

 Em meio à floresta morta de pena

 Dos fosseis dos herdeiros renegados

 Que sujavam a cada dia um pouco

 O mar, verde mar vivo da Amazônia,

 Que se afasta passo a passo da vida.


 Então, o siso que só via ouro e vidro,

 Garimpa na solidão a fatal pena

 Da sede da carne dos renegados.


 

   Mário Bento de Morais