sábado, 25 de outubro de 2014

AS REFLEXÕES DE ANIREVES


FOTOGRAFIA - MANOEL LUCENA – COLÓ.
Blog colocidade

No ano passado estive com Anireves, a grande sabia, na estação primaveril. Fiquei muito impressionado com seus ensinamentos. As suas reflexões eram recheadas de um fulgor intenso, abrasador, cauterizante. Nelas, havia uma sabedoria marcada pelo compasso do tempo e do espaço que gritara nos meus ouvidos como um sopro, uma aragem divina com aroma de flores silvestres. Tudo era muito poderoso, profundo, cativante e vivo!
Este ano mudei a estação e a procurei no inverno. Encontrei-a contemplando o esqueleto de um velho pau d’arco massacrado pela inconsciência cinzenta dos deuses mortos em vida. Esperei com paciência, muita paciência, para ouvi-la.  De repente ela se voltou para mim e o seu rosto estava iluminado, brilhante! Fiquei perturbado, inseguro; e sem me dar conta – sua voz rasgou o silencio que nos separava – homem da terra, “Manu” já sentenciou: “Quando se danificam grandes árvores, deve-se pagar uma multa proporcional à sua utilidade e seu valor; tal é a decisão”.
Face a face, continuei ali pasmo com aquele ser único... Nada me ocorria além de admirar aquela imagem que os meus olhos me ofereciam naquele instante. Sem me refazer daquele impacto Anireves disse-me ainda, homem da terra guarde isto em seu coração, pois foi uma grande alma que escrevera no seu código: “Aquele que perdoa aos aflitos que o injuriam, é honrado por isso no céu; mas aquele que, por orgulho de seu poder, conserva ressentimento, irá por essa razão para o inferno”.
Estas assertivas são instrumentos valiosíssimos para se construir uma humanidade justa, rica em atos nobres e sóbria em suas realizações. De modo que são elas sombras abundantes deixadas às futuras gerações para que não pereçam sob o sol causticante do deserto árido da arrogância.
Depois de pronunciar estas duas sentenças, Anireves deixou o seu posto de contemplação e se encaminhou em direção à planície vertical que a esperava bem a nossa frente. Adiante volveu o seu rosto para mim e como se um trovão saísse de sua boca, disse: nem o ódio nem as nulidades poderão prosperar entre vocês, defenda o direito de quem procria; a maternidade é a mais sublimes das obras do Senhor. Então, lembre-se: “se o homem vivo é a gloria de Deus; não tortureis sequer com uma flor uma mulher culpáveis de cem faltas”. E se foi.
  

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A LÍNGUA PERVERSA DO SANGUE

PARABÉNS


A inconformidade do néscio está na sua imensa dificuldade de não saber diferenciar os sabores que adoçam a vida. Por exemplo: que gosto tem o respeito pelas pessoas, humildes ou importantes? Que ingrediente divino tem o paladar da verdade? Que deguste saborosa há na essência que nos ajuda a crescer como seres humanos, chamada apenas de amor? E nunca, talvez nunca jamais, experimentou as delicias da paz!
Nos ensinamentos de Jesus, segundo Mateus, C. 15, v. 11, rebatendo o farisaísmo insano e aos infames doutores da Lei, disse: não é o que entra na boca que torna o homem impuro, mas o que sai da boca, isso torna o homem impuro.
No entanto, é o ódio que se destila contra as pessoas que torna a gente um ser amargo, pequeno, infeliz e só, a exalar pelos poros eflúvios fétidos de maldade, de ranzinzasse. Isto, porém, é reflexo de um passado desértico cheio de tempestade, sol escaldante e inverno seco. Sendo isto, portanto, completamente, o inverso dos planos de Deus; um baixio fértil com temperatura amena, brisa mansa e suave a produzir frutos de boa qualidade.
Certa vez um poeta no momento de ira contra as infâmias dos homens disse:
A humanidade é um ventre fecundo
De partos podres e filhos medonhos
Frutos amargos de perturbados sonhos
Que a irracionalidade trouxe ao mundo.
Talvez fadigado das grosserias dos infaustos que lhe rodeiam, o pobre poeta disparou esta quadra fortíssima, tentado dessa forma dissuadi-los, afugentá-los, mas, porém, era preciso muito mais que isso para deter o rancor que eles tanto acalentam nos profundíssimos recôncavos de suas personalidades indefinidas e enfeitadas de inglórias.
O sangue que grita além da formula humana real padece muito de aflitivo distúrbio de inferioridade racional, de impotência moral e de fraqueza psíquica. De modo que, os princípios ativos que norteiam o conceito da razão de relacionamentos, de fato, são concebidos a partir da razão pura que por sua vez, gera em seu santíssimo ventre a verdade, filha unigênita de Deus.   



terça-feira, 14 de outubro de 2014

NÁUFRAGOS

Autor: Américo Falcão

Eu, timoneiro audaz, parti, cantando,

Na galera de sonhos, pela vida.
O lindo e imenso mar atravessando...
Vendo largo... bonança indefinida...

Do mar a superfície adormecida

Que o sol beijava rútilo, raiando,
Era uma veiga azul toda florida
De espuma leve em flóculos boiando.

Fazendo rumo ao porto da ventura,

Mostrou-se o céu de plúmbea face adunca
E a galera perdeu-se em noite escura...

Ai que momento lúgubres, medonhos!

Nautas da crença, eu não me esqueço nunca,
Do naufrágio sinistro dos meus sonhos.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

VÊS?


Autor: Américo Falcão

Já foi bonita essa mulher que passa,
Essa mulher que vês, assim velhinha,
Já foi outrora o símbolo da graça
Quando no rosto mocidade tinha!

Era nobre mulher de fina raça
Quando entre gala orgulhosa vinha,
Magnetizava a multidão na praça,
Reverberando risos de rainha...

Vejo-te agora nas manhãs da vida,
Dizem também que és símbolo da graça,
Que és estrelas dos azuis caída...

Mas... quando velha andares pela praça,
Há de dizer a multidão sentida:
Já foi bonita essa mulher que passa!