quinta-feira, 16 de junho de 2011

AQUI TUDO É POSSÍVEL


Estamos no Brasil, onde tudo é possível, até morar num engradado de enxaiméis e varas tortas, fasquias, barro amassado, sem ter janelas e nem portas: um quadro de vidas vivas expondo tão-somente imagens mortas, pintado ao longo do tempo pelos nossos governantes. Mas não estranhe, não; somos a sétima economia do mundo!

Temos um parque industrial de fazer inveja a muitos países; dominamos o átomo, e já podemos desenvolver a bomba atômica. Dá-lhe Brasil! O nosso potencial tecnológico ascende a passos largos aperfeiçoando-se a cada dia, agregando valores, alicerçando suas bases para atingir os objetivos traçados para o grau de potência emergente, grande hem? Quanto ao petróleo, o nosso ouro negro, a auto-suficiência já nos basta, certo? Talvez. Resta saber se ela realmente existe.

A agricultura bate recorde anos após anos, mas quem ganha o prêmio é Ronaldo, o Nazário, que não tem nada de nazareno, mas já salvou a Pátria brasileira. O cara é tão sortudo que escandalizou as crianças do mundo e a ONU, mas levou um relógio de ouro como gratidão pelo muito que tem feito pela devassidão mundo afora.

As nossas expectativas comerciais mais rentáveis atendem agora pelo nome de turismo: histórico, ecológico, religioso, de aventura e de eventos... De eventos? Sim, de eventos. Quanto á modalidade, disse o filosofo, eis a questão. Agora pensemos, portanto, na filha de uma grande autoridade vendendo seu corpo ao turista estrangeiro, e este avisado pelos agentes “especiais” que, haverá no roteiro uma adolescente brasileira na flor da idade para saciar-lhe a tara. Jóia, não? É assim meu caro, quem manda mesmo é o dólar, sabe? Mas é uma pena! Ah, sim, ia esquecendo, a adolescente que está na rota de colisão com o turista não é filha de uma grande autoridade, mas de um cidadão que ganha o salário mínimo. Viva o Brasil!

E a saúde?! Ora meu caro, estamos assistindo uma das mais bem sucedida operação sanitárias de todos os tempos. Agora, a bola da vez, são os pobres das periferias essa gente deve morrer, sugere o descaso dos gestores públicos. Lembra da segunda Guerra Mundial, o caso dos judeus? E o dos Muçulmanos da Bósnia? Pois é. Descartar pobres é a coisa mais fácil do mundo: eles não têm “poder” e o mais grave, são desorganizados. É uma gente perdida, gastar dinheiro com eles não compensa porque não tem retorno. O melhor, nesse real momento é desassisti-los porque morte e estatística fazem cadáveres, monges e beatos.

Finalmente vamos falar da deusa, a educação. Das cem maiores universidades do mundo, pasmem! Nenhuma é brasileira. Chato? Que nada. Chato mesmo é saber que a educação nunca foi levada a sério neste País. Atentem para o ano de 1852, quando o grande Gonçalves Dias, no seu relatório de inspeção, dizia: “quero crer perigoso dar-se-lhes (aos aldeados) instruções”. O senador Oliveira Junqueira (1879) dizia: “certas matérias, talvez, não sejam convenientes para o pobre; o menino pobre deve ter noções muito simples”, e outro senador de igual eloqüência, Teixeira Junior acrescentou: “a grande massa deve ter apenas instruções elementar”. Gostaram? Não? Então vejam o que disse na França em 1849, defendendo a “liberdade de ensino”, Thiers: “instruir pobre é acender o fogo debaixo de uma panela vazia”.

A frase agora é a seguinte: não é impossível promover as demandas sociais quando não existem expectativas de “caixa”.