domingo, 28 de dezembro de 2014

FÉ E POLÍTICA


Amigos sugeriram-me por i-meio que eu escrevesse um texto sobre fé e política. Retruquei-lhes com veemência, dizendo-lhes que eu era a pessoas menos indicada para tal empresa, alegando-lhes no entanto, que os meus conhecimentos eram ínfimos e não podia tecer qualquer linha a esse respeito para não ser ridicularizado pelos estudiosos do assunto que com toda razão fariam. Mas, embora sabendo que há um movimento no País que desde algum tempo, promove encontros pra tratar da relação entre “fé e política”, resolvi fazer algumas considerações.
Então, logo me veio à primeira indagação. Por que o poder político (leia-se Herodes) governador e todo poderoso na época do nascimento de Jesus, na cidade Belém, ao tomar conhecimento do fato através dos magos do oriente, sentiu-se tão ameaçado a ponto de mandar matar a ferro todas as crianças de Belém e de todo território ao redor, de dois anos para baixo, calculando a idade pelo que tinha averiguado dos magos? Mateus C2, v16.  
O Evangelista Lucas coloca Jesus no ambiente político da época com a seguinte informação: fazia quinze anos que Tibério era imperador em Roma. Pôncio Pilatos era Governador da Judeia, Herodes Governava a Galileia, seu irmão Felipe, a Ituréia e a Traconítide, e Lisânias Abilene; Anás e Caifás eram Sumos sacerdotes (C3, v1-2). Percebe-se que: quem nas mãos tinha o poder político, sob o seu umbigo estava também o religioso. Ou o contrário. Essas valiosas informações reforçam o raciocínio a seguir.
A relação entre fé e política não pode ser ignorada – o bispo sul-africano Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, no alto do seu saber e de forma espetacular sentencia: “não há nada mais político do que dizer que a religião nada tem a ver com a política”. De modo que também podemos perguntar: por que a missão evangélica e salvadora de Jesus causou tanta insegurança às elites dominantes da época em Israel, a ponto de unir forças políticas profundamente opostas e inimigas a arquitetaram a sua morte? (Saduceus, fariseus e herodianos).
Marcos responde essa pergunta logo no início de seu evangelho, as curas: C1, v23, o homem possuído por um espírito mau; C1, v30, a sogra de Simão estava de cama; C1, v32, os doentes e os que estavam possuídos pelo demônio; C1, v40, o leproso; C2, v3, o paralítico; C3, v1, o homem da mão seca.   
Preso Jesus, sob a acusação de blasfêmia, por um sistema opressor disfarçado de religião, “o levaram à casa do Sumo sacerdote Caifás, onde os doutores da Lei e os anciões estavam reunidos” (Mateus C26, v57). “Então eles levaram Jesus à casa do sumo sacerdote. E se reuniram todos os chefes dos sacerdotes, os anciões e os doutores da Lei” (Marcos C14, v53). “Ao amanhecer, os anciões do povo, os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei se reuniram em conselho, e levaram Jesus para o Sinédrio” (Lucas C22, v66). “Então a tropa, o comandante e os guardas das autoridades dos judeus prenderam e amarraram Jesus. A primeira coisa que fizeram foi levar Jesus até Anás, que eram sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano”. Caifás é aquele que tinha dado um conselho aos judeus: “é preciso que um homem morra pelo povo” (João C18, vs12-13-14). “Então Anás mandou Jesus amarrado para o sumo sacerdote Caifás” ( João C18,v24). Assim se inicia o teatro macabro donde os lideres do poder religioso e do poder político se encontram para dar cabo ao filho de Deus – (religioso Anás e Caifás – político Pôncio Pilatos e Herodes) – mancomunados, viam nas ações puras e verdadeiras de Jesus motivações políticas, mesmo Jesus afirmando: “meu reino não é deste mundo”. Mas, o temor das elites religiosas de perderem os privilégios forçava um desfecho que servisse de exemplo e não deixasse duvida da força da corja. De modo que esses representantes fantasiados de religiosos buscaram apoio no poder político, o governador Pôncio Pilatos, para dar legalidade ao fato, embora Jesus já estivesse sido condenado à morte pelo seu próprio “povo”.
A farsa – “Então Pilatos saiu fora e conversou com eles: que acusação vocês têm contra esse Homem”? A multidão alienada – “Se Ele não fosse um malfeitor não o teríamos trazido aqui”. Pilatos disse: “encarreguem-se vocês mesmos de julgá-lo, conforme a Lei de vocês”. (...) (João C18, vs29, 30-31)   
“Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes eram inimigos”. (Lucas C23, v12).
Sendo, então, forçoso pensar que as ações de Jesus põem em reboliço as ideias religiosas da época. Um líder diferente que indagava aos seus discípulos o que os homens pensavam Dele, de sua atuação religiosa, da sua divindade que insistentemente dizia a todos “o meu reino não é deste mundo”. E assim, perguntava-lhes: “Quem dizem os homens que eu sou?” E continua: “E vocês, com os discípulos, quem dizem que eu sou?” Marcos, C8, vs27, 29. Em Lucas acontece o mesmo, no C9, vs 18, 20 “Quem dizem às multidões que eu sou?” “E vocês, quem dizem que eu sou?”.
Será que os lideres do sistema que condenou Jesus a morte ousariam fazer a perguntar que Jesus fizera aos seus discípulos? Claro que não ousariam, porque certamente já conheciam a resposta que não lhes era favorável. Assim entendemos que fé e política estão ligadas, juntas em nossas vidas, porque exprimem alguma coisa de real, de positivo; que tem o sentido das realidades precisas em cada um de nós, afinal somos seres sociais, temos afinidade, empatia, relação e interesse comum.       


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

ESQUELETO DE UM SÍMBOLO, O VELHO PAU D’ARCO EM SÃO MAMEDE



FOTOGRAFIA - MANOEL LUCENA – COLÓ.
Blog colocidade

Foste tu, velho pau d’arco
Senhor de linda ramagem
Representante supremo
Da natureza selvagem
Rebento divo da terra
Que enfeitava a paisagem.

Quanta inveja causaste
Ao te ornares de flores!
Quanta magia esbanjaste
Em meio à flora em cores!
Quantas tribos amparaste
Cansadas de suas dores!

Cansadas de suas dores,
Quantas tribos amparaste?
Em meio à flora em cores,
Quanta magia esbanjaste?
Ao te ornares de flores
Quanta inveja causaste?

Quantas aflitas cantigas
Ouviste na tempestade
Das tribos antes da guerra
Invocando a divindade
Com os guerreiros em transe
Num misto de ansiedade?

Depois da guerra a dança
Pra festejar a vitória:
Rituais e oferendas,
Sacrifícios, fé e gloria
Aos deuses purificados
De existência in memória.

Olhando teu esqueleto
Vejo quanta violência
Sobre tu velho pau d’arco
D’uma gente sem consciência
Que assistiu a tua morte
Sem te prestar assistência.

Durante teus ledos anos
Suportaste mil tormentas
Nos dias tempestuosos
Ou nas tardes nevoentas,
Nem estragos te fizeram
As borrascas truculentas!

Se de pé estais ainda
Com esse gesto funesto,
É porque o teu destino
Expressa um manifesto
Num grito silencioso
Como forma de protesto.

A tua imagem medonha
Em situações noturnas,
Causa impressões assombrosas
E vibrações taciturnas
Com rajadas destorcidas
Das ventanias soturnas.

Deste nome a um bairro
No auge de tua grandeza
Pujante, linda, viçosa,
A divisão da beleza,
Estandarte da caatinga,
Relíquia da natureza.

Por fim, meu velho pau d’arco,
Fatal foi minha omissão
Sou cúmplice de tua morte
Por não te dar proteção,
De joelhos ao teu cerne
Venho te pedir perdão.

João Pessoa – PB, 10 de agosto de 2014.


                                                     Mário Bento de Morais