quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

OS ALGAROBEIROS - LEMBRAM-SE DELES?

             Esta  foto era do início da rua Janúcio Nóbrega
em São Mamede- PB, assim como a que está abaixo,
credito de Mário Bento de Morais.

Algarobeiros, Algarobeiros
Predestinados sombreiros
Dos transeuntes trigueiros
Que vagueiam meu sertão,
Num  caminhar de formigas,
E sob as sombras amigas
Descansam suas fadigas
Num ato de comunhão.

E quando a tarde desmaia
O véu da noite se espraia
E os pardais e gandaia
Comemoram envaidecidos
Depois vem a madrugada
E o canto da passarada
Desvirgina alvorada
Nos teus galhos escondidos.

Algarobeiros as alegrias
Que tu deveras sentias
Quando a mão de Malaquias
Com carinho te aguou
E agora em fase adulta
Outra mão mais que astuta
De forma cruel e bruta 
Tua morte Decretou!

Os nossos conterrâneos precisam deleitar-se com esta foto de Edésia Junior, iluminadamente uma obra de arte! A qual parece mais uma dádiva dos céus em forma de presente para embelezar ainda mais a terra. A visão do fotógrafo é algo que não se explica. Ele enxerga por um viés que nós seres comuns e mortais não enxergamos, são lances que nos causam impactos pela beleza sutil que nos oferece. 
                  Igreja de N.S. da Conceição - São Mamede    
                                 Foto de Edézio Junior 
A sensação que temos quando observamos esta foto é que não temos palavras para traduzir tamanho significado. A expressão é muito forte, é uma torrente de beleza que deságua bem em nossa frente causando uma grande emoção - é a Igreja de Nossa Senhora da Conceição em São Mamede - não há quem não exclame: é linda!
Aqui eu não quero falar do fotógrafo, mas da arte, ou  da realização de Deus, quando o homem busca imitar a natureza. Vou apenas agradecer e contemplar porque sou muito pequeno, mas sempre tento olhar pro alto. Parabéns Edézio Junior, que outras lindas fotos possam chegar até nós com o mesmo significado e expressão.



sábado, 8 de dezembro de 2012

Os bombons coloridos - A história de Luiz Xavier de Andrade


Os bombons coloridos - A história de Luiz Xavier de Andrade

Aquela casa grande, de portas grandes, de balcão grande e verde onde escondia meus bombons coloridos. Sim, bombons coloridos de feliz memória que recorda aquela infância também feliz.


Feliz também porque Seu Luíz era feliz. Homem trabalhador, chegou ao sertão paraibano como empregado, vindo das terras pernambucanas. Tornou-se grande comerciante. Querido por todos da cidade, tanto que muitos o chamavam de compadre, sabia angariar amizade com sua simplicidade e seu modo de tratar as pessoas.

Visitado por muita gente, sabia receber com mesa farta, mesa do sertão. Não tinha inimigos porque sabia perdoar, também não sabia fazê-los. Homem dedicado aos filhos, não media esforços para dar-lhes estudo. Um brejeiro que depressa se adaptou ao clima do sertão. Rigoroso, principalmente com as filhas. Os anos 30 contribuíram com a rigidez: namorado não alisava banco na casa dele e quando ocorria de algum rapaz chegar à sua porta,perguntava:

- O que está acontecendo aí?
- Morreu galego?

Casamento não demorava mais de seis meses.

- Quem procura namoro é porque pode casar, dizia ele.

Era o dono daquele mundo maravilhoso onde se encontram pedaços de minhas reminiscências. Com que saudade evoco aquela fachada enorme, parada, fitando aquele templo sagrado, a igreja da cidade.

"Novo Horizonte" não era o por do sol, não era uma planície vulgar, sem história, sem beleza. "Novo Horizonte"não era uma criação qualquer.Não era um círculo limitado da nossa observação, nem uma perspectiva futura.

"Novo Horizonte" era um dos pontos mais movimentados da minha São Mamede. O Super-Mercado de ontem aperfeiçoado como os de hoje...

Assim era o "Novo Horizonte." Lá você encontrava do biscoito fino à ferragem. Se algo faltava em sua casa, corria-se ao "Novo Horizonte". Não era só os da localidade que procuravam aquele centro de abastecimento. O espetáculo alegre, vivo, colorido dos matutos à porta da loja nos dias de feira é algo que não se pode esquecer.


Era a mesinha para isto, o tempero para aquilo, era o vestido para Chica, a bolacha da filha, era o pó-de-arroz para Maria, tudo ali se encontrava.

O colorido com que se revestia aquele pátio enorme que adormecido ficava durante a semana para acordar nos dias de feira com o relinchar das alimárias.

Os animais eram amarrados nos grandes pés de árvores que faziam sombras como se fossem enormes lençóis estendidos na terra quente do sertão. Terra de homens que conhecem os horrores da seca.

O tempo corre, passa e hoje não existe mais o "Novo Horizonte", não existe Seu Luís. O tempo devora tudo.Existe, sim! Nas memórias dos que o conheceram. Lembro-me dos bombons coloridos, os chamados "Rasga-Boca. Lembro-me dos grandes vidros de bombons coloridos.


José Carlos Xavier de Almeida, autor do texto "Os bombons coloridos", é neto do Sr. Luiz Xavier de Andrade, proprietário do  "Novo Horizonte", um dos primeiros pontos comerciais de São Mamede.Licenciado em Letras pela UNICAP, em Pedagogia pela FUNESO;Pós-Graduado em Língua Portuguesa pela UFPE; Membro da Academia Recifense de Letras; Membro da Academia Olindense de Letras; Membro da Academia Goianense de Letras (Anápolis-GO); Sócio efetivo da União Brasileira de Escritores (Secção-PE).Trabalhos Publicados- O povo não fala errado (Diário da Borborema,Campina Grande - PB),A Poética de Antonio Telha (Diário da Manhã, Recife - PE), entre outros.

domingo, 2 de dezembro de 2012

ÍCONES DA HISTÓRIA DE MINHA TERRA



O século XX usou sua melhor matéria-prima para produzir com muito zelo, fabulosos exemplares de uma linhagem única que levou milhares de milhar de anos para ser purificada em São Mamede. Essa estirpe gerou valentes desassombrados que não cediam nem um milímetro ao perigo e até o código genético dessas verdadeiras Instituições perdera-se no tempo e nem existe mais o ferreiro que os forjou. De moral irrepreensível eram símbolos de uma época. Solícitos e de modos práticos, humildes e de maneiras gentis, generosos de acordo com os dogmas religiosos perenes na sociedade em que foram criados e ainda, corriam em suas veias a legitima hospitalidade do sertanejo. De verves aguçadas na escola da vida, aprenderam cedo demais o sentido do viver, descobriram com os deuses o caráter do respeito e o vinho da sabedoria, gostavam da vida, eram exemplos de hombridade, lealdade e tolerância.
Tinham por hobby o trabalho, eram intransigentes defensores da honra e da família, honestos a ponto de sacrificar os interesses dos entes queridos a serem acusados de desvio de conduta; jamais alguém profanou o nome dessas verdadeiras instituições, nem enquanto vivos e muito menos depois de mortos. Viveram para servir e serviram mais do que suas forças lhes permitiam: eram racionais, práticos e gostavam da vida simples do sertão. Sonhavam fervorosamente com o progresso da amante cobiçada, a terrinha amada que os vira nascer.
Conheciam o futuro porque o carregava nas mãos, previam as chuvas e anunciavam as secas, domavam as tormentas! Viam o coração dos homens pela janela da verdade, não se impressionavam com os arroubos dos fracos, nem com a força dos fortes, nem com a inteligência dos sábios; eram deuses com características de homens, eram homens enquanto deuses. A natureza teve lá suas razões, quando criou os seus diferentes e os aceitou iguais; já os homens além de não se aceitarem iguais, se veem diferentes, por isso a existência desses deuses que se honraram homens.
Tive por sorte, o privilégio e a santa permissão dos céus de estar lada a lado com dois dos três que vou exaltá-los aqui: Julio Nery, eu não o conheci, mas seus feitos ficaram na memória do povo, os quais eram motivo de reunião familiar lá em casa. Meu Pai e minha Mãe tiveram a sorte de conhecê-lo pessoalmente e dessa pérola humana, eles contavam pra gente as histórias de suas ações, às vezes, demasiadamente humana, às vezes, brilhantemente moral, as quais nos impressionavam muito pela firmeza e determinação. Sem dúvida Julio Nery vivo era uma estrela, morto uma constelação que se tornou uma lenda em São Mamede.  
Inácio Bento de Morais, pracinha brasileiro herói da Segunda Guerra Mundial, como Radiotelegrafista na Itália, Pátria de Mussolini, deixou um legado para posteridade que orgulha muito seus conterrâneos. Era de uma linhagem de bons cidadãos. Acostumado à lida do eito, criado na simplicidade do sertão da Paraíba, galgou relevância primando pela moral e bons costumes. Foi à Guerra em nome da liberdade voltou líder e reconhecido. Trouxe para vida civil o que aprendera na caserna. A Guerra lhe aperfeiçoou a arte de servir, tornou-se político de ações efetivas e generosas, venceu obstáculos e preconceitos intransponíveis, desafiou o orgulho exacerbado dos poderosos para alentar a humildade do seu povo, era um gentleman! A sua História e seus feitos concretos marcaram a um só tempo o cidadão e o político – aos dois a veneração e o pedestal! – merecido destaque que se impõe aos que relutam em não contar esse extraordinário capitulo da belíssima História recente de São Mamede.
Izauro Eliziario Dantas, pracinha brasileiro herói da Segunda Guerra Mundial, esteve aquartelado no Recife esperando ordem de embarque para lutar nos campos da Itália, terra do grande Cícero, legou as gerações futuras um bem imensurável, indizível e muito escasso nos nossos dias: a personalidade pura, definida e austera. Assumia com orgulho a palavra dada, mesmo que lhe trouxesse prejuízo, era um cavalheiro daqueles dos bons tempos! Descendia do homem da terra árida, acostumado a dureza da labuta sem escolha, “da morte sem chorar”, mas também, sabia nos momentos de polidez exalar a candura do sertanejo. Na caserna adquiriu ensinamentos necessários que ajudaram a nortear sua vida e polir suas ideias. Tinha consciência do perigo e da brutalidade de uma Guerra, mas também conhecia a beleza da liberdade, por que fora criado livre como os pássaros do céu nas caatingas (panteões dos vaqueiros) de São Mamede.