segunda-feira, 31 de agosto de 2020

SEXTINA


A verdade...! Só a verdade...!

Cinge-se sempre a pureza,

Sóbria vence a vaidade,

Sensibiliza a pobreza,

No tempo da tempestade

Quebra a força da riqueza.

 

 Refém queda-se a riqueza

 Ante a severa verdade;

 Domina-se a tempestade

 Aos desejos da pureza

 D’alma que zela a pobreza

 E despreza a vã vaidade.

 

 Em que pese essa vaidade

 Quando a rudez da riqueza,

 Tende pisar a pobreza

 Aviltando a sã verdade

 E assim, desmaia a pureza

 Num quadro de tempestade.

 

 E verga-se a tempestade,

 Ao condenar a vaidade,

 Cedendo aos dons da pureza

 E dócil nega a riqueza

 Abraçando-se a verdade

 E Franciscando a pobreza.

 

 Eleva aos céus a pobreza

 Acalmando a tempestade,

 Assim, a santa verdade,

 Desconforta a tal vaidade

 Às pretensões da riqueza

 Se submetendo a pureza.

 

 Eis, que quão nobre a pureza,

 Que Lado a Lado a pobreza

 Está além-mar da riqueza

 Sem tentar a tempestade

 Pra não atrair a vaidade

 E assim poupar a verdade.

 

 Ainda que polua a pureza,

 Ainda que marque a pobreza

 A Paz prescinde a riqueza!

 

 

Mário Bento de Morais.

 


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

SEXTINA


 Em face a face ominosa
 Pressagio de um desejo
 Junto à face luminosa,
 Já que o mínimo lampejo
 De pura beleza airosa
 Por todo universo andejo.

 Em desesperação andejo
 Pela vã vida ominosa
 Buscando a figura airosa
 Para sentir o desejo
 De ao menos ter o lampejo
 De uma beleza luminosa.

 Guardo a imagem luminosa
 Que pela quimera andejo,
 Talvez um simples lampejo
 Torne a vida então ominosa
 No entanto, preze o desejo
 E encontre a virgem airosa.

 Vem-me ó minha diva airosa
 Com a áurea luminosa
 Alimentar o desejo
 Pra nesse fero andejo
 Cesse essa dor ominosa
 E brilhe mais o lampejo.

 E de lampejo em lampejo
 Acontece linda, airosa
 Desfaz-se a dor ominosa
 Pra sublime luminosa
 Diminuir cada andejo
 Que suscitava o desejo.

 Contudo, apraz-me o desejo,
 Embora cada lampejo
 Possa dominar o andejo
 De vê-la castiça airosa
 Em sua tez luminosa
 Sem essa face ominosa.

 Em nada custa o desejo
 No entanto, tolher lampejo
 Ajuda a conter o andejo.


Mário Bento de Morais





quarta-feira, 26 de agosto de 2020

SEXTINA


 De grito em grito vai à humanidade
 Sugando-se rumo ao fim do desejo
 De encontrar-se firme na caminhada
 Que busca a juventude luminosa
 Para ser doce apenas por um dia
 Nem que se fadigue à felicidade.

 Esplêndido! Eis a felicidade! 
 Mas e agora? Brada a humanidade:
 Tanto, mas tanto suor por um dia?
 Ou nada interessa além d'um desejo,
 Que nasce com a mente luminosa
 Na gênese da tenra caminhada.

 Aos poucos se torna vã a caminhada
 E perto se avista a felicidade,
 Que então, se supunha ser luminosa
 Ao olho amoroso da humanidade,
 Que se queima em extremoso desejo
 De viver toda vida por um dia

 O desvelo d'uma vida por um dia
 Tem-se por mérito uma caminhada,
 Que busca tornar capaz o desejo
 De alcançar em vida a felicidade
 Para que o sonho da humanidade
 Seja uma luz clara e bem luminosa.

 E, ao que procura a fonte luminosa
 Mostra-se quão feliz viver um dia
 Na esperança de que a humanidade
 Cresça cristalina na caminhada
 Rumo ao encontro da felicidade,
 Entre as dores do tormento e o desejo.

 Vencido pelo vigor do desejo,
 Espera-se a luz do bem,  luminosa,
 Que espalhe profunda felicidade
 Por anos e não por um mero dia,
 E assim valer sofrer a caminhada
 Que traz o viver à humanidade.

 Pouco a pouco se domina o desejo,
 E em cada manhã clara e luminosa
 Venha o astral da velha felicidade.


Mário Bento de Morais




domingo, 23 de agosto de 2020

A EXCELÊNCIA O VALE DO SABUGY


Oh! Deusa do primoroso siso,

Dai-me a força motriz que eu preciso

Pra que eu cante triste o estertor

Das almas mortas de peles nuas

Expostas nas calçadas das ruas

Esmolando sobejos de amor.

 

Enfim, quem são essas miseras almas?

São as herdeiras íntimas das palmas,

Que medraram a malta à fartura...

Com as mãos sem almas, mas em palmas,

Fantasmas frágeis, vidas em traumas

Sob surdos aplausos da loucura.

 

Dos céus o Divino assiste o drama

Desses espectros postos à lama

Por ordem da limpeza vital,

Da valha casta vil brasileira,

Lume que destruirá a videira

Colosso da impureza real.

 

Oh, Meu Deus supremo de olhos justos!

Olheis como Verbo entre os arbustos

Espinhosos, tão grande horror!

Desfilando festo além da praça

Humilhação perversa que esgarça

As almas que padecem de dor.

 

Dessas almas segregam-se os sonhos

Bichos feios de olharem medonhos,

Dispersos entre as palmas das almas!

Que entre olhos cegos vivem o breu

Do gueto que mutila o plebeu

Em meio a sonhos tolos e traumas.

 

As almas vivem os sonhos morrem,

As palmas soam, os gritos correm

Sem almas, lerdos, buscando um norte...

As palmas mortas de dores vivas

As almas vivas em mãos cativas

Solenemente aplaudindo a morte.

 

Deixem-nas que vivam essas pobres

Almas de míseros sonhos nobres,

Que penam dores em vidas mortas!

Se mortas deem-lhes graças vivas

Se vivas libertem-nas altivas

Para que durmam entre idiotas!

 

Já os néscios a sombra das luzes,

Choram a caridade entre as cruzes

Dos insepultos vultos em vida;

Almas nutridas de calma e morte

Alegam a Deus em sangue a sorte

Severamente desprotegida.

 

E as palmas raras das almas calmas

Ferem a calma santa das almas,

Que sonham o sonho irreal

Das almas que flutuam aladas

Entre aquelas almas já penadas,

Que purgam no universo moral.

 

Ah! Se o Justo contemplasse as almas,

Que padecem em penadas palmas

Sob o olho do monstro capital!

Talvez, sentisse a pena da pena

Moral vil de tediosa cena

Símbolo do mundo desleal.

 

E tu deste mundo, ò almas ronhas,

Sobrestem as sensações medonhas,

Que crestam os ânimos da gente

E nutrem a verdade inflexível,

Graça humana do bem visível,

Que alimenta a bondade da mente.

 

Porém, a esmo toda rudez mental

Fere o cognitivo social

Da frágil condição de viver,

Anônimo que sorrir sem arte

No submundo vive e depois parte

Na morte que nunca quis morrer.

 

Urdir sonhos cria sensações

As quais alimentam as paixões

Da ordem morta do interesse mudo

Que não escuta a forte voz fraterna

E cala na garganta moderna

Do grito inorgânico do surdo.

 

E, no lajedo íngreme in extenso

Burilou-se o fado em talho denso

Nas almas que ferem a vã estética,

Tese feia que aflige e extasia

O olho que só sente fantasia

Sob crivo fantasioso da ética.

 

E a verdade se extenua aos poucos

Na intelectual cela dos loucos,

Niilistas do luxo fatal!

Que cuidam dos sofismas caídos

Construídos nos mundos falidos

Causando o sistema natural.

 

Na teia vil da íntima existência

Das almas frágeis de escassa essência

Arrancam-lhes ainda as virtudes,

Destroçam-nas cônscios jocosos

Manietam berços valiosos

Sob o olho de vãs solicitudes.

 

E, se querem almas velhos sonhos,

Teçam-nos em apriscos medonhos

Como fez Luiz ao chegar á glória;

Pesem com brilho justo os mitos

Legenda, ás vezes, nos faz contritos

Muito antes de nascer á história.

 

Galgar o mundo é prazer que induz

Os homens que só miram a luz

Do eu senhor em meio à tempestade

Das almas que fitam a justiça

Lady cega que cede a cobiça,

Megera que zomba da igualdade.

 

Já os donos de nós flamam-se aflitos

Com a mulher dos seios benditos,

Plenos, cheios que lhes dão vigor,

E, se ás vezes, causam seu poder,

Por estirpe podem exercer,

O jugo a nação inferior.

 

Esses donos feros de obra e nomes

Leem jugos ás almas infames

De berço em razão de sua glória;

Vencem almas à cadeia escrava

Do santo que age na classe brava

A sorte no solo da história.

 

Exortam a paz de face crua,

Farsa épica que se perpetua

Nas cavernas dos alcoviteiros,

Súcias divas irmãos do crime

Inquices vãs que a ninguém redime

Guias torpes dos falsos obreiros.

 

E as almas honradas de mãos postas

Oram lassas as cargas das costas

Sob o riso cruel da moral

Que o justo explora na escuridão

Das almas torturadas em vão

Debaixo da santa lei venal.

 

Eia! A idade viçosa do mundo,

Que testilha as almas lá no fundo

Da humana ilhota atormentada:

Com dons a tecer felicidade

Nos fossos da insensibilidade

Da elite que pena enfatuada.

 

Essa gente tonta busca a esmo

Nos restos sandios de si mesmo,

O complexo do ser sem a essência,

Sem âmago o ser é alegoria

Espectro, fábula, teoria

Urdida n’alma da decadência.

 

Erguer almas tem-se instituições

Sólidas, faustas sem mandões,

Nem gênios acima do sol,

Apenas a vida em plena rua

Sem a lei que grife a pela nua

Das almas que fitam o arrebol.

 

Nas palmas aos céus a redenção,

Até Picote aponta à amplidão

Em louvação a serra da cozinha,

Já viram beleza igual no mundo?

Ali Cristo pregou e orou profundo

Pela liberdade sua e minha.

 

Depois chorou o pecado covarde,

Que usa a força na fragilidade

Do outro fraco anulando-o em vida,

Cultura hostil que aflige almas

Nas ruas feias das urbes calmas

Quando até a palavra é proibida.

 

Mário Bento de Morais

 

domingo, 16 de agosto de 2020

SEXTINA


Ando passo a passo, dia após dia,
Não sei se vivo e nem se é verdade
Que devo ao tempo um curto passado;
Ora, foi-se tudo e eu nem vi; calo-me;
E, apenas me vejo instante a instante
Longe, além! Oh, Deus! Por que cresci?

E assim, sem vigor nos passos, cresci,
Contemplando minguar o andar do dia   
Que era meu e eu via a todo instante
Definhar o dia e eu numa verdade
Olhando-me morrer sem grito, calo-me
Para olvidar-me desse passado.

Momentos festos passam o passado
Longe de mim que sem vê-lo cresci
Junto aos grilhões do tempo, assim calo-me,
E mudo vivi surdo o dia-a-dia
Recluso em mim dentro da verdade
Que me dava lições a todo instante.

Sim, deram-me a vida por instante,
Mas marcaram a ferro meu passado
Pra que eu viva apenas a verdade
No entanto, perguntei, por que cresci?
Era enfim, a ordem que dita o dia
Com um forte grito de ira e, calo-me!

Assim, sem pensar em mim vivo, calo-me,
Para não esquecer aquele instante
Que de tão fértil foi apenas um dia
Que me fez o presente no passado
Sem culpa, mas não sei por que cresci!
Nem me passaram o olho da verdade.

Eis, enfim, o final do dia em verdade,
Nada restou, veio o fim, e assim calo-me!
Nem sondei e nem perguntei, por que cresci?
Porque eu queria o ultimo instante
Estar em concerto com o passado
Que morria calmo dia após dia.

Mas, ninguém esperou pela verdade
Vi tudo e por não poder falar, calo-me,
Sem desvendar, oh, meu Deus! Por que cresci?


Mário Bento de Morais