quarta-feira, 25 de junho de 2014

POVO SEM MEMÓRIA



Segundo o autor de “A BAGACEIRA”, José Américo de Almeida, “ninguém se perde na volta”. Sinceramente, não foi o meu caso, na volta eu me perdi! O caso se deu no ultimo de maio, quando fui à festa de encerramento do mês Mariano, na minha terra, a ninfa do nobre e sofrido Sabugy, São Mamede. Alguém por maldade sujou-lhe o rosto, feriu-lhe a graça, atirou-lhe a ultima fecha, talvez por piedade ou pena, e lhe acertou em cheio o peito. O absoluto do bárbaro chegou ao ápice, é o fim!  
   
Fiquei desapontado e cheguei à conclusão de que o bárbaro merece respeito, mas não poder. Vi a História dos nossos ancestrais desrespeitada e o nosso orgulho exposto no lixo, sem pelo menos nos dar o direito de chorarmos o nosso infortúnio. Já diziam os antigos, em terra de ninguém qualquer “um” é rei. Então, quando um povo renuncia cuidar do seu próprio destino é por que deseja tornar-se escravo. E assim, seja!

O prédio da prefeitura municipal de São Mamede, construído entre os anos de 1954 e 1955 do século passado, perdeu o seu encanto, a sua beleza arquitetônica fora prostituída, puseram abaixo a sua originalidade, "profanaram o templo!". Seus antigos janelões de madeira de lei foram substituídos por janelas de vidro – disseram-me “modernas”. As alegações foram, por assim dizer, as mais diversas: queríamos dar ao prédio (leia-se o ego) um aspecto bonito, de modernidade, disse-me uma autoridade, que era bárbaro. Em seguida questionei: o mundo moderno tem-se preocupa muito com a preservação da historia, por que aqui acontece o contrario? Recebi uma resposta que não me convenceu e ficou por isso mesmo...

Diante de tamanha insânia, suponho que tenham consultado o povo para provocarem essa desastrosa agressão ao patrimônio artístico e cultural da cidade ou pelo menos o plano diretor ou será que agiram com o peculiar instinto técnico administrativo? As hipóteses possíveis que deram ao gestor o lastro para tomar a decisão abrupta e rancorosa de assassinar a memória dos nossos ancestrais habitam sempre de forma negativa a seara dos nativos e congestionam a boa vontade dos mais otimistas. E foi por isso que eu me perdi na volta.    
  


sábado, 14 de junho de 2014

O MURO DE BERLIM/SÃO MAMEDE/APARTHAEID

Será que o Muro da vergonha caiu mesmo? Será que o Apartheid de fato chegou ao fim? Ou será que tudo não passa de uma farsa para legitimar ainda mais o poder das elites? Talvez o Muro físico tenha vindo abaixo, mas o invisível não! O Muro que realmente separa que humilha que destroça família e tolhe-lhe o direito, continua de pé firme e forte, silencioso, disfarçado, dissimulado, com mil faces, trejeitos imagináveis e firulas indiscretas, ás vezes, em rua da pequena ou da grande cidade, dos vilarejos ás corruptelas perdidas lá pelos cafundós; e lá estar “ele” ridículo e feio, degradando homens, mulheres e crianças, matando sonhos!    
Com o fim da 2ª guerra mundial as potencias vencedoras procuraram instalar uma nova ordem para gerir os destinos do planeta, mas os esforços esbarravam sempre nos ditos “interesses políticos” de: Estados Unidos, Inglaterra e França capitalistas, e a Rússia comunista.
Nesse tempo, falava-se muito num acordo político/econômico/social que pudesse agradar aos dois lados que tinham interesses diversos e disputavam os despojos da guerra, mas não se falava no interesse do povo derrotado que não inventou e não queria a guerra. Sem o tal acordo dividiram a Capital Alemã Berlim em 4 partes, chamadas de setores: os setores capitalistas juntos formaram a Alemanha ocidental prol ocidente e a capital Berlim Ocidental; o setor prol oriente sendo o único comunista ficou sob os domínios da Rússia, capital Berlim Oriental.
Desde o fim da 2ª guerra em 1945 até o inicio da construção do muro em 1961, Berlim Oriental tornou-se a porta de fuga da maioria da população dos países comunistas descontente com o regime, e para evitar fuga em massa o muro foi construído sob os auspícios e esforços da Rússia líder do comunismo mundial.
Em 1989 veio o colapso econômico e político da Rússia que levou de quebra todo Leste europeu, isso se deu por uma serie de erros históricos injustificáveis: a particularização da utopia, do sonho; a estatização da renda e dos bens materiais, a incompetência e a corrupção; deixando os países do bloco, inclusive Alemanha oriental, sem liderança. A mentira tem pernas curtas, o disfarce não resiste a verdade, a farsa falseia sempre, o mito sucumbiu e a história veio à tona. O povo descobriu as mazelas e o trágico fim da ultima quimera – o poder que nunca teve – e que agonizava em público lentamente; a população foi ás ruas algemar psicologicamente os derradeiros soldados da “fronteira” que tentavam resistir a onda que ia devastar impiedosamente a opressão, chamada de liberdade, não por convicção ideológica, mas por força do soldo que paga a violência e mantém a paz.
O povo derrubou o Muro! O Muro caiu! Imagine que sensação fluíra das pessoas quando redescobriram o outro lado do Muro. A redescoberta traz o novo que era velho, com mais emoção, com mais prazer, de forma que o velho nunca existiu porque é sempre novo; isto vale também para o povo que quando quer se renova.
Assim, foi à África do Sul, dominada por colonizadores de origem inglesa e holandesa (os de sempre), após a Guerra dos Bôeres em 1902, início do século XX, cuidara definir a política de Segregação Racial – uma insanidade brutal contra a humanidade – formula desumana de manter dominado o povo nativo. Esse maldito sistema tornou-se conhecido em todo mundo como Apartheid – decretado pelo Ato de Terras Nativas e as Leis do Passe.
Esse Ato obrigou o negro a viver em reservas ditas especiais, criando profunda desigualdade na divisão de terras do País. Forçando 23 milhões de pessoas negras a ocuparem apenas 13% de todo território nacional, enquanto 4,5 milhões de brancos eram donos dos restantes 87% das terras. A lei dos “brancos” também proibia que os negros comprassem terras fora da área reservada a eles, criando dessa forma uma imensa dificuldade á ascensão não só econômica, mas social e política e ao mesmo tempo uma garantia de mão de obra de forma barata para os latifundiários.
Nas cidades aos negros era permitido viverem nos quetos – área isolada da dos brancos – a executarem trabalhos estritamente essenciais, afora isto, as Leis do Passe os obrigavam a apresentar o passaporte para poderem se locomover dentro de sua Pátria/mãe para procurar um emprego. A partir de 1948, a situação que já era ruim ficou pior com a ascensão dos Afrikaaners (brancos de origem holandesa) ao poder por via do Partido Nacional, que assumiram o controle hegemônico da política do país, consolidando em definitivo a segregação racial com o inventário de toda criança recém-nascida.
A Lei de Repressão ao Comunismo veio acompanhada da formação dos Bantustões (territórios reservados à população negra na África do Sul de acordo com sua etnia pelo governo racista em 1951), essa foi a fórmula encontrada pelo governo para dividir e confinar em comunidades independentes os negros e a maneira de estimular a divisão tribal, fragilizando a possibilidade de guerra contra o domínio da elite branca. Mas nada disso pode efetivamente impedir que as populações mesmo segregadas se organizassem e promovessem grandes mobilizações para reclamar e chamar a atenção do mundo que se negava a ver a injustiça cometida por um governo que africanamente pensando era imoral e humanamente “ilegítima”, contra uma gente impotente.
As mobilizações serviram para unir e conscientizar o povo segregado Sul Africano sobre a necessidade de uma urgente tomada de posição a favor da liberdade. De modo que em 1960 cerca de 10.000 negros queimaram seus passaportes no gueto de Sharpeville, porém foram violentamente reprimidos. As greves se tornaram frequentes por todo País, as manifestações se espalharam, o exército ocupou as ruas e houve inúmeros confrontos. Com o aumento da violência e a truculência do governo, não demorou muito para que os fatos extremos surgissem no horizonte sóbrio, era preciso morrer muitos nas mãos de poucos, para se alcançar o bem. (Bonaparte). Acusado de atrocidade o governo racista ensaia uma má sucedida ruptura com a Comunidade Britânica; funda-se a Lança da Nação, braço armado do CNA; acontece à prisão de Mandela (Mandiba) em 1963, condenado a prisão perpetua acusado de terrorista.    
Na década de 70, agrava-se a situação. A radicalização aumenta em escala exponencial, a guerrilha tenta minar as estruturas oficiais com atos de sabotagem, esse método também foi utilizado por parte do governo para culpar os militantes do CNA, além-claro, de uma intensa repressão contra o povo. Veio, portanto, a década de 80, o apoio interno e externo foi decisivo á luta contra o Apartheid e se intensificou, quando figuras como Winnie Mandela e bispo Desmond Tutu se engajaram na luta.
Como sempre e de costume, a ONU, apesar de condenar o regime sul-africano, não interveio, nada fez para diminuir a dor e o sofrimento daquela gente; nesse sentido, apenas o boicote realizado por grandes empresas nacionais e internacionais as praticas criminosas do governo, forçou uma mudança de atitude, isso se deveu a propaganda contrária que o comércio com a África do Sul representava. A partir de 1989, após a ascensão de Frederick de Klerk ao poder, a famigerada elite branca dar início as negociações para pôr fim ao conflito civil, que determinariam a legalização do CNA e de todos os grupos contrários ao apartheid e a libertação da maior figura do século XX, Nelson Mandela (mandiba)