sábado, 18 de julho de 2020

VERSOS AO OCEANO DESERTO

Ideólogos buscam preservar
E dirigir sob freios a história,
Atiçando da multidão a memória
À corrupção que a faz alienar,
Prostituir-se, mentir e negar
A cuna que a fizera triunfante,
Porém, a isca foi mais insinuante,
Do que as lições ensinadas na aldeia
Não se deve envolver-se nessa teia
De interesses da classe dominante.

Escutem ao menos uma só vez
Os que por vocês foram enganados,
Lesados nos seus direitos, pilhados
Das posses naturais e que talvez
Não lutem mais por essa viuvez
Que os fazem dominados e abatidos,
Muitos já sem impulsos e vencidos
Por reveses fatais nos tribunais
Que traídos por juízos venais
São fontes de motejos corroídos.

Os iguais relutam para não ver
Os desiguais alcançarem a escada
Da pirâmide de rude escalada
Na busca d’um lugar para viver:
Trabalhar, amar, sorrir e vencer,
Na vida com direitos e igualdade,
Ser festo cidadão à sociedade
Livre do servilismo e da ganância,
Cuidando dos iguais com elegância
Sem desmedrar o bem e a caridade.

Mário Bento de Morais


quarta-feira, 15 de julho de 2020

BRINCANDO DE CASINHA DE BONECAS


Duas crianças brincando
No mundo de fantasia
Sonhos se realizando
Na mais gentil harmonia
Duas meninas, dois anjos
No reinado da alegria.

Duas crianças felizes
No seu mundo em construção,
Casas cheias de bonecas
Família de ilusão
Sonhos de toda menina
Espalhados pelo chão.

A deliciosa idade,
A candura, o coração,
O encanto de ser criança,
A rica imaginação
O mundo de faz de conta
Desafiando a razão.

Duas rosas, duas vidas,
Em perfeita devoção, 
Como se orando ao Divino
Numa santa comunhão:
Dois instrumentos da paz
Dois apelos ao perdão.

Mário Bento de Morais

QUANDO PENSAR NA IGUALDADE


A igualdade é fábula adormecida
Nos monturos das senzalas da lei,
Sob a volição tácita do rei
Que sem trono governa sobre a vida.
Lá nas bolsas a posse é garantida
Que cala nas ruas os estertores
Dos prostrados no País dos horrores
Furtivos nos esgotos dos jornais,
Que em conluio negam aos tribunais
Ouvidos à equidade dos clamores

A igualdade é exigência humana,
Que o direito natural a examina,
Clausula pétrea que a Lei divina
Reconhece-a sublime, soberana,
Paradigma que a divindade emana
Para que o ínvido despreze a torpeza
D’alma pesada alheia a natureza
Do que é justiça para os desiguais
Não é legitimo a elite sugar mais
Gota por gota o sangue da pobreza.

Mário Bento de Morais


quinta-feira, 9 de julho de 2020

TEXTOS AO VENTO


Conheci homens pobres. Tão pobres que nada tinham além do dinheiro.   
Irmã Dulce.

A sabedoria grita nas ruas e levanta a voz nas praças. 
Provérbios –1- 20

E vocês, insensatos, até quando odiarão o conhecimento? 
Provérbios - 1 - 22

Quando o rico tropeça, seus amigos o sustentam, quando o pobre cai, seus amigos o rejeitam.
Eclesiástico 13 – 21

Há pobres e há ricos. Todavia, são mais felizes os ricos que são pobres que os pobres que são ricos.  
Octávio Caúmo Serrano

Um rico deu uma cesta de lixo a um pobre. O pobre sorriu e recebeu a cesta. Depois a esvaziou encheu-a de flores e a devolveu novamente. O rico ficou surpreendido e perguntou: por que você me deu flores se eu lhe dei lixo? O pobre respondeu: cada um dá aquilo que tem de melhor no coração!  
Autor desconhecido

O tolo estar sempre seguro de si, não caminha sobre a terra, voa acima dos montes, nada tem além de suas convicções. O sábio nunca estar seguro de si, caminha descalço sobre a terra, não gosta das alturas, sua paz, as dúvidas.  
Mário Bento de Morais

Eu prefiro ouvir os que pensam em razão da vida; valorizo os que se esforçam para convencer os néscios a removerem os antolhos que os tolhem de enxergar o mundo cinzento e assim se espantarem ante a morte daqueles que já foram à força que ajudou a construir este País, mas que agora, são exterminados sob os aplausos roucos da súcia em traje de gala, restolho de um deserto sombrio que teima em ressurgir da morte tardia. 
Mário Bento de Morais.






segunda-feira, 6 de julho de 2020

VERSOS AO DESERTO


 Lanhado n’alma, a praz-me o enleio da lama,

Como uma santa segredando consoladora,

O espírito caído, prole podre e morte civil

E podre aos olhos viúvos da mãe pecadora

Esfinge da anarquia, ostra dos palácios ocos;

Ah! Themis, fina-flor, maldita sedutora


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Está vendo aquela pobre infeliz

Que o tempo lhe ofereceu graves danos,

Amou demais teve tudo o que quis

Na alvorada fértil daqueles anos.

Porém, ao lembrar-se da mocidade

Vem-lhe ao peito monstruosa saudade

Da época prospera e cheia de graça

Aos poucos ver o seu mundo morrendo

Chorando por dentro ouve alguém dizendo

Já foi bonita essa mulher que passa


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Quando o justo se aliena na esquina

A verdade se sente desnudada

Com a vergonha exposta na calçada

Do colendo que a loucura domina.

A pena que condena não doutrina

E nem doutrina tão pouco ao que pune,

Porém, lhe outorga uma carta de imune

Aos vícios latentes na sentença

Da lei que não quer ver a diferença

Quando se quer deixar o rico impune.


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Eu não tenho histórico de atleta

E nem preciso de amigos que o tenha,

Minha vida não é palco pra resenha

Á gente que se vê como profeta.

A razão com saúde se completa

A saúde sem razão é sem futuro

Nem é sábio se lançar no escuro

Desafiando o mal desconhecido

S' esse vírus precisa ser vencido

Ficar em casa é muito mais seguro.








quarta-feira, 1 de julho de 2020

PRESENTE DE PAPAI NOEL

Aldemar Paiva, um alagoano buliçoso que resolveu contar em versos uma história que deveria ser conhecida em todo mundo por ser “real” e muito comum principalmente no Brasil dos desiguais. A história contada pelo poeta é muito doída, marcante e ainda expõe a ferida da desigualdade aberta, sagrando e produzindo miseráveis e famintos, imagens naturais no nosso meio. Uma mentira deslavada que de tão repetida ao longo da História fez com que o povo a absorvesse e a transformasse em destino, má sorte, desventura, infelicidade ou desdita. Mentira que destruiu gerações, escravizou, matou e feriu a alma do homem simples tão profundamente, que deixou marcas irremovíveis no cérebro dos já infernizados pela perversa desumanização sistêmica, responsável pela deficiência cognitiva programada – que o impede de admitir sem resistir: a pobreza e a submissão para uns e o poder e a abundância para outros.  
E foi num lance publicitário, no ano de 1931, no século passado, que a coca-cola usou a história de São Nicolau de Mira, um Bispo de origem Turca, nascido ai por volta de 280 d.C. que de acordo com a história, procurava proteger os mais carentes. Foi por causa dessa campanha, que Papai Noel adquiriu esse aspecto que conhecemos atualmente.
É consenso comum dizer – que a origem de Papai Noel é um elo que de fato está muito próximo ao aspecto humano de São Nicolau de Mira. Relata a história que São Nicolau de algum modo procurava fazer o bem e uma das maneiras para concretizar esse bem, era deixar algumas moedas próximas das chaminés das casas, daqueles que a ganância teima em dar-lhes nomes pejorativos de menos favorecidos. Esse ato de bem e caridade humana acontecia sempre à noite.
As histórias sobre os feitos generosos e realizados por São Nicolau de Mira dão uma dimensão de sua liberdade espiritual em favor dos humildes. Conta-se que um pai não possuía bens (dinheiro) suficientes para poder pagar os dotes de suas três filhas, o que cuidaria dizer que a família não tinha recursos para oferecer-lhes um casamento digno, honrado. Diante desse desalento moral imposto por regras de uma sociedade patriarcal insana, o pai em estado de sofreguidão resolveu conduzir as filhas para a prostituição. Porém, logo que tomou conhecimento da história das três jovens, São Nicolau resolveu atuar, tomou três saquinhos os encheu de moedas de ouro, conforme o valor dos dotes de cada filha, em seguida foi à casa da família pela madrugada, escalou o telhado e atirou os saquinhos com o ouro pela chaminé. Com essa atitude de São Nicolau, as jovens foram salvas da prostituição, e daí surgiu o mito do Papai Noel.   
Bispo de Mira
A sagração de Bispo da cidade de Mira aconteceu com São Nicolau ainda na juventude. A sua espiritualidade, caridade e sabedoria levaram-no a ser considerado por muitos que o admiravam como uma grande alma. De fato, São Nicolau exercia forte atrativo espiritual às pessoas, levava uma vida voltada à simplicidade, a humildade, a santidade. “Amava ao próximo como a si mesmo”. E, foi no afã de sua inabalável fé que promoveu ações de propagação e defesa do Evangelho nas regiões da Palestina e do Egito, sem nunca abandonar a cidade Mira.
Morte de São Nicolau
A história aponta que São Nicolau faleceu em 6 de dezembro do ano 326, na cidade que o vira nascer e muito amava, Mira. Seu túmulo tornou-se um local de peregrinação fervorosa; anos depois seus restos mortais deixaram a cidade de Mira na Turquia e foram transladados para a cidade de Bari, na Itália. Lá, até os dias de hoje, suas relíquias são motivos de grande veneração.  O culto a São Nicolau propagou-se por toda a Europa.
São Nicolau foi beatificado pela Igreja Católica pelos os grandes sinais que realizou. Muitos dos quais em favor dos pobres e desamparados. O Dia de São Nicolau é comemorado em 06 de dezembro, data de sua morte. Em virtude disto, muitas pessoas costumam montar as árvores de Natal nessa data. São Nicolau é o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega. Além disso, ainda é considerado o padroeiro dos estudantes.
Fontes de pesquisa sobre São Nicolau de Mira:
Em jornais, revistas, leituras em livros antigos e pesquisa na internet.


MONOLOGO PARA PAPAI NOEL

Aldemar Paiva - AL

Não gosto de você, Papai Noel...
Também não gosto desse seu papel
De vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade
Soubesse do seu ódio à humanidade
Jogavam pedras na sua fantasia.

Você, talvez, nem se recorde mais,
Cresci depressa e me tornei rapaz
Sem esquecer, no entanto, o que passou...
Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente,
E a noite inteira eu esperei contente,
Chegou o sol e você não chegou.

Dias depois, meu pai pobre cansado,
Trouxe um trenzinho feio, enferrujado,
Que me entregou com certa hesitação.
Fechou os olhos e balbuciou:
- É pra você... Papai Noel Mandou...
- E se esquivou contendo a emoção...

Alegre e inocente, nesse caso,
Pensei que o meu bilhete com atraso,
Chegara às suas mãos no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu,
Deu muitas voltas e meu pai sorriu
E me abraçou pela ultima vez.

O resto só eu pude compreender
Quando cresci e comecei a ver
Todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e me disse, a medo:
- Onde é que está aquele brinquedo?
- Eu vou troca por outro na cidade.

Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar.
E como quem não quer abandonar
Um mimo que lhe deu quem lhe que bem,
Disse medroso: eu só quero ele...
Não quero outro brinquedo, quero aquele...
E por favor, não vá levar o meu trem.

Meu pai calou-se e pelo rosto veio
Descendo um pranto que ainda creio
Tão puro e santo só Jesus chorou.
Bateu a porta com muito ruído,
Mamãe gritou, ele não deu ouvido,
Saiu correndo e nunca mais voltou!

Você, Papai Noel, se transformou
Num homem que a infância arruinou,
Sem pai e sem brinquedo afinal,
Dos seus presentes não há um que sobre
Para a riqueza de um menino pobre
Que sonha o ano inteiro com Natal!

Meu pobre pai, doente e mal vestido,
Pra não me ver assim desiludido,
Comprou por qualquer preço uma ilusão...
Num gesto nobre, humano, decisivo,
Foi de longe pra trazer o lenitivo,
Roubando o trem do filho do patrão.

Pensei que viajara, no entanto,
Depois de grande, minha mãe, em pranto,
Contou que fora preso. E como réu,
Ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus, um dia,
Entrou na cela e o libertou pro céu.