quarta-feira, 6 de outubro de 2010

14 DE FEVEREIRO DE 1939

Júlio Nery

Lateja ainda na mente e no coração de muita gente os fatos que desencadearam as muitas tragédias que assolaram “os anos trinta” na filha das “Neves”, a Paraíba. As emoções causadas por elas (as tragédias) e por tabela, os seus desdobramentos destruíram família importantes, e homens de cujo DNA perderam o código genético, a matéria-prima e a forja! Esses homens extraordinários, certamente, não poderiam viver muito tempo entre nós humanos... Somos fracos demais para estarmos ombro a ombro com deuses. Porém, o que mais nos entristece é a forma violente como eles nos deixaram, mas nos envaidece muito mais a certeza de que estivemos juntos no mesmo século. O legado desses valentes – “verdadeiras instituições” – dotados de uma moral inconteste, de uma honestidade acima da média, de uma bondade franciscana e de uma compaixão quase divina, são relíquias de um passado não longínquo, que para o bem de todos deveria ser resgatado.
Num susto de revolta contra o mal disse Ivã Karamázovi: “Esse mundo de Deus, eu não aceito e, embora saiba que ele existe, não o admito”. E arremata de forma brilhante. “Não é Deus que repilo, note bem, mas a criação”.
A década de “trinta” ainda vive não se sabe até quando, mas vive. Essa é uma constatação viva, imortal à Paraíba e as famílias que sofreram a truculência da vontade unilateral do mal. Schopenhauer faz-nos um alerta primoroso quando se manifesta sobre o mundo: “antes de ser a obra prima de um ser sumamente Bom, era qualquer coisa como o laboratório do diabo”.
O mal se apresenta com múltiplos rostos que confundem os menos atentos. São inúmeras as situações em que “ele” (o mal) aparece multifacetado e de várias formas. Suas ações são sempre iguais e com um fim único: desarmonizar o homem e Deus e, isso acontece desde o princípio dos tempos.
As peripécias do mal marcaram profundamente uma vilazinha do sertão paraibano chamada de São Mamede, em 14 de fevereiro de 1939. Um pau mandado da polícia militar da Paraíba. Um pobre diabo que atendia pelo nome de “Gabriel” – uma ironia ao mensageiro de Deus – dispara sua arma de fogo contra Júlio Nery Cabral. Um desses deuses que deixou uma herança estupenda de fidalguia. Um homem de mãos limpas, incapaz de causar um ato de injustiça, porém implacavelmente justo. Júlio Nery, era de um destemor sem medida, um valente desassombrado que afrontava o perigo, uma legenda que deixou centenas de admiradores em sua terra natal; um deus que certamente não morrerá na eternidade.

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