terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O SOCIALISMO EM RELAÇÃO A SEUS MEIOS – NIETZSCHE

O socialismo é o fantástico irmão caçula do despotismo quase falecido, do qual quer receber a herança; seus esforços são, portanto, no sentido mais profundo, reacionários. De fato, deseja uma plenitude de poder do Estado, tal como só o despotismo jamais teve, ultrapassa até mesmo tudo o que o passado mostrou, porque trabalha para o aniquilamento formal do individuo: é que este lhe parece como um luxo injustificável da natureza, que deve ser por ele transformado num órgão útil a comunidade. Em conseqüência desse parentesco, se mostra sempre na proximidade de todas as ostentações excessivas de poder, como o velho socialista típico, Platão, na corte do tirano da Sicília; deseja (eventualmente, exige) o despotismo de Cesar deste século, porque, como já disse, gostaria de ser o herdeiro.
Mas essa herança não bastaria a seus objetivos, necessita a sujeição total de todos os cidadãos ao Estado absoluto, tal como jamais existiu algo semelhante; e como não tem mais o menor direito de contar com a velha piedade religiosa para com o Estado, que pelo contrário deve, apesar de tudo, trabalhar constantemente para sua supressão – porquanto, de fato, trabalha para sua supressão de todos os Estados existentes – não pode ter esperança de uma existência futura senão durante curtos períodos, aqui e acolá, graças ao mais extremo terrorismo. Por isso é que se prepara silenciosamente para a dominação por meio do terror e enfia nas massas semicivilizadas, como um prego na cabeça, a palavra “justiça”, a fim de lhes tirar toda a inteligência (depois que essa inteligência já sofrer muito com a semicultura) e de lhes criar uma boa consciência para o jogo sujo que deverão jogar.
O socialismo pode servir para ensinar de modo brutal e convincente o perigo de todas as acumulações de poder no Estado e, nesse sentido, insinuar uma desconfiança para com o próprio Estado.
Quando sua voz rouca se misturar com o grito de guerra “O mais possível de Estado”, esse grito se tornará primeiramente mais barulhento que nunca, mais logo eclodirá com não menos força o grito oposto: “O menos possível de Estado”.

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