sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

CONTINUAÇÃO DOS GRANDES NOMES DA LITERATURA POPULAR

Mas, em fim o que é poesia popular? Suponho ser o modo puro e direto de animar e consolar os espíritos fadigados através da arte de fazer versos. Cantar os sentimentos do povo cuidando-lhe dos sonhos, ironizando as dificuldades, exibindo o fantástico e construindo cenas do dia-a-dia numa linguagem simples, sem mistificar a realidade, mas apresentando sempre o mundo literalmente real. O poeta Patativa do Assaré, faz uma comparação do poeta popular com o poeta clássico (cantor de rua) quando diz no início do seu poema “Cante lá que eu conto cá” – poeta, cantô de rua/ Que na cidade nasceu/ Cante a cidade que é sua/ Que eu conto o sertão que é meu – nas estrofes 11, 12 e 13; fica demonstrado, portanto, nesse aspecto, o quanto a poesia clássica se distancia da realidade para viver o mundo mágico das ilusões. Veja o que disse Patitiva:

Seu verso é uma mistura,
É um tá sarapaté,
Que quem pouca leitura,
Lê, mais não sabe o que é.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
E ôtros negoço impossive,
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão.

Canto as fulô e os abróio
Com todas coisa daqui:
Pra todo canto que eu óio
Vejo um verso se bulí.
Se as vez andando no vale
Atrás de curar meus male
Quero repará pra serra,
Assim que óio pra cima
Vejo um diluve de rima
Caindo inriba da terra.

Mas tudo é rima rastêra
Da fruita de jotobá,
De fôia de gamelêra
E fulô de trapiá,
De canto de passarinho
E da poêra do caminho
Quando a ventania vem,
Pois você já tá ciente:
Nossa vida é diferente
E nosso verso também.

À distância a que nos referimos acima, fica evidente na técnica refinada, na elaboração das imagens e no tom eloqüente dos versos marca registrada dos poetas clássicos. Outro aspecto importante é a migração de poetas populares para o meio clássico, às vezes, chegam até a ignorar as suas origens. Essa migração sempre se dá por três motivos possíveis: ascensão cultural, social ou econômica, fato inerente também as pessoas. A verdade é que quando se verifica certo nível de melhoria nas condições de vida, as pessoas tendem aprimorar as necessidades e refinar-se desprezando suas raízes, isso ocorre porque, dizem os novos clássicos, as concepções mudam e se aprofundam em direção ao esplêndido, o olhar simples passa a ser critico e exigente, despertam as regras que movem o “bom gosto” que sugere o belo e como conseqüência às artes clássicas.
Também, se pode afirma que a poesia não se originou em um único lugar, região ou País, a poesia tem sua origem na palavra, e esta criada apenas a “conferir designações às coisas”, encantou o homem e perpetuo-se como a primeira das artes. Estudiosos levantam questões as mais diversas para apontar a origem ou determinar o lugar de onde veio à poesia, mas creio ser esforço inútil. Relata a história que Homero foi o maior poeta Grego de todos os tempos, autor das obras Ilíadas e odisséias que tratam da civilização desse povo maravilhoso e que viveu entre os séculos 9 e 8 a.C, e acredita-se que sua vida vai até 700 a.C. Suponho ainda, que antes desse fabuloso poeta Grego, tenha existido outros tão fabulosos quanto ele: em impérios, reinos, colônias, estados e/ou cidades estados. Só que as obras desses poetas não chegaram os nossos dias, ao contrario das de Homero, isto por razões obvias, tais como: invasões, guerras, tirania e perseguições.
Todavia, países invasores do passado como: Inglaterra, Espanha, Holanda, França e Portugal, além de cometerem inominável violência aos países invadidos, ainda pilhavam suas riquezas e destruíam a identidade cultural do povo. Diferentemente do império Romano (não que esse império tenha sido bonzinho, isso não); mas procurava preservar a identidade do povo dominado para evitar problemas, segundo o poeta latino Horácio. Portanto, considerando a chegada desastrada dos espanhóis às Américas, poderíamos chamá-los de iconoclastas perversos e não colonizadores, que o diga os povos “Incas e Maias”, que habitaram às Américas.
Muito pouco ou quase nada restou da cultura exuberante desses povos. Certamente nessas sociedades havia poetas, escritores, pintores, músicos enfim, artistas. Quem eram eles? Como viviam? Onde estão as suas obras? Quem as guardou ou quem as escondeu? Ora, esses povos tinham uma cultura de um nível muito elevado para os padrões da época, algumas relíquias ainda existentes provam isto, mas são apenas retalhos dessas sociedades grandiosas e nada mais. Outros povos povoaram o mundo e legou suas culturas a posteridade, mas em que mundo elas estão?
As dúvidas pairam sobre uma nevoa densa de um passado longínquo e nebuloso, as explicações não convencem, sobram perguntas sem respostas. Assim, suponho que a poesia sempre esteve presente na vida dos povos; popular ou clássica não importa de onde veio e nem pouco ou muito me interessa. Apenas encho-me de alegria em saber que o primeiro verso foi obra de Deus, “Que exista a luz”! E a luz começou a existir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário