quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

MOTE/A LATADA DO TERREIRO ERA A FONTE/QUE FARTAVA A BULIMIA DA MALA.

 Poema em comemoração aos 70 anos de emancipação política  de São Mamede

01/05/1954 a 01/05/2024


A alegria era parte da maldade

Infinita á cacimba da ganância,

Oriunda da abjeta petulância

Império presumido da vaidade,

Flor fértil da irracionalidade

Que ainda tem o ranço da senzala

Sufocando o gemido de quem fala

Pela força da malta brutamonte,

A latada do terreiro era a fonte

Que fartava a bulimia da mala.


Pão e circo, o "banquete". Eia, viva o Rei!

Vibrava a multidão embriagada

De angústia e moralmente fadigada,

Domando a dor ao arrepio da lei,

Sonda-se o canto leve com Sirlei

Ao deus como preceitua a cabala,

Legitimando o grito que se cala

Nas ágoras sem a paz que o afronte,

A latada do terreiro era o fonte,

Que fartava a bulimia da mala.


Os acordes despertavam o eirado

Despedindo-se do dia faminto,

No monturo soturno do recinto

O rentismo se dava celerado.

Pelas mãos do eufórico desairado,

A honradez melindrosa se abala 

Cai por terra e na cautela da sala

Ouve a ordem soberana do arconte

A latada do terreiro era a fonte,

Que fartava a bulimia da mala.


Os sorrisos enfeitavam a noite,

Mas os rostos refletiam o dia

Tedioso, servil, sem ousadia,

Sem éolo nem borrasca que o açoite,

Nem ao menos a aragem da sonoute

Acalmava a tempestade que embala

A tristeza da chusma que combala

Com o peso da morte sobre a fronte,

A latada do terreiro era a fonte,

Que fartava a bulimia da mala.


Mário Bento de Morais


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