segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O CANGAÇO EM SÃO MAMEDE

O “Cangaço” em Reminiscências no Depoimento de Cobra Verde, do Bando de Antônio Silvino.


A história sempre me encantou muito, principalmente, quando relata as tropelias dos antigos valentes, homens desassombrados que não conheciam o medo e não levavam desaforo para casa. Sertanejos assanhados que povoaram o sertão, criados para sobreviverem a ferro e fogo sem melindre algum. 

E, foi lendo o livro “Gente de Ontem Historias de Sempre”, (edições Itacoatiara, pág. 17), texto O “Cangaço” em Reminiscências no Depoimento de Cobra Verde, do Bando de Antônio Silvino - da lavra do repórter de o “Jornal o Norte”, Dorgival Terceiro Neto - que descobri fatos da Historia dos anos 30, século 20, relacionados à minha terra São Mamede.

Trata do depoimento ainda em vida do ex-cangaceiro Odilon Sebastião da Silva, ao ilustre jornalista em 15/11/1987.

O texto tem uma riqueza imensurável de detalhes, e começa dando o nome do lugar aonde nascera. Assim narra seu Odilon ao jornalista: nasci ali na Umburana, hoje Itapetim, Pernambuco. Meu pai era da família Garapa, de Teixeira, Paraíba, e minha mãe dos cunhas, das Cacimbas, hoje município de Desterro, também na Paraíba, Mas eu fui batizado em Soledade.
 
Segundo seu Odilon, porque o pai havia se metido numa briga e foi preciso fugir às pressas. Eu era novinho e fui levado dentro de um saco para Soledade, onde meu pai foi morar na fazenda Santa Teresa, do Coronel Claudino Alves da Nóbrega, Dino perna-de- pau, porque tinha uma perna postiça de madeira.

Perguntado pelo repórter como se incorporou ao bando de Antônio Silvino, Cobra Verde dá seguinte informação: eu tinha dez anos de idade, quando ele apareceu em Santa Teresa. Procurava um menino para recados e mandados. Interessou-se por mim porque eu era ligeiro.

O ex-cangaceiro conta com precisão os detalhes da primeira virgem, do apego do Capitão Antônio Silvino pela Paraíba, dos combates, os reveses sofridos nas lutas, a constituição do bando com os nomes dos companheiros, os enfrentamentos com tiroteios, os nome dos coiteiros e narra com muita riqueza de informação como e porque aconteceu o REVÉS FINAL e a prisão do Capitão.

Adiante na pag. 26, falando de “Outros Fatos”, o repórter pergunta ao seu Odilon: E como comprava arma e munição? A resposta veio fulminante. Nunca comprou nada disso. E nunca deixou de ter rifle bom e bala. Os fazendeiros lhe davam, porque precisavam de amparo dele contra perseguições de inimigos e dos “macacos”, os policiais.

A seguir o repórter faz a pergunta que me chamou atenção. E os apetrechos do bando, quem os dava? A reposta não poderia ser tão significativa para mim como a que foi dada, pelo seu Odilon. Era tudo feito ali em São Mamede, pelos carocas: os chapéus de couro, cartucheiras, “alparcata” e bornais. Os punhais eram verdadeiros espetos. Também eram dados.

Ora, os Carocas eram uma família de artesões que residiam em São Mamede nessa época. Eram especialistas na confecção de artigos de couro e na produção de facas e punhais, porque também tinham o oficio de ferreiro. As peças eram disputadíssimas pela qualidade acabamento e forja. Essa família mantinha comércio intenso dessas peças com Campina Grande, importante centro comercial da época. É tanto que no fim dos anos 40, transferira-se definitivamente para lá e se tornara grandes comerciantes.

Esse depoimento de “Cobra Verde” reforça muito as narrativas de Sr. Antônio Luís de Lima, seu Antônio Caixeiro, como era conhecido em São Mamede – quando nas conversas de calçadas nos anos 60 – dizia seu Antônio, que o bando do Capitão Antônio Silvino, estivera mais de uma vez em São Mamede.

“Militar de 20 Conta História de Bandoleiros e Bando Armados”

Ainda sobre o livro, noutro depoimento fantástico, pag. 61, texto “Militar de 20 (1920) Conta História de Bandoleiros e Bando Armados”, agora do Coronel Manoel Arruda de Assis, em 1979, aos 92 anos de idade, ao magistrado, mestre de Direito e historiador Humberto Mello, ex-presidente do Instituto Histórico e Geografia do Estado, e a Maria Antônia Afonso de Andrade, que recolheram para o Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da Universidade da Paraíba, o que lhes contou o antigo militar.

“(...) O relato que fez o Coronel Manoel Arruda, dos fatos que viu e dos quais participou, são pinçados da gravação e reproduzidos a seguir, de forma sumaria (...)”.  Os títulos dos relatos são: ainda na Pag. 61 De Soldado a Coronel, na pag. 62 Volantes, na pag. 63 Os Bandos na pag. 65 Confrontos e Turras Com Zé Pereira e na pag. 66, o titulo é “Poderio de Zé Pereira”. Aqui vou transcrever o que disse o Coronel, porque trás uma informação muito importante para História de São Mamede.

O Coronel Manoel Arruda dá conta do poderio do Coronel Zé Pereira: José pereira era quem superintendia a construção dessa estrada que o senhor veio. Estavam fazendo essa estrada, carroçável, em 22, desde Sousa até São Mamede. Tinha um grupo todo armado de rifle e fuzil, de Jose Pereira. Era ele quem mandava no Estado. Mandava e desmandava. Ele tinha Prestigio naquela fronteira todinha de Pernambuco: Flores, Custódia e triunfo...

Obs. Os pesquisadores foram de João Pessoa até a fazenda do coronel, em pombal, para entrevista-lo. Portanto, quando ele disse “superintendia a construção dessa estrada que o senhor veio”. Estava se referindo a estrada que liga São Mamede a Pombal, hoje BR 230, claro que modificada em alguns pontos.

Esses dois depoimentos deixam que remontemos aos poucos a historia de nossa Terra. São esses retalhos garimpados a muitas mãos que vão dando a dimensão exata dos fatos ocorridos no passado e que, certamente, nortearam o ardor do nosso presente. A eterna ninfa do ygubas.
  

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