Amigos sugeriram-me por i-meio que eu escrevesse um texto
sobre fé e política. Retruquei-lhes com veemência, dizendo-lhes que eu era a
pessoas menos indicada para tal empresa, alegando-lhes no entanto, que os meus conhecimentos
eram ínfimos e não podia tecer qualquer linha a esse respeito para não ser
ridicularizado pelos estudiosos do assunto que com toda razão fariam. Mas,
embora sabendo que há um movimento no País que desde algum tempo, promove
encontros pra tratar da relação entre “fé e política”, resolvi fazer algumas
considerações.
Então, logo me veio à primeira indagação. Por que o poder
político (leia-se Herodes) governador e todo poderoso na época do nascimento de
Jesus, na cidade Belém, ao tomar conhecimento do fato através dos magos do
oriente, sentiu-se tão ameaçado a ponto de mandar matar a ferro todas as
crianças de Belém e de todo território ao redor, de dois anos para baixo,
calculando a idade pelo que tinha averiguado dos magos? Mateus C2, v16.
O Evangelista Lucas coloca Jesus no ambiente político da
época com a seguinte informação: fazia quinze anos que Tibério era imperador em
Roma. Pôncio Pilatos era Governador da Judeia, Herodes Governava a Galileia,
seu irmão Felipe, a Ituréia e a Traconítide, e Lisânias Abilene; Anás e Caifás
eram Sumos sacerdotes (C3, v1-2). Percebe-se que: quem nas mãos tinha o poder
político, sob o seu umbigo estava também o religioso. Ou o contrário. Essas
valiosas informações reforçam o raciocínio a seguir.
A relação entre fé e política não pode ser ignorada – o bispo
sul-africano Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, no alto do seu saber e de forma
espetacular sentencia: “não há nada mais político do que dizer que a religião
nada tem a ver com a política”. De modo que também podemos perguntar: por que a
missão evangélica e salvadora de Jesus causou tanta insegurança às elites
dominantes da época em Israel, a ponto de unir forças políticas
profundamente opostas e inimigas a arquitetaram a sua morte? (Saduceus, fariseus e herodianos).
Marcos responde essa pergunta logo no início de seu
evangelho, as curas: C1, v23, o homem possuído por um espírito mau; C1, v30, a sogra de Simão estava de cama; C1, v32, os doentes e os que estavam
possuídos pelo demônio; C1, v40, o leproso; C2, v3, o paralítico; C3, v1,
o homem da mão seca.
Preso Jesus, sob a acusação de blasfêmia, por um sistema opressor
disfarçado de religião, “o levaram à casa do Sumo sacerdote Caifás, onde os
doutores da Lei e os anciões estavam reunidos” (Mateus C26, v57). “Então eles
levaram Jesus à casa do sumo sacerdote. E se reuniram todos os chefes dos
sacerdotes, os anciões e os doutores da Lei” (Marcos C14, v53). “Ao amanhecer, os
anciões do povo, os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei se reuniram em
conselho, e levaram Jesus para o Sinédrio” (Lucas C22, v66). “Então a tropa, o
comandante e os guardas das autoridades dos judeus prenderam e amarraram Jesus.
A primeira coisa que fizeram foi levar Jesus até Anás, que eram sogro de
Caifás, sumo sacerdote naquele ano”. Caifás é aquele que tinha dado um conselho
aos judeus: “é preciso que um homem morra pelo povo” (João C18, vs12-13-14).
“Então Anás mandou Jesus amarrado para o sumo sacerdote Caifás” ( João C18,v24).
Assim se inicia o teatro macabro donde os lideres do poder religioso e do poder
político se encontram para dar cabo ao filho de Deus – (religioso Anás e Caifás
– político Pôncio Pilatos e Herodes) – mancomunados, viam nas ações puras e verdadeiras
de Jesus motivações políticas, mesmo Jesus afirmando: “meu reino não é deste
mundo”. Mas, o temor das elites religiosas de perderem os privilégios forçava
um desfecho que servisse de exemplo e não deixasse duvida da força da corja. De
modo que esses representantes fantasiados de religiosos buscaram apoio no poder
político, o governador Pôncio Pilatos, para dar legalidade ao fato, embora
Jesus já estivesse sido condenado à morte pelo seu próprio “povo”.
A farsa – “Então Pilatos saiu fora e conversou com eles: que
acusação vocês têm contra esse Homem”? A multidão alienada – “Se Ele não fosse
um malfeitor não o teríamos trazido aqui”. Pilatos disse: “encarreguem-se vocês
mesmos de julgá-lo, conforme a Lei de vocês”. (...) (João C18, vs29,
30-31)
“Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes eram
inimigos”. (Lucas C23, v12).
Sendo, então, forçoso pensar que as ações de Jesus põem em
reboliço as ideias religiosas da época. Um líder diferente que indagava aos
seus discípulos o que os homens pensavam Dele, de sua atuação religiosa, da sua
divindade que insistentemente dizia a todos “o meu reino não é deste mundo”. E
assim, perguntava-lhes: “Quem dizem os homens que eu sou?” E continua: “E
vocês, com os discípulos, quem dizem que eu sou?” Marcos, C8, vs27, 29. Em
Lucas acontece o mesmo, no C9, vs 18, 20 “Quem dizem às multidões que eu sou?”
“E vocês, quem dizem que eu sou?”.
Será que os lideres do sistema que condenou Jesus a morte
ousariam fazer a perguntar que Jesus fizera aos seus discípulos? Claro que não
ousariam, porque certamente já conheciam a resposta que não lhes era favorável.
Assim entendemos que fé e política estão ligadas, juntas em nossas vidas, porque
exprimem alguma coisa de real, de positivo; que tem o sentido das realidades
precisas em cada um de nós, afinal somos seres sociais, temos afinidade, empatia,
relação e interesse comum.