Andava
muito doente o velho professor. Por isso, não tinha mais o mesmo ardor, que outrora
possuía e que o animava dantes. Às vezes, quando em aula, havia mesmo instantes
em que inclinava a fronte (aquela fronte austera) e cochilava um pouco
involuntariamente.
Era,
porém, tamanho o bem que nos queria que jamais quis pedir aposentadoria e
manter-se do Estado a custa dessa esmola.
Era
sempre o primeiro a aparecer na escola, com joviais maneiras tão simpáticas,
não obstante sentir umas dores tão reumáticas que o fazia sofrer ultimamente.
Um
dia ele chegou mais tarde por alguns momentos, trazia na face alguns sinais de
sofrimento, a palidez do rosto, os olhos encovados, denunciavam seus pesares
ignorados. E, como tomar a dor mais manifesta, cavara-se fundo uma ruga em sua
testa. Franzia-se o rosto uma expressão de dor.
A
aula começou, mas, pouco depois das onze. O velho mestre, o bom trabalhador de
bronze, que já perto dos trinta anos ou mais, lutava todos os dias, dando
batalha ao vicio e combate a ignorância, sentindo de uma dor extrema, curvou
nobre face e cerrou de leve os olhos.
Lá
fora, fugia o sol.
A
manhã era calma.
E
sorrindo, a natureza abriu a sua alma, repleta de alegrias e cheia de esplendor.
Pela janela aberta, entrava o hálito das flores; em toda atmosfera azul, lavada
fina, ressoava baixinho, assim como em surdina.
Um
canto Celestial, harmonioso, suave, anjos tocando em harpa alguma canção de
amor.
Nisso
ergueu-se um aluno, um pândego, um peralta. Fabricou de um jornal um chapéu de
copa alta, e, bem devagarzinho, chegou-se ao mestre e “Zás” enfiou-lhe na
cabeça. E rápido se foi de volta ao seu lugar. O mestre nem abriu o sonolento
olhar. E aquele aspecto vil, de truão, de improviso, rebentou pela sala
estardalhante riso.
De
súbito, surgiu o diretor na sala. Demudou-se-lhe o gesto, estremeceu a fala. Quando
ele, transformando a sua mansidão de boi, em fúria de leão, nos perguntou: quem
foi? Quem foi esse vilão que fez tal brejeirice, sem respeito algum as fáceis
dessa velhice? Mas ninguém denunciou da brincadeira o autor.
Como
um truão dormia o velho professor.
O
diretor, então, chegou-se junto à mesa...
Via-se-lhe
no rosto, o incômodo, a surpresa de que o sono assim se prolongasse.
Curvou-se
meigamente e levantou-lhe a face. O mestre estava morto.
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