Qual o mortal capaz de
determinar a importância de Ariano Suassuna para as artes do mundo? Existem
palavras que expliquem o gênio irrequieto do criador do Armorial Brasileiro?
Receio que não. Mas, se por ventura, chegarmos à conclusão de que isto é possível,
estamos cometendo um grande erro, imensurável erro! De fato, não podemos pôr
limites a um ente tão expressivo se temos apenas por sorte os olhos para
contemplá-lo em sua divindade. Portanto, não convém discutir a importância...
de um Palhaço, mil vezes é colossal ouvi-lo.
O Armorial é pura Arte –
movimento cultural genuinamente brasileiro que surgiu no meio universitário sob
a batuta do maestro Ariano e de artistas e intelectuais da região Nordeste.
Inspirado nas manifestações populares do Brasil, principalmente nos folhetos
dos romanceiros (literatura de cordel), logo recebeu apoio incondicional do
Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da
Universidade federal de Pernambuco, da Secretaria de Educação do estado de
Pernambuco e da Prefeitura do Recife, como esteio oficial.
A verve desse imortal
transcendia o engenho humano, dimensioná-lo seria impor-lhe extremidades e
isto, o tornaria um simples mortal incapaz de sobreviver à eternidade. Ariano
era um visionário que enxergava pelos nossos olhos, escutava pelos nossos
ouvidos; as nossas palavras em sua boca ganhavam nobreza, força, graciosidade e
elegância.
Esse movimento –
denominado de “Armorial Brasileiro” – oficialmente levado ao conhecimento do
público no dia 18 de outubro de 1970, na capital Pernambucana, foi recebido com
grande entusiasmo. Na ocasião, houve um concerto e uma belíssima exposição de
artes plásticas ao ar livre no pátio de São Pedro, bem no centro da Veneza
nordestina. A intenção de Suassuna e seus colaboradores, desde o inicio, era
dar mais visibilidade as raízes culturais do meio popular brasileiro para dai
construírem uma arte erudita com as formas e cores do Brasil.
A Arte Armorial
Brasileira bebeu na cacimba do estro do romanceiro Leandro Gomes de Barros, filho
do sitio Melancia município de Pombal, “considerado de fato o verdadeiro
príncipe dos poetas Brasileiros”, segundo Carlos Drummond de Andrade. O
folclorista Câmara Cascudo descreve-o como sendo “baixo, grosso, de olhos
claros, o bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho contador de
anedotas, tendo fala cantada e lenta do nortista. Pleno de alegria, de graça e
de oportunidade”.
Os folhetos do
“Romanceiro” popular – denominado de literatura de cordel – são na verdade a
espinha dorsal da Arte Armorial. E, nas entranhas dessa manifestação cara aos
nordestinos, estão intrinsecamente arraigadas, àquelas forjadas na expressão da
alma e nas aspirações do povo brasileiro, principalmente nas suas formas: as
narrativas em versos e prosas; a xilogravura ilustrando as suas capas; a música
com o canto dos versos, tendo os seguintes instrumentos como acompanhamento: a
viola, a rabeca e em algumas particularidades, o pandeiro.
De modo, que toda criação
artística e cultural que tem no cerne o espírito criativo do povo brasileiro,
como: a literatura de cordel, a xilogravura, o coco, o coco de roda, reisado,
pastoril, bumba-meu-boi, maracatu, caboclinhos, folia de reis, cavalo marinho,
cavalhadas, teatro de bonecos, pintura, música, dança, gravura, tapeçaria, arquitetura,
teatro, cinema, cerâmica, escultura, escolas de samba, espetáculos populares e
encenações ao ar livre, cantares, saberes e a heráldica popular brasileira com
os brasões, bandeiras, estandartes e insígnias conspiram a favor do Movimento
Armorial.
Fontes consultadas:
Revistas: Veja e Época. Fundação Joaquim Nabuco. Jornal Nacional da Rede Globo,
Jornal da Paraíba e Jornal Correio da Paraíba e outras fontes do Meio Popular.
João
Pessoa – PB, 12 de agosto de 2014.
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