Vagava “um rico homem de sonhos” por “terras e reinos” distantes, “bosques e montanhas”, “mares e céus”. Por onde andara por todo esse tempo, “o rico homem de sonhos”, fazia uma pergunta que deixava intrigado o eu perguntado: como vives contigo e com os teus? - Respondeu um mancebo das terras: comigo nem bem nem mal; com os meus, a gente vive apenas.(sic) - O mandrião dos reinos, respondeu: eu não sei se vivo; com os meus, vegeto. - O néscio dos bosques, disse: comigo uma guerra diária sendo sempre eu o derrotado; com os meus, um fardo acima da minha capacidade de carga. (sic) - O eremita das montanhas, respondeu: comigo procuro-me entre os mortos; com os meus, deixo-os morrer. (sic) - O viandante dos mares, disse: comigo navego em mim para me descobrir; com os meus, os descubro tarde demais. (sic) - O transeunte dos céus, respondeu: comigo estive sempre além de mim e nas encostas do meu eu; com os meus, mato-os todos os dias sem compaixão. (sic) “O rico homem de sonhos” voltou a sua terra de berço. Erigiu um grande castelo, tão grande que tomou terras e reinos, bosque e montanhas, mares e céus e pôs dentro os mandriões, os néscios, os eremitas, os viandantes e os transeuntes. Enchendo-o de tal modo que não havia mais lugar para ninguém no castelo. Do meio do castelo cheio, o mandrião gritou para “o rico homem de sonhos”. O que vais fazer com a gente, “ò rico homem de sonhos”, vais nos matar?. O néscio também gritou e fez a mesma pergunta, o eremita, o viandante e o transeunte, sempre a mesma pergunta. “O rico homem de sonhos” respondeu-lhes: Os mortos vivem entre os mortos e não podem alcançar os vivos, de modo que entre os vivos vivem os vivos, e estes podem alcançar os mortos. Assim, quando compreenderes isto, compreenderas a ti mesmo e viveras em paz contigo. Então, cada ente deve viver primeiro consigo mesmo; porquanto elevar o convívio além da virtude do eu superior, a virtude torna-se inferior e o convívio um caos. E, se escutares o teu eu superior, fales ao teu corpo na mesma língua do teu eu superior, e este ser que habita o teu eu superior, viverá o convívio justo. Assim, não pode o eu criado à imagem e a semelhança de Deus ter defeitos; e se estes existem, foram adquiridos a partir da formação do eu inferior. Contudo, o eu inferior defeituoso viverá sem a virtude do eu superior, e isto também é o caos. Elogios adquiridos sempre elevam os ouvidos, e estes sedam a alma; mas o eu superior os repele, porque geralmente vêm do eu inferior, portanto, falso e sem virtude. Não te fadigues do mundo, pois se andares mais lento veras que outros mais ligeiros deveriam correr mais ligeiro ainda para te alcançar sem fadiga. Acalma-te verme! Não te esgotes do teu eu porque deves viver pra glorificar o Deus vivo.
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