Oh! Deusa do primoroso siso,
Dai-me a força motriz que eu preciso
Pra que eu cante triste o estertor
Das almas mortas de peles nuas
Expostas nas calçadas das ruas
Esmolando sobejos de amor.
Enfim, quem são
essas miseras almas?
São as herdeiras
íntimas das palmas,
Que medraram a
malta à fartura...
Com as mãos sem
almas, mas em palmas,
Fantasmas frágeis,
vidas em traumas
Sob surdos aplausos
da loucura.
Dos céus o Divino
assiste o drama
Desses espectros
postos à lama
Por ordem da
limpeza vital,
Da valha casta vil
brasileira,
Lume que destruirá a
videira
Colosso da impureza
real.
Oh, Meu Deus
supremo de olhos justos!
Olheis como Verbo
entre os arbustos
Espinhosos, tão grande
horror!
Desfilando festo
além da praça
Humilhação perversa
que esgarça
As almas que
padecem de dor.
Dessas almas
segregam-se os sonhos
Bichos feios de
olharem medonhos,
Dispersos entre as
palmas das almas!
Que entre olhos cegos
vivem o breu
Do gueto que
mutila o plebeu
Em meio a sonhos tolos
e traumas.
As almas vivem os
sonhos morrem,
As palmas soam, os
gritos correm
Sem almas, lerdos,
buscando um norte...
As palmas mortas de
dores vivas
As almas vivas em
mãos cativas
Solenemente
aplaudindo a morte.
Deixem-nas que
vivam essas pobres
Almas de míseros
sonhos nobres,
Que penam dores em
vidas mortas!
Se mortas deem-lhes graças vivas
Se vivas
libertem-nas altivas
Para que durmam
entre idiotas!
Já os néscios a
sombra das luzes,
Choram a caridade
entre as cruzes
Dos insepultos
vultos em vida;
Almas nutridas de
calma e morte
Alegam a Deus em
sangue a sorte
Severamente
desprotegida.
E as palmas raras
das almas calmas
Ferem a calma santa
das almas,
Que sonham o sonho
irreal
Das almas que
flutuam aladas
Entre aquelas almas
já penadas,
Que purgam no
universo moral.
Ah! Se o Justo
contemplasse as almas,
Que padecem em
penadas palmas
Sob o olho do
monstro capital!
Talvez, sentisse a
pena da pena
Moral vil de
tediosa cena
Símbolo do mundo
desleal.
E tu deste mundo, ò
almas ronhas,
Sobrestem as
sensações medonhas,
Que crestam os ânimos
da gente
E nutrem a verdade
inflexível,
Graça humana do bem
visível,
Que alimenta a
bondade da mente.
Porém, a esmo toda rudez
mental
Fere o cognitivo
social
Da frágil condição
de viver,
Anônimo que sorrir
sem arte
No submundo vive e
depois parte
Na morte que nunca
quis morrer.
Urdir sonhos cria
sensações
As quais alimentam
as paixões
Da ordem morta do
interesse mudo
Que não escuta a forte
voz fraterna
E cala na garganta
moderna
Do grito inorgânico
do surdo.
E, no lajedo
íngreme in extenso
Burilou-se o fado
em talho denso
Nas almas que ferem
a vã estética,
Tese feia que
aflige e extasia
O olho que só sente
fantasia
Sob crivo
fantasioso da ética.
E a verdade se
extenua aos poucos
Na intelectual cela
dos loucos,
Niilistas do luxo
fatal!
Que cuidam dos
sofismas caídos
Construídos nos mundos
falidos
Causando o sistema
natural.
Na teia vil da
íntima existência
Das almas frágeis de
escassa essência
Arrancam-lhes ainda
as virtudes,
Destroçam-nas
cônscios jocosos
Manietam berços
valiosos
Sob o olho de vãs
solicitudes.
E, se querem almas
velhos sonhos,
Teçam-nos em
apriscos medonhos
Como fez Luiz ao
chegar á glória;
Pesem com brilho
justo os mitos
Legenda, ás vezes,
nos faz contritos
Muito antes de
nascer á história.
Galgar o mundo é
prazer que induz
Os homens que só
miram a luz
Do eu senhor em
meio à tempestade
Das almas que fitam
a justiça
Lady cega que cede
a cobiça,
Megera que zomba da
igualdade.
Já os donos de nós
flamam-se aflitos
Com a mulher dos seios
benditos,
Plenos, cheios que
lhes dão vigor,
E, se ás vezes,
causam seu poder,
Por estirpe podem
exercer,
O jugo a nação
inferior.
Esses donos feros
de obra e nomes
Leem jugos ás almas
infames
De berço em razão
de sua glória;
Vencem almas à
cadeia escrava
Do santo que age na
classe brava
A sorte no solo da
história.
Exortam a paz de
face crua,
Farsa épica que se
perpetua
Nas cavernas dos
alcoviteiros,
Súcias divas irmãos
do crime
Inquices vãs que a
ninguém redime
Guias torpes dos
falsos obreiros.
E as almas honradas
de mãos postas
Oram lassas as
cargas das costas
Sob o riso cruel da
moral
Que o justo explora
na escuridão
Das almas torturadas
em vão
Debaixo da santa
lei venal.
Eia! A idade viçosa
do mundo,
Que testilha as
almas lá no fundo
Da humana ilhota
atormentada:
Com dons a tecer
felicidade
Nos fossos da
insensibilidade
Da elite que pena
enfatuada.
Essa gente tonta
busca a esmo
Nos restos sandios
de si mesmo,
O complexo do ser
sem a essência,
Sem âmago o ser é
alegoria
Espectro, fábula,
teoria
Urdida n’alma da
decadência.
Erguer almas tem-se
instituições
Sólidas, faustas
sem mandões,
Nem gênios acima do
sol,
Apenas a vida em
plena rua
Sem a lei que grife
a pela nua
Das almas que fitam
o arrebol.
Nas palmas aos céus
a redenção,
Até Picote aponta à amplidão
Em louvação a serra
da cozinha,
Já viram beleza
igual no mundo?
Ali Cristo pregou e
orou profundo
Pela liberdade sua
e minha.
Depois chorou o
pecado covarde,
Que usa a força na
fragilidade
Do outro fraco
anulando-o em vida,
Cultura hostil que
aflige almas
Nas ruas feias das
urbes calmas
Quando até a
palavra é proibida.
Mário Bento de
Morais
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