domingo, 16 de agosto de 2020

SEXTINA


Ando passo a passo, dia após dia,
Não sei se vivo e nem se é verdade
Que devo ao tempo um curto passado;
Ora, foi-se tudo e eu nem vi; calo-me;
E, apenas me vejo instante a instante
Longe, além! Oh, Deus! Por que cresci?

E assim, sem vigor nos passos, cresci,
Contemplando minguar o andar do dia   
Que era meu e eu via a todo instante
Definhar o dia e eu numa verdade
Olhando-me morrer sem grito, calo-me
Para olvidar-me desse passado.

Momentos festos passam o passado
Longe de mim que sem vê-lo cresci
Junto aos grilhões do tempo, assim calo-me,
E mudo vivi surdo o dia-a-dia
Recluso em mim dentro da verdade
Que me dava lições a todo instante.

Sim, deram-me a vida por instante,
Mas marcaram a ferro meu passado
Pra que eu viva apenas a verdade
No entanto, perguntei, por que cresci?
Era enfim, a ordem que dita o dia
Com um forte grito de ira e, calo-me!

Assim, sem pensar em mim vivo, calo-me,
Para não esquecer aquele instante
Que de tão fértil foi apenas um dia
Que me fez o presente no passado
Sem culpa, mas não sei por que cresci!
Nem me passaram o olho da verdade.

Eis, enfim, o final do dia em verdade,
Nada restou, veio o fim, e assim calo-me!
Nem sondei e nem perguntei, por que cresci?
Porque eu queria o ultimo instante
Estar em concerto com o passado
Que morria calmo dia após dia.

Mas, ninguém esperou pela verdade
Vi tudo e por não poder falar, calo-me,
Sem desvendar, oh, meu Deus! Por que cresci?


Mário Bento de Morais





Nenhum comentário:

Postar um comentário