Saudade não me atormentes,
Preciso viver em paz!
Não te bastas eu perde-la
por quê te fazes audaz?
Com ela trouxeste a dor
Para que em forma de amor
Submetas meu coração.
Por quê tanta selvageria,
Tanta fereza, grosseria,
Maldade e perseguição?
Por quê saudade, por quê
Esse ódio carbonizado?
O que te fiz, qual o mal,
Por esse ranço enraizado?
Tornaste feroz carrasco
No rosto desprezo, asco,
Exibidos na expressão
De tua figura abstrata
Que me condena, maltrata
Só por mísera obsessão.
Vives a punir quem ama
Envilecendo o perdão
E, por seres mal amada
Inventaste a solidão.
Só por inveja e vaidade
Feriste a felicidade,
Matando completamente
A vida que há no amor
Deixando tristeza e dor
Machucando-a plenamente.
Saudade tu te alimentas
D'um sentimento fecundo
Natural da ilha das lágrimas
Que fica no mar profundo,
Onde, ás vezes, se segrega,
O coração que se entrega
Intensamente encantado.
Por um bem além, distante,
Embora injusto, inconstante,
Mas que se ama deslumbrado.
O quê a saudade seria,
Se não existisse o amor?
Talvez um rude espinheiro
Num deserto abrasador,
Sem dar sombra nem encosto,
As intempéries exposto
Relegado na vastidão
Naquele mundo sozinho,
Nem pouso de passarinho
Comovia-lhe a solidão.
Mário Bento de Morais
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