Tudo nesta vida passa
Os caminhos, os atalhos,
As borrascas, os orvalhos,
O tempo que descompassa
O limite que ultrapassa
A corrida pela vida,
Que muito embora sofrida
Ninguém a deve tolher
Foi bonita essa mulher
Que caminha na avenida.
A beleza perde o brilho,
A graça ao passar dos anos
Desbota-se em desenganos,
Quando o desdém é empecilho,
A humildade deixa o trilho
Pra seguir linha perdida
Move-se despercebida
No tempo de se colher
Foi bonita essa mulher,
Que caminha na avenida.
O encanto vai se esvaindo
Escorrendo entre os dedos
Para esconder os segredos,
Que lhe restaram sorrindo.
A imagem lhe foi fugindo
Aos poucos e sem saída
Tornou-se enfim, esquecida,
Sem ninguém pra lhe acolher:
Foi bonita essa mulher,
Que caminha na avenida.
A idade desfaz os sonhos
Fecundos da mocidade,
Ao despertar a vaidade
Com seus dogmas enfadonhos,
Estilos torpes, medonhos,
Que a deixou descontraída,
Leve, solta, evoluída,
Para o seu mundo escolher:
Foi bonita essa mulher,
Que caminha na avenida.
Mário Bento de Morais
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