quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

MOTE/ FOI BONITA ESSA MULHER/QUE CAMINHA NA AVENIDA

Tudo nesta vida passa

Os caminhos, os atalhos,

As borrascas, os orvalhos,

O tempo que descompassa

O limite que ultrapassa

A corrida pela vida,

Que muito embora sofrida

Ninguém a deve tolher

Foi bonita essa mulher

Que caminha na avenida.


A beleza perde o brilho,

A graça ao passar dos anos

Desbota-se em desenganos,

Quando o desdém é empecilho,

A humildade deixa o trilho

Pra seguir linha perdida

Move-se despercebida 

No tempo de se colher

Foi bonita essa mulher,

Que caminha na avenida.


O encanto vai se esvaindo

Escorrendo entre os dedos

Para esconder os segredos,

Que lhe restaram sorrindo.

A imagem lhe foi fugindo

Aos poucos e sem saída 

Tornou-se enfim, esquecida,

Sem ninguém pra lhe acolher:

Foi bonita essa mulher,

Que caminha na avenida.


A idade desfaz os sonhos

Fecundos da mocidade,

Ao despertar a vaidade

Com seus dogmas enfadonhos,

Estilos torpes, medonhos,

Que a deixou descontraída,

Leve, solta, evoluída,

Para o seu mundo escolher:

Foi bonita essa mulher,

Que caminha na avenida.


Mário Bento de Morais

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