quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A MISÉRIA GENEROSA CONSTRÓI/MANÇÕES SOFISTICADAS PARA POBRE.


Eia, sus! Os vulneráveis por fim,

Vão morar em belíssimas mansões,

Num airoso condomínio fechado,

Por obra das boas intenções 

D'um gestionário iluminado

Às angústias dos ricos dedicado,

Haja vista, ser essa a causa nobre,

Que a consciência justa lhe condói:

A miséria generosa constrói 

Mansão sofisticada para pobre.


Os desvios justos foram o germe

Dos que sofrem felizes lá no cimo,

Sem recursos que lhes deem abrigos

Às famílias que esbanjam sem arrimo,

Mas sem punir a quem se fez o bem

Quando há tantos por aí que vão além,

Com o bornal abarrotado de cobre,

Que a ferrugem tenta, mas não corrói

A miséria generosa constrói 

Mansão sofisticada para pobre.


Há um bem acima da improbidade,

Que aquece na forja a nota fiscal

No limite permitido por lei

Ato discricionário vacal,

Que orienta conduz licitações,

Geri, controla, chefia as ações 

Cuidando para que ninguém exprobre,

Transformando-se num falso herói 

A miséria generosa constrói 

Mansão sofisticada para pobre.


A lama otimista guarda a ganância,

Que vive como o abutre, espreitando,

A presa que por infeliz destino,

Exponhe-se a morte se descuidando!

Essa presa é o pobre despojado,

Pelas as injustiças, calejado,

Por carregar a cruz da vida sobre

Os ombros chagados, aí como dói!

A miséria generosa constrói 

Mansão sofisticada para pobre!


Mário Bento de Morais

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

SAUDADE


Saudade não me atormentes,

Preciso viver em paz!

Não te bastas eu perde-la

por quê te fazes audaz?

Com ela trouxeste a dor

Para que em forma de amor

Submetas meu coração.

Por quê tanta selvageria,

Tanta fereza, grosseria,

Maldade e perseguição?


Por quê saudade, por quê

Esse ódio carbonizado?

O que te fiz, qual o mal,

Por esse ranço enraizado?

Tornaste feroz carrasco

No rosto desprezo, asco,

Exibidos na expressão

De tua figura abstrata

Que me condena, maltrata

Só por mísera obsessão.


Vives a punir quem ama

Envilecendo o perdão

E, por seres mal amada

Inventaste a solidão.

Só por inveja e vaidade

Feriste a felicidade,

Matando completamente

A vida que há no amor

Deixando tristeza e dor

Machucando-a plenamente.


Saudade tu te alimentas

D'um sentimento fecundo

Natural da ilha das lágrimas 

Que fica no mar profundo,

Onde, ás vezes, se segrega,

O coração que se entrega

Intensamente encantado.

Por um bem além, distante,

Embora injusto, inconstante,

Mas que se ama deslumbrado.


O quê a saudade seria,

Se não existisse o amor?

Talvez um rude espinheiro

Num deserto abrasador,

Sem dar sombra nem encosto,

As intempéries exposto

Relegado na vastidão

Naquele mundo sozinho,

Nem pouso de passarinho

Comovia-lhe a solidão.


Mário Bento de Morais

MOTE/ FOI BONITA ESSA MULHER/QUE CAMINHA NA AVENIDA


Tudo nesta vida passa

Os caminhos, os atalhos,

As borrascas, os orvalhos,

O tempo que descompassa

O limite que ultrapassa

A corrida pela vida,

Que muito embora sofrida

Ninguém a deve tolher

Foi bonita essa mulher

Que caminha na avenida.


A beleza perde o brilho,

A graça ao passar dos anos

Desbota-se em desenganos,

Quando o desdém é empecilho,

A humildade deixa o trilho

Pra seguir linha perdida

Move-se despercebida 

No tempo de se colher

Foi bonita essa mulher,

Que caminha na avenida.


O encanto vai se esvaindo

Escorrendo entre os dedos

Para esconder os segredos,

Que lhe restaram sorrindo.

A imagem lhe foi fugindo

Aos poucos e sem saída 

Tornou-se enfim, esquecida,

Sem ninguém pra lhe acolher:

Foi bonita essa mulher,

Que caminha na avenida.


A idade desfaz os sonhos

Fecundos da mocidade,

Ao despertar a vaidade

Com seus dogmas enfadonhos,

Estilos torpes, medonhos,

Que a deixou descontraída,

Leve, solta, evoluída,

Para o seu mundo escolher:

Foi bonita essa mulher,

Que caminha na avenida.


Mário Bento de Morais

ENCANTO


Amei assim como a abelha,

Que docemente ama as flores

E se encanta com o néctar 

Mais que a beleza das cores,

Das belas folhas sedosas

Corolas maravilhosas

Ao vento descontraídas

Celebrando o esplendor,

Embriagadas de amor

E de emoções exibidas.


Essas loucuras sentidas:

Entregas, dengos, paixões,

Em cada encontro desejos

Cálidos, sem reflexões

Do vigor da intensidade,

Que incita a cumplicidade

Nas robustas relações 

Dos profundos sentimentos

Eternizando os momentos

Sublimes dos corações.


As divinas sensações

Sagazes de nossas almas,

visíveis em nossos sonhos

Nas noites frias e calmas,

Angelicais sopitavam

Na alcova se guardavam

Como dádivas do amor

Para o amor de quem ama

Sensualidade em chama,

Porém, velando o candor.


Ascende em nós um odor

D'um balsamo embevecido

Exalando a pura essência 

D'um cheiro desconhecido,

Que afeta diretamente

Toda estrutura da mente

À servidão emocional,

Mas são leves turbações 

Por forças das emoções 

Do amor incondicional.


Mário Bento de Morais