domingo, 11 de outubro de 2020

SEXTINA

Esta sextina vai com todo carinho ao meu amigo e poeta Geraldo Brito de Medeiros. Geraldo, eu tenho o enorme prazer de dedicar estes simples versos, a você pelo grande respeito e apreço que lhe devoto. Um grande abraço. Mário Bento de Morais


 No meu corre/corre ocorre-me a vida

 Vulgar, movendo-se em traje de vidro!

 Cheirando o fumo fatal da Amazônia,

 Que se arde em dor e caprichosa pena

 E que pouco a pouco se morre um pouco

 Abraçada aos herdeiros renegados.

 

 Fere-me o futuro dos renegados,

 Entregues ao acaso áspero da vida,

 Que dela havia um sopro inda pouco

 Como resto num estojo de vidro 

 E venerado pelo olhar de pena

 Ante a crucificação da Amazônia.

 

 Sob as chamas ferozes a Amazônia,

 Murcha sem as vozes dos renegados,

 Que roucos e sem motivos de pena

 Da Diva que lhes prometera vida

 Mas, fingida em sua corte de vidro

 Zomba dos rogos de quem pede pouco.

 

 Já o porvir calmo enxerga muito pouco

 Ou quase nada daquela Amazônia,

 Que terá painéis em tela de vidro

 Expondo a dor dos povos renegados

 Que despidos roubaram-lhes a vida

 Para inalarem gases vis de pena.

 

 Sem ar, respirando as rosas da pena

 Que a maquinação adormecera um pouco,

 Assassinando a História em vida          

 Conduzindo ao sarcófago a Amazônia,

 Que jamais cismassem os renegados

 D’um fadário encarcerado em vidro.

 

 Resta aos restos respirar ar de vidro

 Em meio à floresta morta de pena

 Dos fosseis dos herdeiros renegados

 Que sujavam a cada dia um pouco

 O mar, verde mar vivo da Amazônia,

 Que se afasta passo a passo da vida.


 Então, o siso que só via ouro e vidro,

 Garimpa na solidão a fatal pena

 Da sede da carne dos renegados.


 

   Mário Bento de Morais

 

 

 

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