O “Cangaço” em
Reminiscências no Depoimento de Cobra Verde, do Bando de Antônio Silvino.
A
história sempre me encantou muito, principalmente, quando relata as tropelias
dos antigos valentes, homens desassombrados que não conheciam o medo e não
levavam desaforo para casa. Sertanejos assanhados que povoaram o sertão,
criados para sobreviverem a ferro e fogo sem melindre algum.
E,
foi lendo o livro “Gente de Ontem Historias de Sempre”, (edições Itacoatiara,
pág. 17), texto O “Cangaço” em Reminiscências no Depoimento de Cobra Verde, do
Bando de Antônio Silvino - da lavra do repórter de o “Jornal o Norte”, Dorgival
Terceiro Neto - que descobri fatos da Historia dos anos 30, século 20,
relacionados à minha terra São Mamede.
Trata
do depoimento ainda em vida do ex-cangaceiro Odilon Sebastião da Silva, ao
ilustre jornalista em 15/11/1987.
O
texto tem uma riqueza imensurável de detalhes, e começa dando o nome do lugar
aonde nascera. Assim narra seu Odilon ao jornalista: nasci ali na Umburana,
hoje Itapetim, Pernambuco. Meu pai era da família Garapa, de Teixeira, Paraíba,
e minha mãe dos cunhas, das Cacimbas, hoje município de Desterro, também na
Paraíba, Mas eu fui batizado em Soledade.
Segundo
seu Odilon, porque o pai havia se metido numa briga e foi preciso fugir às
pressas. Eu era novinho e fui levado dentro de um saco para Soledade, onde meu
pai foi morar na fazenda Santa Teresa, do Coronel Claudino Alves da Nóbrega,
Dino perna-de- pau, porque tinha uma perna postiça de madeira.
Perguntado
pelo repórter como se incorporou ao bando de Antônio Silvino, Cobra Verde dá
seguinte informação: eu tinha dez anos de idade, quando ele apareceu em Santa
Teresa. Procurava um menino para recados e mandados. Interessou-se por mim
porque eu era ligeiro.
O
ex-cangaceiro conta com precisão os detalhes da primeira virgem, do apego do
Capitão Antônio Silvino pela Paraíba, dos combates, os reveses sofridos nas
lutas, a constituição do bando com os nomes dos companheiros, os enfrentamentos
com tiroteios, os nome dos coiteiros e narra com muita riqueza de informação
como e porque aconteceu o REVÉS FINAL e a prisão do Capitão.
Adiante
na pag. 26, falando de “Outros Fatos”, o repórter pergunta ao seu Odilon: E
como comprava arma e munição? A resposta veio fulminante. Nunca comprou nada
disso. E nunca deixou de ter rifle bom e bala. Os fazendeiros lhe davam, porque
precisavam de amparo dele contra perseguições de inimigos e dos “macacos”, os
policiais.
A
seguir o repórter faz a pergunta que me chamou atenção. E os apetrechos do
bando, quem os dava? A reposta não poderia ser tão significativa para mim como
a que foi dada, pelo seu Odilon. Era tudo feito ali em São Mamede, pelos
carocas: os chapéus de couro, cartucheiras, “alparcata” e bornais. Os punhais
eram verdadeiros espetos. Também eram dados.
Ora,
os Carocas eram uma família de artesões que residiam em São Mamede nessa época.
Eram especialistas na confecção de artigos de couro e na produção de facas e
punhais, porque também tinham o oficio de ferreiro. As peças eram
disputadíssimas pela qualidade acabamento e forja. Essa família mantinha
comércio intenso dessas peças com Campina Grande, importante centro comercial
da época. É tanto que no fim dos anos 40, transferira-se definitivamente para
lá e se tornara grandes comerciantes.
Esse
depoimento de “Cobra Verde” reforça muito as narrativas de Sr. Antônio Luís de
Lima, seu Antônio Caixeiro, como era conhecido em São Mamede – quando nas
conversas de calçadas nos anos 60 – dizia seu Antônio, que o bando do Capitão
Antônio Silvino, estivera mais de uma vez em São Mamede.
“Militar
de 20 Conta História de Bandoleiros e Bando Armados”
Ainda
sobre o livro, noutro depoimento fantástico, pag. 61, texto “Militar de 20
(1920) Conta História de Bandoleiros e Bando Armados”, agora do Coronel Manoel
Arruda de Assis, em 1979, aos 92 anos de idade, ao magistrado, mestre de
Direito e historiador Humberto Mello, ex-presidente do Instituto Histórico e
Geografia do Estado, e a Maria Antônia Afonso de Andrade, que recolheram para o
Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da Universidade da
Paraíba, o que lhes contou o antigo militar.
“(...)
O relato que fez o Coronel Manoel Arruda, dos fatos que viu e dos quais
participou, são pinçados da gravação e reproduzidos a seguir, de forma sumaria
(...)”. Os títulos dos relatos são:
ainda na Pag. 61 De Soldado a Coronel, na pag. 62 Volantes, na pag. 63 Os
Bandos na pag. 65 Confrontos e Turras Com Zé Pereira e na pag. 66, o titulo é
“Poderio de Zé Pereira”. Aqui vou transcrever o que disse o Coronel, porque
trás uma informação muito importante para História de São Mamede.
O
Coronel Manoel Arruda dá conta do poderio do Coronel Zé Pereira: José pereira
era quem superintendia a construção dessa estrada que o senhor veio. Estavam fazendo
essa estrada, carroçável, em 22, desde Sousa até São Mamede. Tinha um grupo
todo armado de rifle e fuzil, de Jose Pereira. Era ele quem mandava no Estado.
Mandava e desmandava. Ele tinha Prestigio naquela fronteira todinha de
Pernambuco: Flores, Custódia e triunfo...
Obs.
Os pesquisadores foram de João Pessoa até a fazenda do coronel, em pombal, para
entrevista-lo. Portanto, quando ele disse “superintendia a construção dessa
estrada que o senhor veio”. Estava se referindo a estrada que liga São Mamede a
Pombal, hoje BR 230, claro que modificada em alguns pontos.
Esses
dois depoimentos deixam que remontemos aos poucos a historia de nossa Terra.
São esses retalhos garimpados a muitas mãos que vão dando a dimensão exata dos
fatos ocorridos no passado e que, certamente, nortearam o ardor do nosso
presente. A eterna ninfa do ygubas.
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