O que vale o povo? A resposta vem do
lado mais profundo do sentimento daqueles que amam o povo de quatro em quatro
anos numa relação de íntima de distancia, nada!
E o que leva um povo a aceitar a
submissão como meio e solução à sobrevivência, se o poder verdadeiro estar ali bem ao alcance da mão de cada cidadão
responsável, chamado simplesmente de voto? Essa
palavra (voto) com apenas duas sílabas é uma poderosíssima arma na mão de quem tem
consciência, resta saber se essa tal
consciência existe e se o cidadão pode ser o seu portador.
A consciência reside no palácio da razão que por sua vez a tem como conselheira
e confidente. É muito razoável, sempre e diuturnamente, busca-la sem descuidar-se
um só momento, pois, para o descuido uma pequeníssima fresta basta para causar
danos a uma sã consciência.
Os enamorados do povo não o consideram
como o dono do poder, mas como uma massa manipulável sem destino que se
alimenta da verdade sem lastro.
O inventou da palavra colocou-se
acima do bem e do mal e se considerou um deus. Nada mal para alguém que criou
um mecanismo que serve apenas para designar nomes às coisas e se o intento era
ser útil com a sua criação foi além, deu a alguns homens o sal para temperar o
paladar da mentira.
Dessa forma, o povo foi dominado, humilhado
e escravizado. E, se alguém se oferece para alforriá-lo recebe a paga dos
fracos, a santa filha da ganância que se chama de conveniência.
Os monges do atraso por meios de vícios
fantásticos perverteram ao longo das décadas a cultura proba dos antigos: a
palavra dada tinha força de lei; um fio do bigode uma recomendação acima de
qualquer suspeita.
Mas, os apóstolos da deusa do inferno,
a política, afirmam que a palavra dada vale menos ainda do que o voto, assim a
palavra e o voto se confundem e morrem sem antes se conhecerem para se
desejarem uma feliz política.
O tempo do povo (já publicado)
Quando se evidência o tempo político - lixo fatal na
consciência da escolha - nasce da apatia dos eternos descuidados que
irresponsavelmente abandona a juventude da cidadania para oferecer literalmente
os pulsos às algemas: pobres anjos de barro com suas trombetas de plástico a produzirem sons lamuriosos, apenas dentro do círculo hermético do qual faz parte e no qual recarrega as suas hediondas ambições. Nesse
tempo, astutos constroem castelos, anões afrontam gigantes, serviçais desafiam
deuses; mas ninguém se dispõe a ouvir o canto surdo dos pigmeus que aos berros
falam aos ouvidos abatidos. E dos seios murchos da terra faminta, os inventores da submissão, continuam a se alimentarem das melhores iguarias; já a maioria recolhe as
migalhas do banquete: faisão recheado à forestière, no tempo do povo!
O tempo do povo é seu tempo (publicado)
O tempo político é mais pesado do que o ar, e seu peso é como
um projétil certeiro que procura sempre a nossa cabeça. E jamais erra o alvo! Para
o povo que vive do tempo não há mais tempo, pois a espera pelo tempo morreu na
fila do tempo que não teve tempo para o seu tempo. Assim, caminham as barrigas
de bolsos vazios, sempre através do tempo quase sem tempo. E passam-se os
tempos e os temporais não cessam, faltou-lhes tempo nos dias turvos e nas
noites brancas. E o tempo voa pelas trilhas das eras sem asas, buscando o além
de si em si mesmo. Enganando-se e massacrando-se, iludindo-se e destruindo-se,
até quando? Ora, o ontem é tempo, o hoje é tempo, o amanhã é tempo e tudo é
tempo, até sorrir é tempo. A paciência é tempo, a pressa é tempo, a destreza é
tempo sem glória; enquanto o sim é tempo, o não é tempo sem história. E o povo?
Ah! Este tem tempo sim, mas perde-o sempre com sonhos inúteis e promessas
surreais: se eu ganhar esta eu vou ajudar a toda sua família. A vitória chegou
sem rédeas e sem focinheira – no tempo. As dívidas com os enganados –
esquecidas. Agora já é outro tempo. Esse novo tempo vai precisar de muitos
bolsos para guardar-se. Tudo é tempo. A derrota também é tempo, mas até quando?
Quando? Não sei. Pergunte ao povo que se quiser pode ser o senhor do tempo.
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