domingo, 2 de dezembro de 2012

ÍCONES DA HISTÓRIA DE MINHA TERRA



O século XX usou sua melhor matéria-prima para produzir com muito zelo, fabulosos exemplares de uma linhagem única que levou milhares de milhar de anos para ser purificada em São Mamede. Essa estirpe gerou valentes desassombrados que não cediam nem um milímetro ao perigo e até o código genético dessas verdadeiras Instituições perdera-se no tempo e nem existe mais o ferreiro que os forjou. De moral irrepreensível eram símbolos de uma época. Solícitos e de modos práticos, humildes e de maneiras gentis, generosos de acordo com os dogmas religiosos perenes na sociedade em que foram criados e ainda, corriam em suas veias a legitima hospitalidade do sertanejo. De verves aguçadas na escola da vida, aprenderam cedo demais o sentido do viver, descobriram com os deuses o caráter do respeito e o vinho da sabedoria, gostavam da vida, eram exemplos de hombridade, lealdade e tolerância.
Tinham por hobby o trabalho, eram intransigentes defensores da honra e da família, honestos a ponto de sacrificar os interesses dos entes queridos a serem acusados de desvio de conduta; jamais alguém profanou o nome dessas verdadeiras instituições, nem enquanto vivos e muito menos depois de mortos. Viveram para servir e serviram mais do que suas forças lhes permitiam: eram racionais, práticos e gostavam da vida simples do sertão. Sonhavam fervorosamente com o progresso da amante cobiçada, a terrinha amada que os vira nascer.
Conheciam o futuro porque o carregava nas mãos, previam as chuvas e anunciavam as secas, domavam as tormentas! Viam o coração dos homens pela janela da verdade, não se impressionavam com os arroubos dos fracos, nem com a força dos fortes, nem com a inteligência dos sábios; eram deuses com características de homens, eram homens enquanto deuses. A natureza teve lá suas razões, quando criou os seus diferentes e os aceitou iguais; já os homens além de não se aceitarem iguais, se veem diferentes, por isso a existência desses deuses que se honraram homens.
Tive por sorte, o privilégio e a santa permissão dos céus de estar lada a lado com dois dos três que vou exaltá-los aqui: Julio Nery, eu não o conheci, mas seus feitos ficaram na memória do povo, os quais eram motivo de reunião familiar lá em casa. Meu Pai e minha Mãe tiveram a sorte de conhecê-lo pessoalmente e dessa pérola humana, eles contavam pra gente as histórias de suas ações, às vezes, demasiadamente humana, às vezes, brilhantemente moral, as quais nos impressionavam muito pela firmeza e determinação. Sem dúvida Julio Nery vivo era uma estrela, morto uma constelação que se tornou uma lenda em São Mamede.  
Inácio Bento de Morais, pracinha brasileiro herói da Segunda Guerra Mundial, como Radiotelegrafista na Itália, Pátria de Mussolini, deixou um legado para posteridade que orgulha muito seus conterrâneos. Era de uma linhagem de bons cidadãos. Acostumado à lida do eito, criado na simplicidade do sertão da Paraíba, galgou relevância primando pela moral e bons costumes. Foi à Guerra em nome da liberdade voltou líder e reconhecido. Trouxe para vida civil o que aprendera na caserna. A Guerra lhe aperfeiçoou a arte de servir, tornou-se político de ações efetivas e generosas, venceu obstáculos e preconceitos intransponíveis, desafiou o orgulho exacerbado dos poderosos para alentar a humildade do seu povo, era um gentleman! A sua História e seus feitos concretos marcaram a um só tempo o cidadão e o político – aos dois a veneração e o pedestal! – merecido destaque que se impõe aos que relutam em não contar esse extraordinário capitulo da belíssima História recente de São Mamede.
Izauro Eliziario Dantas, pracinha brasileiro herói da Segunda Guerra Mundial, esteve aquartelado no Recife esperando ordem de embarque para lutar nos campos da Itália, terra do grande Cícero, legou as gerações futuras um bem imensurável, indizível e muito escasso nos nossos dias: a personalidade pura, definida e austera. Assumia com orgulho a palavra dada, mesmo que lhe trouxesse prejuízo, era um cavalheiro daqueles dos bons tempos! Descendia do homem da terra árida, acostumado a dureza da labuta sem escolha, “da morte sem chorar”, mas também, sabia nos momentos de polidez exalar a candura do sertanejo. Na caserna adquiriu ensinamentos necessários que ajudaram a nortear sua vida e polir suas ideias. Tinha consciência do perigo e da brutalidade de uma Guerra, mas também conhecia a beleza da liberdade, por que fora criado livre como os pássaros do céu nas caatingas (panteões dos vaqueiros) de São Mamede.      




Nenhum comentário:

Postar um comentário