Os bombons coloridos - A história de Luiz Xavier de Andrade
Aquela casa grande, de portas grandes, de balcão grande e verde onde escondia meus bombons coloridos. Sim, bombons coloridos de feliz memória que recorda aquela infância também feliz.
Feliz também porque Seu Luíz era feliz. Homem trabalhador, chegou ao sertão paraibano como empregado, vindo das terras pernambucanas. Tornou-se grande comerciante. Querido por todos da cidade, tanto que muitos o chamavam de compadre, sabia angariar amizade com sua simplicidade e seu modo de tratar as pessoas.
Visitado por muita gente, sabia receber com mesa farta, mesa do sertão. Não tinha inimigos porque sabia perdoar, também não sabia fazê-los. Homem dedicado aos filhos, não media esforços para dar-lhes estudo. Um brejeiro que depressa se adaptou ao clima do sertão. Rigoroso, principalmente com as filhas. Os anos 30 contribuíram com a rigidez: namorado não alisava banco na casa dele e quando ocorria de algum rapaz chegar à sua porta,perguntava:
- O que está acontecendo aí?
- Morreu galego?
Casamento não demorava mais de seis meses.
- Quem procura namoro é porque pode casar, dizia ele.
Era o dono daquele mundo maravilhoso onde se encontram pedaços de minhas reminiscências. Com que saudade evoco aquela fachada enorme, parada, fitando aquele templo sagrado, a igreja da cidade.
"Novo Horizonte" não era o por do sol, não era uma planície vulgar, sem história, sem beleza. "Novo Horizonte"não era uma criação qualquer.Não era um círculo limitado da nossa observação, nem uma perspectiva futura.
"Novo Horizonte" era um dos pontos mais movimentados da minha São Mamede. O Super-Mercado de ontem aperfeiçoado como os de hoje...
Assim era o "Novo Horizonte." Lá você encontrava do biscoito fino à ferragem. Se algo faltava em sua casa, corria-se ao "Novo Horizonte". Não era só os da localidade que procuravam aquele centro de abastecimento. O espetáculo alegre, vivo, colorido dos matutos à porta da loja nos dias de feira é algo que não se pode esquecer.
Era a mesinha para isto, o tempero para aquilo, era o vestido para Chica, a bolacha da filha, era o pó-de-arroz para Maria, tudo ali se encontrava.
O colorido com que se revestia aquele pátio enorme que adormecido ficava durante a semana para acordar nos dias de feira com o relinchar das alimárias.
Os animais eram amarrados nos grandes pés de árvores que faziam sombras como se fossem enormes lençóis estendidos na terra quente do sertão. Terra de homens que conhecem os horrores da seca.
O tempo corre, passa e hoje não existe mais o "Novo Horizonte", não existe Seu Luís. O tempo devora tudo.Existe, sim! Nas memórias dos que o conheceram. Lembro-me dos bombons coloridos, os chamados "Rasga-Boca. Lembro-me dos grandes vidros de bombons coloridos.
José Carlos Xavier de Almeida, autor do texto "Os bombons coloridos", é neto do Sr. Luiz Xavier de Andrade, proprietário do "Novo Horizonte", um dos primeiros pontos comerciais de São Mamede.Licenciado em Letras pela UNICAP, em Pedagogia pela FUNESO;Pós-Graduado em Língua Portuguesa pela UFPE; Membro da Academia Recifense de Letras; Membro da Academia Olindense de Letras; Membro da Academia Goianense de Letras (Anápolis-GO); Sócio efetivo da União Brasileira de Escritores (Secção-PE).Trabalhos Publicados- O povo não fala errado (Diário da Borborema,Campina Grande - PB),A Poética de Antonio Telha (Diário da Manhã, Recife - PE), entre outros.
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