Hoje
à tarde, voltei a me encontrar com Orama para levarmos novamente um bom papo.
Orama é um desses filósofos populares, dono de uma perspicácia incomum e tiradas
de encher os olhos. Ele estava sentado num banco da praça da igreja, de modo
que parecia meditar. Fiz questão de me aproximar dele de forma não convencional,
mas escondendo-me por trás dos outros bancos para lhe tomar de surpresa. O meu
plano estratégico não deu em nada, e para meu espanto ouvi: “hei, não sou
de Cuba, mas estou lhe cubando”! Significa que a pratica do meu plano falhou
muito, eu estava sendo acompanhado pelo olhar discreto de quem eu buscava
surpreender. Descoberto, resolvi me aproximar de forma carinhosa, então lhe disse:
com a devida vênia, gostaria de fazer companhia ao grande filosofo solitário.
Ele respirou fundo e chicoteou-me sem piedade com o seguinte arremate: eu não
estou solitário, mas um de mim se aproxima! Fiquei sem entender nada e pra não piorar
as coisas não quis questioná-lo. Entre ele e eu, fez-se um silêncio abissal! Fiquei sem jeito com a resposta, logo eu que o
amo tanto?! Orama foi perverso demais comigo, pensei. Mas de repente, ele rasga o gelo e perguntou o que
eu não alcanço responder: que busqueis na urbe estagnada, senão cegos de olhos
sadios, rudes versados e indigentes que se alimentam de ilusões? Silêncio... Conheço
lendas vivas fragilizadas como caniço ao vento, o que me causam aflições indigestas.
Silêncio... Quantos encarcerados seguem livres às avenidas do mundo, por não se
indignarem? Silêncio... Os colmilhos do povo devem estar sempre amostra para os
insidiosos da liberdade. Silêncio... Meus olhos não brilham mais com os ruídos
dos tambores, insuportáveis sons as traças emitem! Silêncio... Continuei sem
nada entender. Mas, após as reflexões, Orama levantou-se em silencio e sem se
despedir vi-o se perder entre as arvores e os bancos da praça. Sozinho, passei
a pensar em cada palavra da palavra do filosofo popular. Era tudo muito
profundo para mim, mas muito claro para o momento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário