quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

MOTE: ESSE MUNDO MEU DEUS, EU NÃO ACEITO/NÃO A VÓS, MAS RECUSO A CRIAÇÃO!


Oh! Meu Deus, eu não posso acatar

As graças afáveis à maldade

Nem os dons fitos à crueldade,

Que os boçais tentam exaltar

Pelas ruas, nos campos no altar

Da negrura da má inclinação

Do deus parvo de cuja abjeção

Nasceu nos porões do desrespeito:

Esse mundo meu Deus, eu não aceito,

Não a Vós, mas recuso a criação


Os néscios engordam suas mentes

Nos cochos de sórdidas mentiras

Cravejadas de fúteis safiras

Expostas em vitrines latentes.

Sob o véu de forças decadentes

Distorcem a imagem da Nação,

Forjando dolosa projeção

A quem sempre fizera o malfeito:

Esse mundo meu Deus, eu não aceito,

Não a Vós, mas recuso a criação.


Quando a Lei se aclima sob a lama,

O País inteiro se rende ao lodo,

Embustice motivando engodo,

Ultraje, desassossego, drama.

A virtude desonrada clama

Tutela à tensa desolação,

Que retesa o povo à aflição

E nega-lhe a norma do direito:

Esse mundo meu Deus, eu não aceito.

Não a Vós, mas recuso a criação.


A Lei não anda, não come, não sonha!

Dorme sem agasalho, não acorda

Para muitos – porém, estica a corda

Para poucos fagueira risonha!

Em suas artes se faz medonha

Nos hiatos da interpretação,

Que se perde em meio à indução

D’um direito legal liquefeito

Esse mundo meu Deus, eu não aceito.

Não a Vós, mas recuso a criação.


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