Oh! Meu Deus, eu não posso acatar
As graças afáveis à maldade
Nem os dons fitos à crueldade,
Que os boçais tentam exaltar
Pelas ruas, nos campos no altar
Da negrura da má inclinação
Do deus parvo de cuja abjeção
Nasceu nos porões do desrespeito:
Esse mundo meu Deus, eu não aceito,
Não a Vós, mas recuso a criação
Os néscios engordam suas mentes
Nos cochos de sórdidas mentiras
Cravejadas de fúteis safiras
Expostas em vitrines latentes.
Sob o véu de forças decadentes
Distorcem a imagem da Nação,
Forjando dolosa projeção
A quem sempre fizera o malfeito:
Esse mundo meu Deus, eu não aceito,
Não a Vós, mas recuso a criação.
Quando a Lei se aclima sob a lama,
O País inteiro se rende ao lodo,
Embustice motivando engodo,
Ultraje, desassossego, drama.
A virtude desonrada clama
Tutela à tensa desolação,
Que retesa o povo à aflição
E nega-lhe a norma do direito:
Esse mundo meu Deus, eu não aceito.
Não a Vós, mas recuso a criação.
A Lei não anda, não come, não sonha!
Dorme sem agasalho, não acorda
Para muitos – porém, estica a corda
Para poucos fagueira risonha!
Em suas artes se faz medonha
Nos hiatos da interpretação,
Que se perde em meio à indução
D’um direito legal liquefeito
Esse mundo meu Deus, eu não aceito.
Não a Vós, mas recuso a criação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário