Ao meu irmão Francisco
(Chico de Severina de Amaro), se vivo fazia 77 anos.
Dono de um humor fértil debochado,
Travesso, caçoísta, gozador,
Palhaço cara limpa zombador,
Irreverente menino inspirado.
Pensador satírico improvisado,
Solitário e sem academia,
Às vezes, combatendo a teimosia
Dos que lutam pelo status d’escravo,
Legando-lhes a intrepidez do bravo
Galhofando mordaz a tirania.
Nos recitais mostrados nas calçadas
Transformadas em palcos teatrais,
O histrião de tramas surreais
As exibia de formas escrachadas.
O povo saudava suas tiradas
Com risos e trejeitos enrustidos,
Sonhos mortos e gritos impedidos
Voltam fugazes na arte pela vida
Daqueles que se vêem sem saída
Dos grilhões dos pascácios vencidos.
O patusco da ralé se exaltava
Tripudiando do mestre o saber,
Que cortês se fazia merecer
O desdém que o chistoso lhe afrontava,
Nem por isto o docente o insultava
Porque via no pândego um talento
A lampejar como um astro ao relento
Suportando o rigor das tempestades,
Das sandices que impõem necessidades
Ao homem de profundo sentimento.
Na índole do jocoso um cidadão
Nanava fecundo um amor feliz,
Que destinou servir a genetriz
Na busca pervicaz pelo filão,
Sedimentou-se a sublime missão
Negando-se a flama dissimulada
Para cuidar da estirpe imaculada
Sem haver pelo fardo carregado
Mas intenso, singelo, resignado
Pela luta feraz articulada.
Cumprindo com o pacto celebrado
Voltou-se completamente à paixão,
Pois desejava encher-se de emoção
Dedicando-lhe um amor consagrado,
Envolvente, sólido, eternizado,
Para progredir a real ascendência
Exaltando a divina augusta essência
Como promessa à cepa soberana,
Dois brotos da bela raça humana
Para dar prole a sua descendência.
Mário Bento de Morais
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