É aquele que diz sempre sim a tudo que eu quero ouvir? Ou é aquele
que diz a verdade nua e crua sem rodeio, direto, mesmo que eu não goste de
ouvir, mas a verdade pura, amarga, aquela que quando é dita de tão verdade,
arranca a casca da ferida e a deixa exposta, sangrando? Étienne de La Boétie,
século XVI, legou a posteridade essa sublime pérola: “Que
amizade afinal, pode esperar-se daquele cujo coração é tão duro que odeia o
próprio reino que em tudo lhe obedece? Que, por não conseguir fazer-se amar, se
empobrece e destrói seu império?”
Milton Nascimento reconhece a grandeza da amizade e inspirado pela
santa sensibilidade que o acompanha como protetora, transcende o limite do
humano pobre de espírito para o humano nobre de espírito, numa digna celebração
de amor, disse: Amiga
é coisa pra se guardar· Debaixo
de sete chaves· Dentro do coração... Boétie, alavancado pelo desprezo
que sentia pela opressão revelada no discurso da servidão voluntária, quando
trata do vinculo humano e a tirania, expressou-se: “A amizade é uma palavra sagrada, é uma coisa
santa e só pode existir entre pessoas de bem, só se mantém quando há estima
mútua; conserva-se não tanto pelos benefícios quanto por uma vida de bondade.”
Nesse pensamento sobre a beleza da amizade
vivida em sua plenitude o cantor Roberto Carlos escancarou ao mundo as
entranhas expostas de uma grande amizade, vejam: Você
meu amigo de fé, meu irmão camarada. Amigo de tantos caminhos de tantas jor\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\nadas.
Cabeça de homem, mas um coração de menino. Aquele que estar sempre ao meu lado
em qualquer caminhada...
A amizade não é cúmplice de injustiça nem
satisfaz vontades tirânicas, estar além do homem, mas próxima ao sacerdócio
divino que exalta: ”sejam
numerosas as tuas relações, mas os teus conselheiros, um entre mil”,
A amizade estar milhares de milhar de anos
distante da servidão. O amigo serve como amigo não como servo, assim diz
Boétie: ”Ó
Deus, pode haver maior castigo e martírio que passar dia e noite imaginando
maneiras diferentes de agradar a um homem a quem se teme mais que a qualquer
outro no mundo? Ter os olhos sempre abertos e os ouvidos atentos, para
espreitar de onde virá o golpe, para descobrir as ciladas, para desvendar as tramóias
dos concorrentes, para adivinhar o traidor? Sorrir para cada um e desconfiar de
todos, não ter inimigo declarado e amigo certo, mostrar sempre o rosto
sorridente quando o coração está apreensivo? Não poder estar alegre, nem ousar
estar triste.
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