Quem se apega ao poder corre o risco de desumanizar-se. Eis ai o
ponto sensível dessa saga que muito se aproxima do nível crítico da loucura.
Mas esse argumento pode não influenciar os que acreditam nos encantos do poder.
Para os adeptos desse credo, o poder é algo sobrenatural que atrai prestigio e
dinheiro, além de fluidos pessoais prazerosos, que elevam as alturas a
alto-estima. Curam as crises existenciais, nutrindo potencialmente as
impessoalidades sociais e culturais.
A pegar-se ao poder tende a gerar um potente imã de altíssima
sensibilidade que excita as expertises de incensadores oportunistas, que
estarão sempre a espreita de presas passíveis de dengos, para lhes ofertarem
refrigérios com adornos e melindres, às vezes místicos, às excentricidades do
ego absolutista que as dominam, as quais, por isto, também merecerão as
criticas de Momo, assim como as que fizera ao homem feito por Vulcano.
Esses monges (incensadores) que decidiram fazer caridade às
vaidades desses loucos pelo poder, não medirão esforços para expelirem
servilmente as suas tóxicas lisonjas. Para Plutarco, “o bajulador é uma espécie
de ocultista astuto, com encanto irresistível e agressivo dos mágicos. A
bajulação, portanto, é uma coirmã da arte do teatro. No fundo o bajulador é um
velhaco; servidor das vaidades, serviçal de cabeça fria e ator principal da
comédia da sedução. O bajulador sempre tem em mente algum engano proveitoso, um
truque, uma carta na manga, uma fraude inédita. A bajulação é de fato uma
perversão”.
O amante do poder não aceita avaliações a seu respeito e as
entende como injúrias que atingem de forma grosseira a sua efígie sagrada, por
isso se enclaustra numa bolha impermeável, acessível apenas aos que lhe
melindram, cumprem seus éditos, aplaudem suas inspirações sem bases morais,
tornando-se parcioneiros emudecidos que flamam ainda mais o abismo do que tudo
pode e o tudo que pode o ter.
MÁRIO BENTO DE MORAIS.
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