domingo, 27 de dezembro de 2020

PALAVRAS VIVAS


NA PAZ DE SÃO SARUÊ

 

Certamente o criador

Com sua luz infinita

Fará justiça aos pequenos

Em absolvição a desdita

De nascer em um País

Coiteiro de parasita.

 

As urnas trocam governos,

Mas não alteram o poder,

Que se mantém invisível

Pra não se comprometer,

Esconso não suja as mãos

Manda sem aparecer.

 

Age sem deixar vestígio

Nem impressões digitais,

Torna-se imune, eximido,

Das práxis habituais,

Fato que é reconhecido

Até pelos tribunais.

 

O poder nunca quis ser

Governo pra não se expor,

Mas sabe que tudo pode

Como um grande ditador!

A justiça nunca o alcança

Vive como predador.

 

O poder não pede chuvas

“Pra não ficar com a lama”;

Menospreza o povo, o voto

Pra não se envolver em drama,

Não gosta de eventos públicos

Nem necessita de fama.

 

Veste-se de megaempresas

Para pautar os governos;

Frustram políticas públicas

Com velhos termos modernos,

Onde o “desejo e o possível”

Moram em lares fraternos.

 

Os governos sempre passam,

Mas o poder permanece.

Vivo forte, inabalável,

Monstro que se fortalece

Nos porões das injustiças,

Que o povo tanto padece!

 

E, se num lance arriscado

Confundir-se na jogada,

Acautela-se manhoso,

Com outra turma escalada,

Para dar as velhas cartas

De forma dissimulada.

 

A loucura do poder

Precisa ser controlada,

Observada de perto,

Bem medida e bem pesada

Pra não cruzar os limites

Da fronteira regulada.

 

O poder nodoa a justiça

A justiça então o poder,

Dois vinhos que se rejeitam  

E se amam num só querer

Depois se odeiam em público,

Na paz de São saruê.

 

MARIO BENTO DE MORAIS

 

 

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