Eu procuro
entender porque é tão mau para uma parte da sociedade defender o pobre, o
humilde, o trabalhador. Eu quero muito, mas muito compreender, por que fazer o
bem ou querer o bem das pessoas entra em pautas políticas? Acirram ânimos, e logo
alguns sábios plantonistas surgem para exalar uma torrente venenosa, rotulando
aquele que procura fazer o bem ou estabelecer um ponto de vista próprio nessa
tomada de raciocínio, de esquerdista.
Não se pode
de forma alguma seguir por esse caminho, é preciso separar as águas, rever os conceitos
que foram mal elaborados num passado longínquo, mas que ainda influenciam muito
o presente, como um modelo universal único e eterno, sem diferenciar atos,
ações e discursos que possam por ventura, em algum momento, sugerir um
despertar pujante de uma despolitização de ânimos, mentes e egoísmos, para viver
apenas uma harmonia orgânica e saudável com os diversos.
Nessa tomada,
vamos visitar a direita brasileira de 1964, que ainda guarda no seu tecido
epitelial o golpe e a ditadura militar, cujo monstro ajudou a instalar no Brasil.
Na época, com um discurso elegante e bem articulado os militares cuidaram em
afirmar de que se tratava apenas de um golpe preventivo e que aliviadas as
tensões tudo voltaria à normalidade. O tal golpe preventivo, durou duas
infindáveis décadas, de 1964 a 1985. Gerando insondáveis desmandos: estupro da
Democracia, perseguição, tortura, fuzilamento, extermínio de adversários com
desaparecimento dos seus corpos, censura a imprensa, ao meio cultural e prática
de terrorismo. Tudo isso com o aparato do Estado e pago com o nosso dinheiro
dos impostos. Quantos pagaram para serem mortos?
O poeta
retratou em versos aqueles 20 anos
Quando o reino formidável
Do arbítrio se instalou
A liberdade quedou
A uma força imensurável.
Era o chicote indomável
Sob o qual muitos morreram
Outros desapareceram
E nada se investigou,
O
povo se enganou
Os
coronéis não morreram.
Nestas estrofes abaixo o poeta fala do recuo,
talvez estratégico e do esforço dos golpistas para fugirem das
responsabilidades lhes impostas pela História.
Recuaram por enquanto
Esperando o momento
Para novo movimento
Enrustido noutro manto
E assim para o espanto
O azorrague estalou,
Ninguém quase acreditou
Que os monstros se ergueram,
Os coronéis não morreram
O povo se enganou.
E num esforço tremendo
Pra fugirem dos escombros
Que lhes pesam sobre os ombros
Vão de álibi se valendo,
Até o deus do colendo
Às infâmias se entregou
Feriu a Lei e negou
Justiça aos que sofreram,
Os coronéis não morreram
O povo se enganou.
Nessa
direita de 1964, figuram como pais do golpe: os partidos políticos,
intelectuais, mídias, latifúndios, empresários, igreja, entidades e cidadãos. Esses
ilustres apoiadores de braços cruzados assistiram o famigerado golpe preventivo descambar
assustadoramente para barbárie, isto posto, quem não concordasse com os métodos adotados pelos golpistas, era um inimigo em potencial que deveria sem dó ser eliminado para não tolher o
espírito da “Revolução”.
Durante o período do tormento civil que fervilhou no Brasil, a boca estreita, os apoiadores ainda proativos do monstro, que o ajudaram a criar, alegavam que a situação fugira do
controle a tal ponto de serem até perseguidos pelos filhos da criatura, como aconteceram
com as igrejas, entidades e mídias que foram também censuradas. Isso parece uma
declaração de culpa ou quiçá uma defesa do pecado cometido, mas nada justifica
os meios. A violação da Democracia que estava em gestação no País, fora
terrivelmente banida do convívio social.
A ORIGEM DOS TERMOS DIREITA E ESQUERDA NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO
FRANCESA
A Revolução
Francesa foi um divisor de águas, um fato muito importante que marcou a
História. Não havia precedente até então. Ninguém ousava afrontar o poder
Absolutista que se compunha de três Estados: Nobreza – considerada o primeiro;
Clero – o segundo, e Burguesia – o terceiro. Este último ainda se dividia em
alta e baixa burguesia com a inclusão de trabalhadores urbanos e os camponeses.
Porém, foi a
partir desse acontecimento ocorrido na França, em 1789, que surgiram modelos
políticos, sociais e culturais importantes que logo vieram povoar o continente
Europeu, destruindo o velho Regime para sempre. Isto foi provocado porque o
terceiro Estado queria legitimidade e representação política, ou seja, queria
também protagonismo e não fazer apenas parte de meras formalidades exigidas
pela nobreza e o clero.
Então, os
membros do Terceiro Estado, buscando uma relação entre o conjunto dos cidadãos
que fazia parte da comunidade política nacional, reuniram-se em Assembléia
Constituinte, com o propósito de reorientar os destinos do País. E no salão
onde a Assembléia constituinte fora instalada, tomaram posse nos assentos dois
grupos: do lado esquerdo estavam os exaltados, os próximos a baixa burguesia e
aos trabalhadores que tinham como representantes do grupo, os Jacobinos. Do
lado direito estavam os moderados, mais conciliadores e com estreita
articulação com a nobreza e a alta burguesia, chamados de Girondinos.
E foi assim,
em meios as divergências e discussões travadas entre jacobinos “exaltados”, e
girondinos, “conciliadores”, que prevaleceu um nível razoável de ordem básica
institucional, surgindo daí o principio da ideia de esquerda e direita, que
insiste em continuar acessa no debate político desde sempre.
A DOUTRINA DE ESQUERDA
A doutrina
política e econômica que conhecemos como socialismo, afirmam alguns, surgiu no final do século XVIII, com o intuito de transformar a sociedade a
partir de uma profunda reforma social considerando a distribuição por igual das
riquezas e das propriedades. François Noël Babeuf, jornalista Frances, sugeriu
na época um paradigma que posteriormente serviu aos movimentos de esquerda que
o adotaram como opção política, porém, sem lastro teológico e utópico.
Babeuf nutriu-se das leituras de Rousseau, Mably e Diderot para elaborar
suas próprias idéias, as quais tratavam de igualdade e coletivização das
terras. Foi, portanto, cuidando da situação de miséria da grande maioria da
população do seu País e do seu próprio processo psicológico consciente real –
vivência – que ponderou para os primeiros passos do socialismo. No “Manifesto
dos Iguais” escreveu Babeuf (1796): “Desde a própria existência da sociedade
civil, o atributo mais belo do homem vem sendo reconhecido sem oposição, mas
nem uma só vez pôde ver-se convertida em realidade: a igualdade nunca foi mais
do que uma bela e estéril ficção da lei. E hoje, quando essa igualdade é
exigida numa voz mais forte do que nunca, a resposta é esta: “Calai-vos,
miseráveis”! A igualdade não é realmente mais do que uma quimera; contentai-vos
com a igualdade relativa: todos vós sois iguais em face da lei. Que quereis
mais, miseráveis? Que mais queremos? “Legisladores, governantes, proprietários
ricos; é agora a vossa vez de nos escutardes”.
POSIÇÃO POLÍTICA DA DIREITA
Dentro do espírito político, a direita oferece uma compreensão
intrínseca, própria, construída com base em quimeras plantadas com
justificativas que se fizeram aceitas como ordenação social natural ou
dessemelhança social inelutável simplesmente usual ou até interessante. Esse
comportamento no espectro político da direita enseja afirmar com base no
direito natural ou talvez alicerçado nas lendas ou mitos. No entanto, invocar o direito natural não embasa nenhuma justificativa plausível nesse sentido. o Legislador do direito natural não institui a exploração, mas a justiça!
PENSEM!!
Não culpem a democracia em vão. Vigiem-na de dia e
de noite sempre. Não descuidem nunca, não vacilem jamais! Embora tenha
defeitos, erros e interpretações privadas, a herança dos gregos, ainda é o
melhor regime para nele se viver. É o único que privilegia a liberdade!
Desconfiem de homens de palavras desconcertantes que nada consertam, quase
sempre, nem a si mesmo. De palavras supostamente novas com argumentos velhos,
retrógados, antigos demais, gritados aos ouvidos cegos, sem lastros morais nem
sustentações filosóficas. São apenas sussurros alucinógenos represados nos
labirintos cavernosos da teoria da conspiração. Abominem tais homens porque
eles são fraudes renováveis!
No País dos sábios venais, solidários nas causas de
fórum íntimo da súcia, os tribunais precisam de um antídoto para combater as
toxinas que estão os levando à morte.
Governo que arrecada do povo e não devolve a
esse mesmo povo o que arrecadou com justiça social, considere-o uma
sanguessuga, um parasita que morrerá, certamente, na eternidade.
Quando as Leis do País passam a ser violentadas para
atender interesses escusos de grupos diversos, o cidadão se cala, o direito
míngua, juízes se tornam cambistas, tribunais balcões de negócios, a desgraça
assume a justiça. Nesse tempo, a garganta da injustiça se alarga, pobres e
miseráveis caminham sob o azorrague ardido para se encontrarem com a limpeza
sanitária. No entanto, ainda não é o fim!
João Pessoa – PB, 22 de abril de 2020
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