E Tudo Vem A Ser Nada Tanta riqueza inserida Por tanta gente orgulhosa Se julgando poderosa No curto espaço da vida Oh! Que ideia perdida Oh! Que mente tão errada Dessa gente que enlevada Nessa fingida grandeza Junta montões de riqueza E tudo vem a ser nada Vemos um rico pomposo Afetando gravidade Ali só reina bondade Nesse mortal orgulhoso Quer se fazer caprichoso Vive de venta inchada Sua cara empantufada Só apresenta denodos Tem esses inchaços todos E tudo vem a ser nada Trabalha o homem, peleja Mesmo a ponto de morrer É somente para ter Que ele se esmoreja Às vezes chove troveja E ele nessa enredada Alguns se põem na estrada À lama, ao sol ao chuveiro Ajuntam muito dinheiro E tudo vem a ser nada. Temos palácios pomposos Dos grandes imperadores, Ministros e senadores E mais vultos majestosos: Temos papas virtuosos De uma vida regrada Temos também a espada De soberbos generais Comandantes, marechais E tudo vêm a ser nada. Honra, grandeza, brazões Entusiasmos, bondades São completas vaidades São perfeitas ilusões Argumentos, discussões Algazarra, palavrada Sinagoga, caçoada Murmúrios, tricas, censura Muito tem a criatura E tudo vem a ser nada. Vai tudo numa carreira Envelhece a mocidade A avareza e a vaidade E quer queira ou não queira Tudo se torna em poeira Cá nesta vida cansada É uma lei promulgada Que vem pela mão divina O dever assim destina E tudo vem a ser nada Formosuras e ilusões Passatempos e prazeres Mandatos, altos poderes De distintos figurões Cantilenas de salões E festa engalanada Virgem donzela enfeitada No goso de namorar Mancebos a flautear E tudo vem a ser nada. Lascivas, depravações Na imoral petulância São enlevos da infância São infames corrupções São fingidas seduções Que faz a dama enfeitada Influi-se a rapaziada Velhos também de permeio E vivem nesse paleio E tudo vem a ser nada. Bailes, teatros, festins Comédia, drama, assembleia Clube, liceu, epopeia Todos aguardam seus fins Flores, relvas e jardins Festas com grande zuada Oiteiro e campinada Frondam copam e florescem Brilha, luzem, resplandecem E tudo vem a ser nada. O homem se julga honrado Repleto de garantia De brasões e fidalguia É ele considerado Mas quanto está enganado Nesta ilusória pousada Cá nesta breve morada Não vemos nada imortal Temos um ponto final E tudo vem a ser nada Tudo quanto se divisa Neste cruento torrão As árvores, a criação Tudo enfim se finaliza Até mesmo a própria brisa Soprando a terra escarpada Com força descompassada Se transformando em tufão Deita pau rola no chão E tudo vem a ser nada. Infindo, só temos Deus Senhor de toda grandeza Dos céus e da natureza De todos os mundos seus Do Brasil, dos Europeus Da terra toda englobada Até mesmo da manada Que vemos no arrebol Nuvem, lua estrela e sol Tudo mais vem a ser nada. FIM |
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