A enxergo, porém, não a vejo,
No entanto, a sua existência
Sofre fatal influência,
Que chega a falta-lhe pejo.
Nos olhares o desejo
Do conquistador ferrenho,
Na boca dela um desenho
D'uma coração sedutor:
Eu não tenho o seu amor,
Mas amo o amor qu'eu tenho.
De fato, a sua beleza
Estimula, atrai, encanta,
Causa síncope até espanta
O olho sem delicadeza,
Qu'eivado de frivoleza
Fere o rosto, muda o cenho
Mesmo assim eu me contenho,
Lembrando da minha flor:
Eu não tenho o seu amor,
Mas amo o amor qu'eu tenho.
As curvas insinuantes
Presas a veste, sem crimes,
Porém, os alvos sublimes
Desconfortam os semblantes.
Sussurros desconcertantes
Vêm atordoar o engenho,
Mas estóico me mantenho
Conforme a Lei do Senhor:
Eu não tenho o seu amor,
Mas amo o amor Qu'eu tenho.
Rosto suave e bonito
Sabe que o menos é mais
Pois, não se excede jamais
Já que o encanto é finito,
Às vezes, um veranito
Com seu fraco desempenho,
Mas ao respeito me atenho
Para não fender a dor:
Eu não tenho o seu amor,
Mas amo o amor Qu'eu tenho.