Ao tornar-se
rei em Bugias, Goisfridus, quis mostrar aos Bugienses que o seu reinado seria
de transformações. As velhas novas práticas dos antigos monarcas não seriam mais
toleradas, mas aperfeiçoadas para alcançar a prosperidade e modernização do
reino. Os novos tempos deveriam ser celebrados e seu nome cultuado como
entidade suprema pelos súditos. Não haveria mais guerras contra reinos
estrangeiros nem usaria seus exércitos para escravizar outros povos. Todo “esforço”
deveria ser voltado para o povo de Bugias e, para demonstrar que haveria suculentos
avanços, mandou enfeitar a ruas do reino da cor sem cor conforme as leis da
física, com insígnias sublimadas dos atributos reais do novo Rei. Bugias era,
por assim dizer, um reino único. Suas maravilhas arquitetônicas, seus
monumentos, as marcas culturais dos primeiros povos, deveriam ser desfiguradas
para perderem a cor, o brilho e a forma.
Noutra
frente, essa bem mais delicada, o rei Goisfridus, investiu seus próprios esforços
para espalhar empáfia predatória contra as facções que o fizeram subir à
cadeira real. Numa ação forte e factual, investiu na desconstrução da imagem
dos reis predecessores, embora arquitetos da sua chegada ao trono, mas que em
época longínqua, era o ferrão e a presa! Nada que não seja possível nos
bastidores do poder! O tutor guardião das ações que lhe possibilitaram a gloria
deveria ser execrado da corte sem ser destruído, mas alimentado a doses
homeopáticas para servir de espeque aos possíveis impulsos frementes das
panelas contrárias a glória efetiva da progênie! O poder acima da hombridade! A
ganância precede o poder, mas não pressente os ventos da tempestade do futuro!
Porém,
assim, como em Bugias, no reino animal também ocorrem estratagemas
resinificadas, diferentes, mas com a mesma idiossincrasia à posse do poder.
As demarcações dos seus territórios feitas pelos animais dependem de lutas
ferrenhas, destrezas, ataque mortal, garras expostas e colmilhos afiados a mostra.
A força bruta, recurso natural dos animais à precipitação da vitória, dá as
mãos alegóricas ao vencedor, confraternizando-se! Mas por quanto tempo? O usurpador
torna-se senhor daquela área e espalha seus odores através de seus excrementos,
sua marca registrada, mídia social já muito consolidada na comunidade dos
animais para noticiar aos afoitos, que há agora no pedaço um novo líder. Um
novo rei! Sempre a espera de outro rei mais poderoso. Como dizias os antigos: ”a
história se repete”.
Assim, é no
meio político depois de jogadas surreais bem engendradas nos bastidores
envolvendo algumas dezenas de milhares da super moeda “o poder buginiano” valorizado
acima do ouro. Poder que confere melindres sonsos ao futuro senhor, que terá o
arbítrio de se quiser fazer o bem, porém, isto raramente acontece! Mas com
força suficientemente destrutiva para quando sentir vontade praticar o mal. Calígula
deu exemplo de como o poder pode. Esse monstro ao ver descoberto o pescoço de
sua amada mulher, expressou a seguinte lisonja: “Este belo pescoço será cortado
daqui a pouco, se eu mandar”. O novo Rei de Bugias agora dará as cartas para o jogo
que se inicia atirando farpas contaminadas de rancor e ódio que atraem adeptos,
os quais ajudam miseravelmente a construir e estabelecer um novo
reino sobre os crânios dos antigos, sem considerar que o povo não pesa o quanto
vale; já o ”Rei” não vale o quanto pesa!
João
Pessoa – PB, 09 de novembro de 2021
MÁRIO BENTO DE MORAIS
Suetônio: vida de Calígula - capitulo 33
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