terça-feira, 12 de outubro de 2021

A VERDADE E AS OBRAS

O espírito humano tem viva uma centelha da justiça divina, que desperta na existência e cresce sempre com as praticas de ações solidárias; porém, às vezes, os insucessos causados pelo vazio existencial trazem graves males psicossomáticos e geram hábitos perversivos que fazem cessar com o brilho da suprema verdade e da essência justa das obras.

 

Quando desnuda a palavra verdade

Assim como a fé sem as suas obras,

Não fazem monges em suas dobras

Nem logram a real fidelidade.

Fingem-se probas à realidade,

Porém, sem os méritos da virtude

Não alcançam a clara solicitude

Nem vive da natureza a substância,

Morrem-se na pobreza da ganância

Delinqüidas na plena ilicitude.

 

A justiça só existe se a verdade

Sempre permanecer insuportável;

O que mente se opõe desagradável

Invocando entrave à praticidade,

Tese morta que evoca nulidade,

Mas que tácita tange em meio à súcia

Que a esconde nos refolhos d’ astúcia

As intenções nefastas à decência

Movidas de avidez e incoerência

Que causa à verdade fatal excrucia.

 

A verdade no meio, às vezes, pena

Ásperos desdéns até da justiça,

Que por conluio surreal atiça

A empáfia sórdida que condena

E, por vezes, formidolosa cena

Colorem as manchetes dos jornais

Com acórdãos dos nobres tribunais

Que destroçam de vergonha os patrícios

Ao se exibirem fartura de indícios,

Nos processos cortesmente venais.


MÁRIO BENTO DE MORAIS

 

 


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