quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O PENSAMENTO VIVO DE ANIREVES


A primavera acabara de começar – as flores já estavam renascendo – era visível à alegria da flora terrestre. O campo que se envergonhara do verão ano passado voltou a embelezar-se, a vestir-se de dádivas nessa estação, justificando a sabedoria dos antigos: depois da tempestade a bonança.
Os que querem a paz lamentam: há se o mundo fosse sempre assim como as estações do ano!
Os que veem a paz dizem: não é o mundo, não, somos nós, restolhos secos prestes a inflamar-se e virar apenas cinzas.
Os orgulhosos nem cansados e nem fadigados do seu orgulho se curvam para alcançar a relva verde que se alimenta do orvalho da noite.  
Estas palavras, eu as guardei em minha memória, elas foram ditas na primavera do ano passado quando eu estive na ágora para ouvir o pensamento vivo de anireves, minha sábia preferida.
Este ano certamente, lá estarei para ouvi-la novamente.
Dizem que a cada primavera a sábia vai à ágora para discutir o presente, falar do passado e prever o futuro.
Mas, até chegar à próxima primavera, os dias dos meus dias serão lerdos, quase uma sombra, e eu um caniço seco sedento de justiça.
Por aqui os anciões ensinam que o pequeno pressente o grande: o córrego o rio e o rio o mar; assim, também, dizem eles, é a natureza dos homens.
Dizem ainda que o lavrador conhece bem a terra fértil, assim como os pássaros que voam acima dos montes conhecem o abrigo que os protege do caçador.
Conforme ensinam, dizem que: quando o homem caminha projeta uma sombra que se alimenta de outra que se arrasta lentamente; os anos cansados são sombra dos anos ligeiros, os quais ainda vivos não são compreensíveis.
Todo dia eu reflito sobre essas coisas.           













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