A
primavera acabara de começar – as flores já estavam renascendo – era visível à alegria
da flora terrestre. O campo que se envergonhara do verão ano passado voltou a embelezar-se,
a vestir-se de dádivas nessa estação, justificando a sabedoria dos antigos: depois
da tempestade a bonança.
Os
que querem a paz lamentam: há se o mundo fosse sempre assim como as estações
do ano!
Os
que veem a paz dizem: não é o mundo, não, somos nós, restolhos secos prestes a
inflamar-se e virar apenas cinzas.
Os
orgulhosos nem cansados e nem fadigados do seu orgulho se curvam para alcançar a
relva verde que se alimenta do orvalho da noite.
Estas
palavras, eu as guardei em minha memória, elas foram ditas na primavera do ano
passado quando eu estive na ágora para ouvir o pensamento vivo de anireves, minha sábia preferida.
Este
ano certamente, lá estarei para ouvi-la novamente.
Dizem
que a cada primavera a sábia vai à ágora para discutir o presente, falar do passado
e prever o futuro.
Mas,
até chegar à próxima primavera, os dias dos meus dias serão lerdos, quase uma
sombra, e eu um caniço seco sedento de justiça.
Por
aqui os anciões ensinam que o pequeno pressente o grande: o córrego o rio e o
rio o mar; assim, também, dizem eles, é a natureza dos homens.
Dizem
ainda que o lavrador conhece bem a terra fértil, assim como os pássaros que voam acima
dos montes conhecem o abrigo que os protege do caçador.
Conforme
ensinam, dizem que: quando o homem caminha projeta uma sombra que se alimenta
de outra que se arrasta lentamente; os anos cansados são sombra dos anos
ligeiros, os quais ainda vivos não são compreensíveis.
Todo
dia eu reflito sobre essas coisas.
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